Gloomy Sunday
Gloomy Sunday foi composta por um húngaro e teria levado centenas de pessoas a se matarem no século passado. Fez sucesso nos anos 1920, onde fala sobre uma pessoa com tendência suicida.
Você acredita que uma música pode ter a capacidade de levar uma pessoa a se matar? Uma suposta canção húngara da década de 1920 é considerada “incentivadora” de suicídios. Estima-se que mais de 100 casos em todo o mundo estariam ligados à melodia de Gloomy Sunday (Domingo Sombrio, na tradução livre). Um vídeo no YouTube diz que até a rede de televisão britânica BBC chegou a banir a execução dessa música durante 66 anos, ou seja, entre 1936 e 2002.
Detalhes sobre a criação da música estão envoltas em mistérios e incertezas. O autor da canção é o compositor húngaro Rezsõ Seress, que se suicidou em 13 de janeiro de 1968. Em seu obituário, o New York Times relatou que “Domingo Sombrio” tinha deixado o músico deprimido, porque ele temia nunca mais conseguir criar outra canção de sucesso. Algumas pessoas afirmam que a melodia foi inspirada no rompimento de Seress com uma amante, fato este que o teria motivado a se matar, anos depois.
A letra da música parte da perspectiva de uma pessoa que está contemplando o suicídio, acompanhada por uma melodia melancólica. “A morte não é um sonho, pois a eu estou acariciando. Com o último suspiro da minha alma, eu vou ver sua benção”, diz trecho da letra da canção.
Um artigo na revista americana Time Magazine, em 1936, lista uma onda de suicídios na Hungria que estariam supostamente ligados à canção. Um sapateiro teria citado a música em sua nota de suicídio e algumas pessoas teriam se afogado nas águas do rio Danúbio com a partitura em mãos. Os relatos de comportamento suicida não se limitaram à Hungria. Na década de 1930, o jornal norte-americano The New York Times informou sobre tentativas de suicídios nos EUA que estariam ligadas ao “Domingo Sombrio”.
Curiosamente, Gloomy Sunday foi um sucesso indiscutível na mesma época em que ocorreu a chamada Grande Depressão, que é considerado o pior e mais longo período de recessão econômica nos Estados Unidos e na Europa no século XX. Portanto, a relação entre a música e o aumento de casos de suicídio poderia ser apenas uma coincidência, tendo em vista que o momento de crise que assolava o mundo poderia ser o principal motivo para as pessoas se matarem.
Palavra de especialista
No entendimento do médico Maurício Leão de Rezende, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, uma música ou qualquer outra obra de arte não tem o poder de levar uma pessoa a tirar a própria vida. “O que induz o suicídio é um distúrbio psíquico subjacente [quando há um trama pessoal]”, afirma o especialista.
O médico considera, no entanto, que se a pessoa tiver um quadro depressivo grave, com a ideia de tirar a própria vida, uma música que reforça esse sentimento pode contribuir para a consumação do ato suicida. “Mas, é importante lembrar que a causa primária é o distúrbio depressivo”, reforça o psiquiatra.
Algumas correntes teóricas associam o caso na Hungria ao chamado “Efeito Werther”, um termo utilizado pelo sociólogo norte-americano David Phillips, em referência ao personagem de uma obra do alemão Goethe, publicada em 1774. O protagonista se suicida por conta de um amor frustrado. Em seguida, a Europa viveu uma onda de suicídios que teriam sido baseados no personagem Werther, do livro.
Maurício Leão explica que em determinadas épocas da história, sentimentos coletivos podem induzir certos comportamentos. No Romantismo, por exemplo, o suicídio era um elemento presente no movimento artístico, como uma solução para um amor não correspondido. Diante desse contexto, o número de suicídios aumentou na Europa, de acordo com o especialista.
Mesmo quando há transtorno psicológico, o médico destaca que a morte pode ser evitada. “É um fenômeno complexo, mas, hoje, sabe-se que qualquer distúrbio, se tratado, pode evitar o suicídio”, garante o psiquiatra.