História do Rock no Cinema | Jovem Guarda
Texto: Rober Machado
Colaboração: site Omelete
Momento Chanchada
Enquanto toda a história relatada nos artigos anteriores desta série acontecia, no Brasil a situação não era muito diferente: também tivemos o rock brasileiro presente nas telonas.
O primeiro grupo brasileiro a usar uma guitarra elétrica, Betinho e Seu Conjunto, também foi a primeira autêntica banda de rock a aparecer num filme.
Tocaram seu sucesso Enrolando o Rock em Absolutamente Certo, de Anselmo Duarte, em 1957. Era uma chanchada que, assim como as outras da época, trazia números musicais com cantores e grupos que estavam fazendo sucesso.
Essa prática, também presente nos filmes norte-americanos, continuou durante toda a década de 1960.
Da televisão para o cinema
Em 1965, foi criado um programa de televisão chamado Jovem Guarda, que apresentava grupos de iê-iê-iê, um rock suave voltado para os adolescentes, com letras românticas e descontraídas.
O programa era comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, que se tornaram os principais representantes desse período.
Aproveitando o sucesso do ritmo, foi lançado em 1966 o filme Na Onda do Iê-Iê-Iê, estrelado por Renato Aragão e Dedé Santana, com números musicais de Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Os Vips, Wanderley Cardoso, Leno & Lilian, entre outros.
Nesse mesmo ano, Jerry Adriani protagonizou o primeiro dos seus três filmes, Essa Gatinha é Minha, dirigido por Jece Valadão. No ano seguinte foram lançados Em Busca do Tesouro e Jerry, a Grande Parada, ambos de Carlos Alberto de Souza Barros.
O grupo Os Incríveis também estrelou um filme em 1967 chamado Os Incríveis Neste mundo Louco, dirigido por Brancato Júnior.
Filmes do Rei
Com o sucesso do programa de TV, Roberto Carlos ficou conhecido como o Rei da Jovem Guarda (hoje ele é somente o Rei). Mesmo já tendo participado de alguns filmes, como Alegria de Viver (1958), Agüenta o Rojão (1958) e Minha Sogra é da Polícia (1958), era hora de Roberto protagonizar seu próprio filme.
Em 1966 foi iniciada a produção de SSS Contra a Jovem Guarda, com roteiro de Jean-Claude Bernardet e Jô Soares e a direção de Luiz Sérgio Person, responsável por São Paulo S/A e O Caso dos Irmãos Naves.
Foram filmadas algumas imagens documentais do programa televisivo, mas o que seria o primeiro filme da Jovem Guarda não foi concluído por motivos até hoje não explicados.
Algumas dessas cenas estão presentes no documentário Person, que a apresentadora Marina Person fez sobre seu pai.
A base deste roteiro, com bandidos raptando Roberto Carlos após o programa da TV, foi aproveitada no que foi efetivamente seu primeiro longa como astro: Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, lançado em 1967.
A direção ficou a cargo de Roberto Farias, diretor do excelente Assalto ao Trem Pagador. No encontro entre os dois Robertos, ficaram estabelecidos alguns parâmetros para o roteiro: o Rei não poderia sofrer, não poderia amar e não poderia beijar.
Ou seja, nada dos requisitos básicos para a construção de um personagem. Para o roteiro, Roberto Farias teve que usar toda a sua imaginação para contornar esse problema e resolveu que o filme seria uma metalinguagem, um filme sobre um filme.
Na história, Roberto está fazendo um filme e é raptado por uma quadrilha internacional, liderada por José Lewgoy, o eterno vilão do cinema brasileiro.
Num ritmo que mistura as primeiras aventuras dos Beatles com James Bond, o filme ficou leve e divertido, misturando ação com números musicais.
Há cenas antológicas, como a de Roberto dentro de um carro pendurado por um guindaste e outra atravessando um túnel com um helicóptero.
Na trilha estão presentes Eu Sou Terrível, Quando, Por Isso Eu Corro Demais, De Que Vale Tudo Isso, Namoradinha de um Amigo Meu e outros sucessos.
Seu segundo filme foi lançado em 1970, Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa, também com roteiro e direção de Roberto Farias. O elenco reúne os três maiores astros da Jovem Guarda, Roberto, Erasmo e Wanderléia, além de José Lewgoy reprisando o papel de vilão.
No enredo, a Ternurinha compra uma estátua na qual está escondido um mapa com a localização de um diamante cor-de-rosa trazido por fenícios ao Brasil. Segue uma série de aventuras para resolver o mistério e fugir dos vilões, envolvendo até uma luta de espadas com samurais.
Filmado durante quase um ano, com locações no Brasil, Portugal, Israel e Japão foi outra produção de grande sucesso. Na trilha, temos As Curvas da Estrada de Santos e É Preciso Saber Viver, entre outras.
Em 1971, repetiu-se mais uma vez a parceria entre os dois Robertos com Roberto Carlos a 300 km Por Hora. Dessa vez Roberto interpreta um personagem, o mecânico Lalo, que trabalha numa revendedora e quer ser um piloto de corridas – sonho dividido com seu amigo Pedro Navalha (Erasmo Carlos), enquanto é apaixonado pela namorada de seu patrão (Raul Cortez).
O filme aproveitou para filmar as cenas de corrida durante a Copa Brasil, uma competição internacional ocorrida em Interlagos e vencida por Emerson Fittipaldi, que aparece rapidamente numa das cenas.
Esse é o único filme que Roberto não aparece cantando e suas músicas somente fazem parte da trilha sonora.
Mesmo tendo Todos Estão Surdos na abertura, a trilha já dá sinais do rumo da carreira de Roberto a partir daquele momento, como cantor romântico, deixando de lado o rock simples da Jovem Guarda. Roberto Carlos a 300 km Por Hora foi também o último filme do Rei.
Já o seu amigo de fé e irmão camarada Erasmo Carlos esteve presente em outras produções. Uma delas foi Agnaldo, Perigo à Vista, de 1969, que também contou com a participação de Eduardo Araújo e Wanderléia.
Também atou na comédia Os Machões, de 1972, dirigido por Reginaldo Farias, e no infantil O Cavalinho Azul, de 1984, com direção de Eduardo Escorel.