História do Rock no Cinema | Filmes Elvis Presley
Texto: Rober Machado
Colaboração: site Omelete
Começo de carreira
Num sábado, em meados de 1953, Elvis Aaron Presley foi até o estúdio da Sun Records em Memphis e gravou um disco com uma música de cada lado para presentear a sua mãe, pagando três dólares e noventa e oito centavos.
Depois disso, a história do rock nunca mais foi a mesma. Ele não era o melhor músico de sua época, mas era o cara certo no momento certo com a equipe certa e o empresário certo.
Ele tinha a voz negra e o rosto branco que as gravadoras estavam procurando, sabia muito bem escolher o seu repertório e seu empresário, o “Coronel” Tom Parker, sabia exatamente qual rumo dar à sua carreira.
Elvis fez a sua primeira gravação profissional em julho de 1954. Pouco tempo depois assinou o contrato com o “Coronel”, que ficava com 20% a 50% dos lucros.
Parker traçou um plano de divulgação que envolvia uma superexposição de Elvis na mídia. Na televisão, em 1956, apareceu pelo menos doze vezes em cadeia nacional, mas os censores proibiam que aparecesse da cintura para baixo devido aos requebrados de sua pélvis.
Segundo um jornal de Nova York, Elvis “não cantava nada, compensava a imperfeição vocal com uma estranha e francamente sugestiva dança de acasalamento aborígene”.
O cinema também era um ponto central na estratégia de Parker. Em 1956, Elvis estrelou seu primeiro filme. O título seria The Reno Brothers, mas foi alterado para Love me tender (no Brasil, Ama-me com ternura) para promover a canção de mesmo nome.
Depois deste, ocorreu uma enorme sucessão de filmes, de dois a três num mesmo ano. Entre 1956 e 1969, Elvis estrelou nada menos que 31 produções. Para Parker, o objetivo desses filmes era simples: vender discos, as trilhas sonoras.
Elvis, ao contrário, ambicionava uma carreira séria em Hollywood, algo independente da sua carreira musical. Os produtores, porém, não precisavam de um ator, mas sim do Rei do Rock.
Carreira de ator
O problema desses filmes é a chamada “Fórmula Elvis”, isto é, a maioria dos filmes possuía um enredo muito parecido.
Geralmente Elvis era um rapaz pobre, adorado pelas mulheres, envolvia-se em algumas brigas e cantava nas horas vagas. Mudava-se a profissão dos personagens e o cenário, mas o resto permanecia igual.
Mesmo assim, alguns filmes merecem destaque por ficarem acima da média como O prisioneiro do rock (Jailhouse Rock, 1957), talvez o seu melhor filme; Balada sangrenta (King Creole, 1958), dirigido por Michael Curtiz, o mesmo de Casablanca (1942); Feitiço havaiano (Blue Hawaii, 1961) e Amor a toda velocidade (Viva Las Vegas, 1964 ). Este último é considerado por muitos críticos a melhor interpretação de sua carreira.
Sem fazer turnês e gravando discos e filmes fracos, Elvis queria voltar aos palcos. O retorno foi anunciado com um especial de TV chamado Elvis ‘68 Comeback Special, em que ele voltava às suas raízes roqueiras cantando alguns de seus maiores sucessos. Mostrando-o como um artista maduro, é um dos pontos altos de sua trajetória.
Após o fim de sua carreira como ator, Elvis ainda apareceu em documentários no cinema. O primeiro foi Elvis era assim (That’s the way it is, 1970), registrando a sua volta aos palcos. Em 1972 foi lançado Elvis triunfal (Elvis on tour), mostrando cenas de bastidores e canções de uma turnê. Em 1973, realiza seu projeto mais ambicioso, a transmissão de um show das ilhas havaianas via satélite, chamado Elvis: Aloha From Hawaii. O concerto foi transmitido para o mundo todo e sua audiência superou a da chegada do homem à Lua.
Elvis chegou a receber uma proposta para atuar no filme Nasce uma estrela (A star is born, 1976), ao lado de Barbra Streisand. Seria o tão sonhado papel sério para dar outro rumo à sua carreira cinematográfica, mas o Coronel Tom Parker vetou o projeto porque o nome de Elvis não seria o primeiro a aparecer nos créditos. Marlon Brando, Neil Diamond e Mick Jagger foram cogitados para esse papel, que acabou ficando com Kris Kristofferson.
A vida do rei na tela
Em 1979, sua vida foi tema de um telefilme chamado Elvis não morreu (o original é apenas Elvis, mas o título brasileiro virou uma frase famosa por aqui), dirigido pelo mestre do terror John Carpenter e protagonizado por Kurt Russell.
Essa não foi a primeira nem a última vez que Russell esteve ligado ao Rei. Seu primeiro papel no cinema foi num filme de Elvis, de 1963, Loiras, morenas e ruivas (It happened at World´s Fair). Ele era um garotinho que chutava a canela de Elvis assim que saía do carro.
Essa mesma cena foi repetida em 3000 milhas para o inferno (3000 Miles to Graceland), de 2001: no começo do filme, aparece um garoto chutando a canela de Russell logo depois de sair de um carro vestido de Elvis para uma convenção de fãs em Las Vegas. Kurt Russell também fez a voz de Elvis em Forrest Gump (1994).
Outro documentário Elvis, o ídolo imortal (This is Elvis), de 1981, mistura cenas reais com outras recriadas em estúdio, abrangendo toda a sua vida. A produção teve consultoria do Coronel Tom Parker. Também foram realizados alguns filmes e minisséries para televisão, mas ainda falta um filme definitivo para o cinema.
O legado
Após a sua morte, em 1977, notou-se que Elvis Presley não era apenas um músico ou mito do rock. Ele se tornara um ícone de cultura pop. É difícil alguém não saber quem foi Elvis independente de conhecer suas músicas ou não. Faz parte do imaginário das pessoas.
Por isso, virou referência em centenas de filmes, citando-o diretamente ou até parodiando-o. Como essa é uma lista muito grande, vamos nos ater a alguns títulos mais interessantes.
Em Mystery train, dirigido por Jim Jarmusch em 1989, um casal de japoneses vai para os Estados Unidos visitar Memphis, onde todos parecem viver da lembrança de Elvis.
Os dois são obcecados pelos anos 50, onde a esposa adora Elvis e ele prefere Carl Perkins. A produção ainda traz a participação de alguns músicos como Screamin’ Jay Hawkins, Rufus Thomas, Tom Waits e Joe Strummer, guitarrista do The Clash.
Mystery Train é título de uma canção de Elvis de 1955, lançada originalmente em 1953 pelo grupo Jr. Parker & The Blue Flames (grupo no qual Jimi Hendrix viria a tocar dez anos mais tarde). Essa série de artigos voltará a falar de Jim Jarmusch mais adiante.
Em Amor à queima roupa (True Romance, 1993), o personagem de Christian Slater recebe conselhos do espírito de Elvis, interpretado por Val Kilmer, mas seu rosto não é focalizado nenhuma vez.
O roteiro é de Quentin Tarantino, que usou o dinheiro do trabalho para poder filmar Cães de Aluguel (1992).
Uma produção interessante de 1998 é Um estranho chamado Elvis (Finding Graceland), um road movie em que um jovem perturbado pela recente morte da esposa dá carona a um homem (Harvey Keitel) que diz ser o próprio Elvis, mesmo não sendo parecido com ele. Ele quer voltar para a sua casa, Graceland.
No caminho, passa num show de imitadores de personalidades e encontra Marilyn Monroe, vivida por Bridget Fonda. Um dos melhores momentos é quando Elvis sobe num palco e canta “Suspicious Mind“. Seja quem for esse Elvis, ele revela-se alguém capaz de compreender e apaziguar os problemas dos infelizes que andam pelas estradas.
Para finalizar, um filme no mínimo curioso, Bubba Ho-Tep, de 2002. Desta vez, o Rei é interpretado por outro ídolo do cinema: Bruce Campbell, o Ash da trilogia Evil Dead.
A premissa do filme é genial. No passado, Elvis trocou de identidade com um de seus imitadores, que acabou morrendo e todos acreditaram que foi o verdadeiro. O Rei vive agora num asilo para velhinhos, onde faz eventuais apresentações.
Seu melhor amigo, também morador do local, garante ser o presidente John Kennedy, pintado de negro pela CIA. Um dia descobrem uma maligna entidade egípcia que volta à vida e decide alimentar-se dos moradores da clínica. Os dois heróis geriátricos terão que impedir essa terrível ameaça. Infelizmente, o filme nunca foi lançado no Brasil.