História do Rock no Cinema | Filmes Sobre os anos 60
Texto: Rober Machado
Colaboração: site Omelete
Bandas
Começando por um filme de uma banda que não existiu: The Wonders – O sonho não acabou (That thing you do!). Em 1996, Tom Hanks escreveu, dirigiu e atuou nesse simpático retrato do sucesso de uma banda no início da década de 60, quando a ingenuidade das músicas era mais comum.
Os atores que formam a banda no filme tocaram juntos durante várias semanas antes das filmagens para poderem soar como uma banda verdadeira, mas a maioria das suas músicas foram dubladas por músicos profissionais. A canção “That Thing You Do!” foi indicada ao Oscar e até hoje pode ser ouvida nas rádios.
O compositor dessa música (e de outras da trilha) é Adam Schlesinger, da banda Fountains of Wayne. Tom Hanks também compôs músicas para a trilha.
Um outro filme que mostra o estrelato de uma cantora também fictícia é A Rosa (The Rose), dirigido por Mark Rydell em 1979, vagamente inspirado na carreira de Janis Joplin. O filme mostra a última turnê de Rose (interpretada por Bette Midler), que teve uma vida focada na famosa tríade sexo, drogas e rock and roll.
Isso, somado às pressões das diversas apresentações, leva a cantora à auto-destruição. A trilha sonora é original e foi composta para o filme sem canção alguma de Janis.
Mas nem tudo é ficção, como é o caso de The Doors. Dirigido por Oliver Stone em 1991, centra-se na história do carismático vocalista Jim Morrison. A produção sofreu várias críticas por não retratar fielmente alguns momentos da história da banda e mostrar Morrison somente vivendo no limite entre razão e loucura.
Ray Manzarek, o tecladista da banda, foi um dos maiores críticos e não ajudou na realização, ao contrário dos outros dois integrantes da trupe californiana, que até aparecem em pequenos papéis. Outros músicos também fazem pontas no filme, como Eric Burdon (The Animals), Billy Idol e Eagle Eye Cherry.
O que mais chama a atenção mesmo (e é um dos principais motivos para se ver a produção) é Val Kilmer, que “incorporou” Jim Morrison. Foi tão convincente que ninguém reclamou do fato de Kilmer ser bem mais alto que o antigo cantor.
Nas cenas em que aparece cantando é o próprio ator que está interpretando a música, tanto que os remanescentes da banda não souberam distinguir entre a voz do Kilmer e Morrison.
Uma curiosidade: entre vários atores cogitados para o papel estava o nome de Ian Astbury, o vocalista do The Cult e que esteve excursionando com Manzarek e Robbie Krieger como The Doors of the 21st Century.
Outra importante banda que está para ganhar uma cinebiografia é o The Who. Mike Myers está confirmado para o papel do malucaço baterista Keith Moon, mas novas notícias sobre esse projeto ainda não foram divulgadas.
Comportamento
Vários filmes retrataram a década de 60 e ter rock na trilha sonora é quase inevitável. Um dos primeiros foi Shampoo, de 1975, dirigido por Hal Ashby.
É uma história ambientada em 1968 sobre um cabeleireiro (Warren Beatty) que tem várias amantes e não se decide com qual ficar. Trata-se de uma sátira ao comportamento sexual da época. A trilha sonora foi composta por Paul Simon e também traz canções dos Beatles, Jimi Hendrix, Beach Boys e outros.
Um dos tipos característicos dos anos 60 é o hippie, aquela pessoa que levava uma vida simples seguindo o preceito da “paz e amor” – e, por falar em amor, praticava o amor livre – vivia em harmonia com a natureza e tinha a fama de não tomar banho.
Os hippies foram retratados no teatro num musical off-Broadway chamado Hair, em 1967. A peça obteve um grande sucesso mundial e foi encenada no Brasil no início da década de 70. A versão cinematográfica demorou para se concretizar, sendo lançada apenas em 1979, com direção de Milos Forman.
Conta a história de um jovem que sai do interior e vai para Nova York, onde encontra um grupo de hippies e ficam amigos, mas ele deve ir para o Vietnã. Fazem parte do musical as famosas canções “Aquarius” e “Let the Sunshine In”. Forman fez um belo filme, captando o espírito da época, o problema é que foi lançado quando o sonho dos hippies já havia acabado. Se lançado dez anos antes, seria o filme de uma geração, mas acabou ficando apenas como uma homenagem tardia.
O feminismo foi um movimento que marcou a década e algumas mulheres foram bem radicais nisso. Valerie Solanas era uma delas, mas também tinha vários problemas pessoais que a levaram a escrever um manifesto pregando a extinção dos homens.
Conheceu Andy Warhol e ficou obcecada com a ideia de que ele deveria produzir um roteiro dela. Como ele a ignorou, Valerie atirou no artista. Essa história é contada no filme Um tiro para Andy Warhol (I shot Andy Warhol), dirigido por Mary Harron em 1996. A trilha sonora tem uma verdadeira mistura de estilos: MC5, Joe Tex, Wilco, Dionne Warwick, REM, Luna, Lovin’ Spoonful, Stephen Malkmus, Yo La Tengo, Tom Jobim e Sergio Mendes.
Um outro filme que tem Andy Warhol como personagem está sendo produzido: Factory Girl. Conta a história de Edie Sedgwick, modelo protegida pelo artista que conviveu com o Velvet Underground e morreu de overdose em 1971. Lou Reed detonou o roteiro, dizendo que era “nojento”.
A banda Weezer anunciou que irá regravar “Heroin”, clássico do Velvet, para a trilha sonora.
Vietnã
Um fato histórico muito importante da década foi a Guerra do Vietnã, que refletiu bastante na sociedade e nas artes. Vários filmes abordaram a guerra e o rock é uma constante na trilha sonora destes filmes. Um que liga diretamente a guerra e a música é Bom dia, Vietnã (Good morning, Vietnam), de 1987.
Conta a história do radialista e militar Adrian Cronauer (Robin Williams) que traz humor e músicas de jovens para a rádio do exército americano. O verdadeiro Cronauer criticou muito o filme, afirmando que não retratava o que aconteceu e havia muita invenção no roteiro. Apesar de ser mais lembrado por “What a wonderful world”, de Louis Armstrong, o importante aqui é a programação da rádio, com canções de Bob Dylan, The Beach Boys, James Brown, Frankie Avalon & Annette Funicello (da Turma da Praia, comentado no artigo anterior) e várias outras pérolas pop da época.
Um dos primeiros filmes a retratar a Guerra do Vietnã (e talvez o melhor até hoje) foi Apocalipse Now, de 1979, dirigido por Francis Ford Coppola. Conta a história de um tenente que tem a missão de encontrar um coronel que enlouqueceu no meio da selva.
O antológico início ao som de “The End”, do The Doors, é um dos (vários) grandes momentos do filme. A canção retorna na seqüência final. Há uma cena no barco em que os soldados estão ouvindo a rádio do exército e toca “(I can’t get no) Satisfaction”, dos Rolling Stones. Também há “Suzie Q” na cena do show das coelhinhas da Playboy.
O grande diretor Stanley Kubrick também deu a sua visão sobre o conflito em Nascido para matar (Full metal jacket), de 1987. Na trilha sonora, os Rolling Stones também estavam presentes com “Paint It black”, além da banda The Trashmen com “Surfin’ Bird”.
Vários outros filmes sobre o Vietnã têm o rock em sua trilha sonora, para representar tanto o absurdo de uma guerra quanto o espírito de liberdade dos jovens da época. Como a lista iria longe, vamos ficar só com esses.
Maio de 68
Outro fato marcante da década foi o Maio de 68, em Paris. Este acontecimento foi abordado no filme Os Sonhadores (The Dreamers), dirigido por Bernardo Bertolucci em 2003.
O longa conta a história de três jovens cinéfilos (um americano e um casal de irmãos franceses) que ficam um mês dentro de um apartamento enquanto os distúrbios aconteciam nas ruas. Além de várias referências cinematográficas, o filme traça do comportamento da juventude e suas ideias.
O rock não poderia ficar de fora, há até uma discussão sobre quem seria o melhor guitarrista: Clapton ou Hendrix. A trilha sonora é marcante e tem nomes como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Bob Dylan, The Doors e Grateful Dead. Há também uma versão de “Hey Joe”, cantada pelo ator Michael Pitt.
No DVD tem videoclipe da música, provando que o ator, além de saber atuar, também sabe cantar. Michael Pitt também aparece atuando e cantando em outros filmes que serão abordados futuramente.