Filme dos anos 60
Rock no Cinema

Filme dos anos 60

História do Rock no Cinema |  Filmes dos anos 60

Texto: Rober Machado
Colaboração: site Omelete

 

Blow-up

Vamos dar uma geral nos principais filmes feitos durante a década de 60, que não foram abordados nos artigos anteriores, iniciando pela Inglaterra. Nesse artigo não serão abordados os documentários sobre festivais e concertos, isso fica para mais adiante.

Comecemos por um filme B, Dateline Diamonds, de 1965. História de uma rádio pirata que serve de fachada para contrabando de diamantes. Conta com a participação de Small FacesKiki Dee e outros.

Mas o principal destaque inglês é Blow Up – Depois Daquele Beijo, de 1966, do grande diretor italiano Michelangelo Antonioni. Narra a história de um fotógrafo que tira uma série de fotos num parque e quando as revela descobre que registrou um assassinato.

Há cena antológica quando o fotógrafo entra num show do Yardbirds. Nessa época, estavam na banda os guitarristas Jimmy Page e Jeff Beck. Essa cena é um dos raros registros em vídeo da banda com essa formação. No filme estão tocando “Stroll On” (na verdade uma versão de “Train Kept a Rolling”), o amplificador de Beck começa a dar um problema que o deixa tão irritado que ele acaba quebrando a sua guitarra.

Inicialmente, essa cena seria protagonizada pelo The Who, mas devido a uma discussão foram substituídos. Outro ponto interessante da produção é o retrato que faz da época, a chamada “Swinging London”, um período de efervescência cultural e comportamental que ocorreu na capital inglesa na década de 60.

"Surfin USA"

Indo para a mais famosa ex-colônia britânica, mais precisamente na Califórnia, vamos encontrar A Praia dos Amores (Beach Party), de 1963. Este foi o primeiro filme da Turma da Praia, um grupo de jovens que passa o tempo inteiro curtindo o mar, a areia, os carros e as garotas de biquíni.

Os personagens são caricaturas de certos tipos, como o loiro fortão e tapado, o atrapalhado, o rebelde motoqueiro; os protagonistas eram o casal Frankie Avalon e Annette Funicello. As ingênuas aventuras da Turma incluíam surfe, festas e azaração, além de números musicais, alguns interpretados por Frankie e Annette. 

Dick Dale participou nos primeiros filmes. Stevie Wonder aparece em outro deles. Típico produto da época, a Turma durou alguns anos e acabou esquecida pelo tempo.

Com o sucesso na época dos filmes da Turma da Praia, surgiram várias outras imitações dessa alegre patota. Assim como o original, eram produções de baixo orçamento com elenco desconhecido, com eventuais pequenas participações de antigos astros e muitas vezes com números musicais de bandas de segundo escalão.

Num desses, surgiu em 1964 o primeiro filme do subgênero rock-monster-movie: The Horror of Party Beach. Na história, a radiação cria monstros mutantes que atacam os adolescentes na praia. Trash total. A banda The Del-Aires toca algumas músicas, como “The Zombie Stomp”.

Como o assunto é surfe, não dá para deixar de falar nos Beach Boys. O líder da banda, Brian Wilson, teve pequenas participações em alguns filmes da Turma da Praia, mas os Beach Boys só apareceram tocando em “The Girls on the Beach”, de 1965.

Nesse caso, a canção-título era deles. Outra participação da banda foi numa produção da Disney chamada The Monkey’s Uncle, de 1965, com Annette Funicello.

The Monkees

Em setembro de 1966 foi ao ar o primeiro episódio de uma série de televisão sobre uma banda de rock: The Monkees. O seriado durou 58 episódios, até 1968, foi um grande sucesso.

Também foi produzido um filme em 1968, Os Monkees Estão Soltos (Head). A banda era inspirada nos Beatles e chegou a lançar discos com as músicas do seriado. Mas o problema é que os atores, que também eram músicos, pouco participavam dos discos, os produtores preferiam que músicos profissionais fizessem as gravações.

Uma curiosidade: o cantor Stephen Stills (do Buffalo Springfield e do Crosby, Stills, Nash & Young) seria um dos membros da banda, mas desistiu, indicando seu colega de quarto, Peter Tork, que foi aceito.

Velvet Underground and Nico and Andy Warhol

Durante a década de 60, Andy Warhol dirigiu dezenas de filmes experimentais, alguns duravam poucos minutos e outros até muitas horas, participações de celebridades era comum, inclusive músicos.

A banda Velvet Underground tem seu nome freqüentemente ligado ao papa da pop art, não só pelo famoso “disco da banana”, cuja capa foi criada por Warhol, mas por serem parte da Factory, o estúdio do artista. Alguns dos filmes de Warhol têm trilha sonora composta pela banda, muitas vezes apenas uma jam incidental, não somente as canções do grupo. O grupo aparece em Salvador Dalí e The Velvet Underground and Nico, ambos de 1966.

Nico, que integrou o Velvet na época do “disco da banana”, participou de vários filmes de Warhol, como Chelsea Girls e **** (ou Four Stars). Também fez uma pequena participação em 1960 como modelo em A Doce Vida (La Dolce Vita), de Federico Fellini, um dos mais importantes filmes do diretor e da história do cinema.

Trilhas sonoras

Outros filmes dos anos 60 são importantes não por ter algum músico ou banda no elenco, mas pela sua trilha sonora. Um deles é A primeira noite de um homem (The Graduate), de 1967, com Dustin Hoffman e Anne Bancroft. Parte da trilha foi composta por Simon & Garfunkel, incluindo músicas como “The Sounds of Silence” e o grande hit da dupla “Mrs. Robinson”.

O curioso é que a famosa canção não foi composta especialmente para o filme, era uma música que Paul Simon estava compondo em homenagem a Eleanor Roosevelt e se chamaria Mrs. Roosevelt, mas o diretor Mike Nichols resolveu incluí-la. Duas canções foram rejeitadas pelo diretor e apareceram posteriormente num álbum da dupla.

The Comitee, um obscuro filme de 1968, tem a trilha sonora composta pelo Pink Floyd. Outro filme com trilha dos ingleses é More, de 1969, com direção de Barbet Schroeder. O longa conta a história de um jovem alemão que se envolve com drogas durante o “verão do amor”. Como a banda deteve os direitos sobre as gravações, a trilha é facilmente encontrada na discografia do grupo.

A parceria entre Schroeder e Pink Floyd repetiu-se em 1972, no filme francês La Vallée, sobre uma francesa que viaja para Nova Guiné em busca de arte nativa. A banda lançou a trilha sonora no disco Obscured by Clouds. Mais filmes com Pink Floyd serão comentados posteriormente.

"Born To Be Wild"

Em 1969 foi realizada uma produção independente chamada Sem Destino (Easy Rider), um road movie sobre dois motoqueiros que, após faturar uma grana com um traficante, resolvem viajar até Nova Orleans para o Mardi Gras (o carnaval da região).

Os motoqueiros são interpretados por Peter Fonda e Dennis Hopper, sendo que os dois escreveram o roteiro (junto com Terry Southern) e Hopper assumiu a direção. O traficante é o lendário produtor musical Phil Spector, que trabalhou com BeatlesRamonesTina TurnerYoko Ono e muitos outros. Ultimamente, Spector tem freqüentado mais as páginas policiais dos jornais do que as musicais.

Jack Nicholson também participa e tem uma cena antológica na qual fuma maconha com os protagonistas. Segundo os atores, a erva era de verdade, por isso a cena ficou tão real.

Nicholson foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante; o roteiro também foi indicado. O filme concorreu à Palma de Ouro de Cannes e Dennis Hopper ganhou o prêmio de diretor estreante.

Um dos pontos mais importantes do filme é a sua trilha sonora, contendo The Band, The Byrds, Jimi Hendrix e alguns outros. Mas o maior legado do filme foi imortalizar a canção “Born To Be Wild”, do Steppenwolf, um verdadeiro hino do rock. Se hoje associamos essa música com dirigir uma moto numa estrada com total liberdade (e vice-versa), a culpa é de Easy Rider.

É o que pode se chamar de “filme de uma geração” e até hoje é idolatrado por muitos que gostam de pilotar grandes motos. Também é um retrato do movimento contracultural em voga na época, mostrando os personagens enfrentando o reacionarismo presente na sociedade americana. Com tudo isso, o filme tornou-se um clássico para a história do rock. Fundamental.

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