David Bowie
Rock no Cinema

David Bowie

História do Rock no Cinema |  David Bowie

Texto: Rober Machado
Colaboração: site Omelete

 

David, músico e ator

De Ziggy Stardust ao cult Labirinto: os melhores momentos do Camaleão do Rock no Cinema

Depois de Elvis PresleyDavid Bowie é o astro do rock com a carreira mais sólida no cinema. Diferente do Rei, que fazia variações da mesma história, Bowie optou por filmes muito diferentes entre si. Outra diferença está nos personagens.

Elvis sempre interpretava o mesmo papel, enquanto Bowie escolheu personagens que exigiam bastante de sua capacidade de ator. Um outro ponto é que Bowie teve uma carreira de ator dissociada de sua carreira de músico, já que aparece cantando em apenas alguns dos seus filmes. Por isso, vamos separar aqui essas duas facetas do Camaleão do Rock.

Bowie músico

Ziggy Stardust é o personagem mais conhecido de Bowie, gravou dois discos com essa persona. O último show da turnê de Aladdin Sane aconteceu no dia 3 de julho de 1973 e foi documentado por D. A. Pennebaker.

Antes da última música, Bowie anuncia que aquele não era somente o último show da turnê, mas também o último show que faria. Lógico que quem falava era Ziggy.

A declaração pegou de surpresa até os músicos da banda, que não sabiam dessa decisão. Ziggy Stardust and The Spiders From Mars já vale por esse registro histórico, mesmo que a qualidade da imagem não seja das melhores. Não só isso, mas é uma ótima apresentação de Bowie num grande momento de sua carreira.

Bowie faz uma pequena participação no filme Christiane F., famosa história de uma garota alemã de 13 anos que se vicia em drogas e se prostitui.

A jovem é fã do cantor e experimenta heroína pela primeira vez após um show dele. Bowie cedeu várias músicas para a trilha sonora.

Lançado em 1981, o filme foi um grande sucesso e chocou várias pessoas pelo seu enredo. Visto hoje, não tem o mesmo impacto.

Outro filme que Bowie aparece como ele mesmo é Zoolander, de 2001. Num desfile-competição, ninguém mais adequado para ser juiz do que o estiloso cantor. Uma brincadeira com a sua própria imagem pública.

A música de Bowie foi utilizada em mais de uma centena de filmes e vale destacar a trilogia sobre a América criada por Lars Von Trier, por enquanto com dois filmes: Dogville e Manderlay.

A canção “Young Americans” encerra as duas produções acompanhada de fotos da pobreza e dos excluídos da América.

Um efeito bonito, causa impacto e ganha a simpatia do espectador, mas é redundante com o restante do filme. Funciona melhor como videoclipe da música. Tudo leva a crer que a terceira parte, Wasington, não deve ser diferente.

When the Wind Blows é uma animação britânica de 1986, baseada numa história em quadrinhos, que conta a história de um casal de idosos após uma guerra nuclear. Bowie compôs a canção tema e a trilha sonora ainda tem Roger Waters e Genesis.

Bowie ator

Após pequenas pontas em alguns filmes britânicos, que até passam despercebidos, Bowie protagonizou O Homem que Caiu na Terra (The Man Who Fell to Earth), de 1976, dirigido por Nicolas Roeg.

É a história de um alienígena que chega à Terra com o intuito de levar água para seu planeta natal. Vende sua tecnologia para os terráqueos, monta uma grande companhia, fica rico e sucumbe aos prazeres humanos.

Bowie provou que também era um bom ator e foi realmente o início de sua carreira cinematográfica. O filme tem uma montagem que torna a história um pouco confusa, os personagens envelhecem (exceto o alienígena), no entanto os objetos e cenários parecem ser todos da mesma época.

Bowie compôs algumas músicas para o filme, mas elas não foram utilizadas. Fragmentos dessas músicas aparecem nos discos Station to Station e Low, que têm capas com imagens do filme.

A roupa do personagem principal foi criada pela mãe do Slash, o guitarrista do Guns N’ Roses.

Ainda na sua fase Berlim, Bowie estrelou o filme alemão Apenas um Gigolô (Schöner Gigolo, armer Gigolo), lançado em 1978 na Alemanha e ano seguinte no restante do mundo com o título Just a Gigolo.

Dirigido por David Hemmings, conta a história de um soldado após a Primeira Guerra Mundial que retorna a Berlim e não encontra emprego. Vai, então, trabalhar num bordel como gigolô.

A dona do lugar é interpretada por Marlene Dietrich, no último papel de sua carreira. O filme foi um grande fracasso de crítica e público. Algum tempo depois, Bowie reconheceu que era mesmo uma bomba.

Bowie compôs uma canção do filme, mas não a gravou. Marlene Dietrich canta Just a Gigolo, música popular da década de 20 que, posteriormente, foi um dos maiores sucessos da carreira solo de David Lee Roth, depois que saiu do Van Hallen.

Bowie voltou a protagonizar uma produção em 1983 e dessa vez foi um grande sucesso. Fome de Viver (The Hunger), dirigido por Tony Scott, foge das convenções conhecidas de histórias de vampiros, modernizando essas figuras míticas.

Essa proposta fica bem clara na primeira cena, na qual aparece o grupo Bauhaus tocando “Bela Lugosi’s Dead”. Temos vampiros que andam na luz do sol, uma explicação científica para alguém se tornar um vampiro, não há cruzes, alhos ou estacas que possam deter esses seres.

O longa-metragem carrega no erotismo como poucos filmes de vampiros e tira proveito da beleza de suas atrizes: Catherine Deneuve e Susan Sarandon. No enredo, Bowie é John, um humano que se tornou vampiro no século 18 com a promessa feita por Miriam (Deneuve) de que seria jovem eternamente.

O casal de vampiros permanece junto por duzentos anos até John perceber que está envelhecendo rapidamente. Apenas Miriam continua jovem e parte para conseguir uma nova companhia, a doutora Sarah (Sarandon).

O final difere do livro que deu origem ao roteiro e foi imposto pelo estúdio, o que desagradou o diretor e o elenco. Algumas cenas podem parecer um pouco datadas, com “cara de anos 80”, mas ainda é um ótimo filme, o melhor dirigido pelo menos talentoso dos irmãos Scott.

Bowie disse uma vez que para sua voz ficar rouca quando seu personagem tornava-se velho, toda noite ia numa ponte e cantava (gritando) todas as canções punk que conhecia.

Também lançado em 1983, Furyo – Em Nome da Honra (Merry Christmas, Mr. Lawrence), traz o melhor trabalho de Bowie como ator.

Dirigido por Nagisa Oshima, o enredo se desenvolve num campo japonês de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial, onde estão diversos oficiais das forças aliadas.

O filme ilustra as diferenças culturais entre ocidente e oriente através dos relacionamentos entre prisioneiros e japoneses.

Nos papéis principais, do lado ocidental temos Bowie e Tom Conti enquanto no lado oriental temos Takeshi Kitano (no seu primeiro filme apresentado fora do Japão) e o músico Ryuichi Sakamoto, também responsável pela trilha sonora.

Em 1985, Bowie participou de Um Romance Muito Perigoso (Into the Night), dirigido por John Landis. O filme é repleto de pequenas participações especiais.

No ano seguinte, Bowie esteve presente em dois filmes, nenhum foi bem de bilheteria.

O maior fracasso foi a produção inglesa Absolut Beginners, dirigido por Julian Temple, um musical sobre a vida em Londres no final dos anos 50, visto de uma maneira estilizada, nada realista.

Além de Bowie, que gravou a canção-título e mais algumas para a trilha sonora, o filme também tem participação da cantora Sade.

O outro filme é Labirinto – A Magia do Tempo (Labyrinth) que foi mal recebido no seu lançamento, mas ganhou muitos fãs ao longo dos anos. Produzido por George Lucas e dirigido por Jim Henson, o criador dos Muppets, é um musical infanto-juvenil que mistura atores e marionetes numa história de fantasia.

Bowie não só aparece cantando, mas também dançando! Ao todo são seis canções que refletem bem a fase pop de sua carreira.

Há uma pequena participação de Bowie no papel de Pôncio Pilatos em A Última Tentação de Cristo (The Last Temptation of Christ), dirigido por Martin Scorsese em 1988.

Os anos 90 não foram tão interessantes para a sua carreira de ator, o maior destaque é a interpretação de Andy Warhol que fez em Basquiat, em 1996.

Em Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk With Me), um filme que desagradou até os fãs da cultuada série, fez uma pequena ponta como agente do FBI.

Fora isso, os outros filmes dele nessa década são pouco conhecidos, como a comédia Romance Por Interesse (The Linguini Incident), que estrelou em 1991 ao lado Rosanna Arquette, o faroeste italiano Il Mio West, de 1998, o suspense Marcas da Violência (Everybody Loves Sunshine), de 1999, e O Segredo de Mr. Rice (Mr. Rice’s Secret), de 2000.

A volta de Bowie para um filme de destaque e a um bom papel ocorreu em 2006 na produção dirigida por Christopher Nolan O Grande Truque (The Prestige). Nele, o cantor interpreta Nikola Tesla, o único personagem real da trama. Um pequeno papel, mas vital para a trama, mostrando que Bowie ainda é um ótimo ator.

David Bowie, músico e ator
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