Crônica Caetano Veloso
Crônicas Musicais

Crônica Caetano Veloso

CAETANO VELOSO – o emissário da paz

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Tava doido pra assistir ao show que Caetano Veloso realizava no Minascentro em BH. Tinha um monte de gente na porta também batalhando por um ingresso 0800. Vi o poeta Waly Salomão (que na época gostava de ser chamado de Waly Saylormoon), ele fazia parte do show. Me aproximei:

— Olá Waly, beleza? Ele retribuiu o cumprimento.

— Dá pra descolar um convite? O poeta explicou que fazia parte da trupe mas não tinha poder pra resolver a parada. Apontou pra Dedé, que na época era mulher do Caetano, e falou:

— Ela pode pôr vocês pra dentro (estávamos eu e minha namorada).

Agradeci e logo dei um toque na Dedé que na maior boa nos levou pessoalmente à portaria e liberou nosso acesso. Dei nela um beijo de agradecimento.

Essa foi uma das muitas vezes que tive o prazer de assistir a uma das magníficas performances desse que atribuo como o maior expoente da Música Popular Brasileira de todos os tempos. Isso mesmo! Pixinguinha foi genial. Noel, um craque. Gonzagão, Jackson do Pandeiro, Dorival Caymmi, Tom Jobim, João Gilberto, Milton Nascimento, Os Mutantes, Gilberto Gil, Chico Buarque, Novos Baianos, Alceu Valença, Renato Russo, todos exuberantes, incríveis, cada qual com o seu sotaque, seu estilo, sua dicção, mas meu coração transborda de amor pela obra iluminada desse filho de Santo Amaro da Purificação: CAETANO VELOSO! — escrito em letras garrafais no jornal que leio.

São, segundo o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), 631 músicas registradas em seu nome. Não é mole! Como um sujeito pode compor esse extraordinário número de músicas e muitas delas verdadeiras pérolas — como Sampa, Alegria Alegria, Um Índio, Baby, Divino Maravilhoso, Reconvexo, Força Estranha, Beleza Pura, Como 2 e 2 — e mais uma enxurrada de canções inesquecíveis que pontuam e marcam a vida de milhares de pessoas? Tem que ter um algo mais, tem que ter muita luz, ser dotado da benção dos deuses pra manter uma incrível regularidade, no quesito qualidade, nessas mais de 600 composições.

E aí aparece o showman, o cara que domina os palcos como ninguém. Com seu jeito baiano de ser, sua elegante leveza e carismático poder de comunicação. Conquista plateias, não só no Brasil, mas pelo mundo afora. Trata-se de uma certeza: Caetano é hoje o cantor brasileiro mais conhecido e badalado internacionalmente. E o cara, que já fez 81 anos, mantém turnês com um pique que pode ser comparado ao de grandes estrelas de idade avançada, como Roger Waters e Paul McCartney.

Artista eclético, Caetano pode tanto surgir com uma quase simplória canção, Sozinho, que resgatou do baú do semidesconhecido Peninha, quanto lançar um álbum arrojado e experimental como Araçá Azul. Pode pescar belezas no cancioneiro latino-americano, Fina Estampa, ou mergulhar no universo felliniano, Omaggio a Federico e Giulietta, com dicção italiana. Transa, que considero um de seus melhores álbuns, está sendo revisitado agora através de shows que estão sendo apresentados em São Paulo. Detalhe importante: Jards Macalé, Tutty Moreno e Áureo de Souza que participaram da gravação do disco em 1972, acompanham Caetano no evento.

Falta falar do Caetano Veloso, cidadão, que passou por todas as tendências políticas e teve comportamentos os mais diversos, seguindo sempre sua própria bússola: a intuição. O artista, que foi um dos mentores da Tropicália, acabou sendo considerado subversivo pela ditadura. Foi preso, deportado, amargando o exílio em Londres. Depois tornou-se militante do desbunde, desafiou o machismo com suas investidas no campo do homoafeto. O cantor sempre posou de livre pensador, aquele que duvidava tanto da esquerda quanto da direita até que, por força das circunstâncias, tornou-se junto com Chico Buarque, uma da mais importantes vozes contra os desmandos do governo Bolsonaro. Declarou seu voto a Lula e passou a usar sua influência na defesa das causas humanistas e ambientais. Emissário da paz, recentemente foi recebido pelo Papa Francisco no Vaticano. Caetano entregou uma carta ao Pontífice pedindo orações e o apoio do Santo Padre contra a escalada da violência no Brasil, particularmente, na Bahia, onde os crimes contra a vida atingem índices alarmantes, sobretudo na periferia de Salvador.

Pra fechar, uma pérola: “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome.” (Frase inspirada no poeta russo Maiakovski)

Revisão: @HilarioRodrigues

Colaboração midiática: @Rodrigo_Chaves_de_Freitas

Para conhecer mais sobre a história do Rock’Roll, acesse:

https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/rock-roll/

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