ASA DE PAPEL – Café & Arte — o mundo podia ser assim
Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste
Começo este papo pegando carona na fala do compositor e arranjador André Baptista, autor das canções do longa O Segredo dos Diamantes (2014), de Helvécio Ratton, em evento realizado recentemente com a participação da compositora e cantora Titi Walter:
— Um espaço como a Asa deveria proliferar. Em cada bairro deveria haver uma Asa de Papel.
Pra quem não conhece, a ASA DE PAPEL — Café & Arte é um coletivo de artistas e amantes das artes que promove, num pequeno espaço (com capacidade para 30 pessoas) localizado no bairro de Santa Efigênia, em BH, exposições de artes plásticas, shows musicais, saraus poéticos, exibição de filmes, lançamentos de livros, bazares e várias outras atividades que envolvem a arte e a cultura. Além disso, é um ponto de encontro, onde quem for estará diante de pessoas de alto astral, dispostas a um bom bate-papo. A Asa se mantém através da contribuição mensal de cerca de 50 colaboradores e da arrecadação da venda de produtos ali comercializados. É tudo simples, dinâmico, objetivo. As coisas acontecem numa boa, sem burocracia, editais, licitações e outros entraves que acabam com a arte, a poesia e enchem o saco de qualquer um.
Enquanto o mundo se depara com infindáveis guerras regionais, conflitos que podem nos levar a uma apocalíptica 3ª Guerra Mundial, na Asa de Papel só dá beleza, acolhimento e cordialidade. Nesse mágico ambiente, as pessoas desconectam-se do mundo virtual, da ditadura dos celulares, para mergulharem no mundo real do olho no olho, do falar e ouvir, da troca de ideias e opiniões. O respeito mútuo é código aceito por todas (os), nada de ego trips e devaidades. A prepotência e a arrogância ficam do lado de fora. Dentro da Asa afloram as qualidades humanas, a solidariedade, a tolerância, a brodagem. Por isso é que nos seus 9 anos de existência, nunca rolou uma briga, um arranca-toco, um quiprocó na Asa de Papel.
No local onde hoje funciona a Asa, existia a livraria do Álvaro Gentil, a gentileza em pessoa, diga-se de passagem. Por várias razões, ele resolveu fechar o comércio. Aí entrou em cena o mentor da Asa de Papel, o multiartista Marcelo Xavier, que lançou a ideia de pegar o espaço e transformá-lo num lugar onde caberia todo mundo. O projeto vingou, um grupo assumiu as tarefas necessárias para a adequação do ambiente, tratou do contrato com o locador, cumpriu as formalidades legais e o sonho da Asa de Papel tornou-se realidade.
Poderia citar várias pessoas incríveis que de alguma maneira fazem da Asa esse lugar maravilhoso, porém seria uma lista enorme. Mas, por uma questão de justiça, vou citar, além do Marcelo Xavier, o Renato Machado. Um cara que, com o seu jeito maneiro, discreto e eficiente, cuida de todo processo funcional do coletivo: administra a grana, faz a pauta e agenda de eventos e é pau pra toda obra, carregando mesas e cadeiras daqui pra ali numa disposição que não tem igual. Os outros participantes do grupo, a sua maneira, contribuem somando forças para que a Asa permaneça sempre aberta.
E é legal pensar que a Asa é completamente independente, não tem o rabo preso com ninguém, não depende de verbas ou recursos públicos e privados. Essa autossuficiência garante a total liberdade de expressão, fazendo com que todas as manifestações sejam aceitas sem restrição. Por vocação e convicção, a Asa de Papel é um espaço onde a democracia prevalece, por isso eu digo e repito: o mundo podia ser assim!
Pitacos e foto: João Diniz
Revisão: Hilário Rodrigues
Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas
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