História do Rock no Cinema | Carreira solo dos Beatles
Texto: Rober Machado
Colaboração: site Omelete
I just believe in Yoko and me
A carreira solo de John Lennon no cinema começou quando ele ainda estava na banda. Ele foi um dos protagonistas de How I won the war, dirigido por Richard Lester em 1967, uma comédia sobre a Segunda Guerra.
Foi nessa época que ele pensou pela primeira vez em sair da banda. Entre 1968 e 1971, produziu vários curtas em parceira com Yoko Ono – como era de se esperar, todos podem ser classificados como experimentais.
Um deles que mostra apenas o sorriso de John, Smile; outro com uma mosca sobre um corpo nu de mulher, Fly; um em câmera lenta mostrando uma ereção de John, Self portrait; e outros também de caráter experimental.
Fora os curtas, há produções como o famoso Honeymoon, de 1969, mostrando várias entrevistas do casal numa cama de hotel promovendo a paz.
Para a televisão austríaca, escreveram e dirigiram Rape, filme sem diálogos sobre o estupro de uma garota. Imagine, de 1973, um filme surrealista, meio documentário, meio ficção, mostra um dia da vida de John e Yoko, além trazer a famosa canção de mesmo nome.
George Harrison também aparece no filme. Imagine também é o título de um documentário de bastante sucesso de 1988 sobre a vida de Lennon, com imagens desde os Beatles até algumas gravações caseiras.
Live and let die
Enquanto estava nos Beatles, Paul McCartney contribuiu para a trilha sonora do filme The family way, de 1966. Após o fim da banda, Paul teve uma carreira musical de grande sucesso, mas pouco ligada ao cinema em comparação a seus ex-parceiros.
A melhor música de sua carreira solo, entretanto, foi feita de encomenda para um filme de James Bond, Viva e deixe morrer (Live and let die), de 1973. Foi a primeira vez que uma canção de rock foi utilizada como tema de 007.
Em 1984, Paul escreveu e estrelou um filme chamado Mande lembranças para Broad Street (Give my regards to Broad Street), que contava também com a presença de Ringo Starr. No enredo, Paul tinha a fita mestre do seu último disco roubada e, enquanto os personagens procuravam pela tal fita, era feita uma série de rearranjos para suas músicas – tanto da sua carreira solo quanto dos tempos dos Beatles. Foi um tremendo fiasco.
Fora isso, existem vídeos de suas turnês e shows, merecendo destaque Get back, dirigido por Richard Lester, com a turnê de 89/90 e Live at Cavern Club, de 1999. Neste último, Paul volta ao lendário clube da origem dos Beatles para tocar músicas que ouvia quando era jovem e algumas novas no mesmo estilo, acompanhado por uma banda que incluía David Gilmour (Pink Floyd) e Ian Paice (Deep Purple).
Em 2002, Paul foi indicado ao Oscar pela canção tema de Vanilla Sky. A trilha sonora desse filme será comentada num artigo bem mais adiante nessa série.
My sweet lord
Em 1968, George Harrison foi convidado para fazer a trilha sonora do filme Wonderwall, sobre um velho professor que espiona a vizinha e acaba se envolvendo na sua vida.
A trilha, que conta com a participação de Eric Clapton e Ringo Starr, é o primeiro disco solo de um Beatle. O título serviu de inspiração para a mais famosa música da banda dos irmãos Gallagher. Raga, um documentário de 1971 sobre o músico indiano Ravi Shankar também conta com a presença de George.
Em 1971, organizou um show em benefício das vítimas da guerra em Bangladesh e teve a participação de Bob Dylan, Eric Clapton, Ringo Starr e Ravi Shankar, além do próprio George. Foi o primeiro concerto beneficente desse estilo. Um documentário foi lançado no ano seguinte, The Concert for Bangladesh e acaba de ser lançado em DVD por aqui.
George também foi produtor de cinema. Em 1979, fundou a Handmade Films e produziu diversos filmes. O primeiro foi A vida de Brian (Life of Brian), do Monty Python, inclusive George faz uma pequena ponta no filme. Outras produções que receberam elogios da crítica: Bandidos do tempo (Time bandits, 1981, de Terry Gillian, também do Monty Python), Mona Lisa (1986), Five corners (1987), Como fazer carreira em publicidade (How to get ahead in advertising, 1989).
Num dos filmes que produziu, Surpresa de Shanghai (Shangai Surprise), de 1986, George também compôs a trilha sonora e aparece cantando numa pequena cena. O filme, estrelado por Sean Penn e Madonna, é muito ruim. A produção foi indicada em diversas categorias do Framboesa de Ouro e Madonna ganhou o “prêmio” de pior atriz.
No, no song
A carreira de Ringo Starr como ator é bastante prolífica. Fora os filmes dos Beatles, seu primeiro foi Candy, em 1968, que tinha no elenco Marlon Brando, Richard Burton e Walter Matthau, entre outros. Ringo faz o papel de um jardineiro mexicano. Na trilha sonora há canções do Steppenwolf e The Byrds.
A participação de Ringo em papéis inusitados também é uma constante. Interpretou o Papa em Lisztomania, de 1975 (esse filme será comentado em outro artigo), Merlin em Son of Dracula, de 1974 (que também produziu), e faz o papel de Frank Zappa em 200 Motels, de 1971 (detalhe: o filme foi escrito e dirigido por Frank Zappa – também falaremos dele mais adiante).
Também fez alguns papéis sérios como em That’ll be the day, de 1973, sobre a classe operária britânica na década de 50. O filme teve uma continuação no ano seguinte e contou no elenco com Keith Moon, o louco baterista do The Who.
Um dos destaques da carreira de Ringo no cinema é a comédia O homem das cavernas (Caveman), de 1981. É a história de um homem das cavernas que ama a filha do chefe de uma tribo inimiga e sai pelo deserto atrás de seu amor, enfrentando várias aventuras, incluindo brigas com dinossauros (!). Seu melhor amigo é interpretado por Dennis Quaid.
All you need is cash
Depois do fim dos Beatles, as músicas da banda estiveram em muitos filmes, mas vamos destacar somente alguns. Para começar, uma paródia de 1978 da carreira da banda chamada The Rutles: all you need is cash, criada por Eric Idle, outro integrante do Monty Python. Contou com participações especiais de George Harrison, Mick Jagger, John Belushi, Dan Aykroyd e Bill Murray.
Também em 1978 foi realizada uma bomba com o título Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, um estrondoso fracasso de público e crítica, considerado um dos piores filmes já feitos. Teve a produção musical de George Martin, o “quinto beatle”, mas nem isso salvou o filme. Tem uma história vagamente inspirada nas canções dos Beatles, com uma certa atenção ao álbum homônimo da banda. Nos papéis principais estão Peter Frampton e os integrantes dos Bee Gees (?!). Também participaram Aerosmith, Alice Cooper e Earth, Wind & Fire. No final, no fundo de uma cena, aparecem Paul e George.
Das trilhas sonoras com canções dos Beatles, uma das mais interessantes é a Uma lição de amor (I Am Sam), de 2001. Sean Penn queria que a trilha tivesse somente músicas da banda, mas não conseguiu os direitos, então pediu para grupos atuais gravarem covers das canções. Entre outros, participaram Black Crowes, Eddie Vedder, Nick Cave, Aimee Mann, The Vines e Grandaddy. Do filme, fora a trilha, só se salva a interpretação de Sean Penn.
Mas não dá para terminar de falar dos Beatles, sem citar um clássico dos anos 80: Curtindo a vida adoidado (Ferris Bueller’s Day Off), de 1986, que tem como um dos pontos altos um desfile ao som de “Twist and Shout”.