Itinerância Bienal de São Paulo
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Itinerância Bienal de São Paulo

Em 2022, a itinerância da Bienal de São Paulo em Belo Horizonte trouxe às galerias do Palácio das Artes mais de 36 mil pessoas. A bem-sucedida parceria entre a Fundação Clóvis Salgado e a Fundação Bienal de São Paulo existe desde a primeira edição do programa de itinerâncias das exposições, em 2011, sendo a mais longa desde a criação da iniciativa.

Em 2024, a troca de experiências entre públicos e instituições ganha mais um capítulo com a chegada ao complexo cultural de 123 obras em um conjunto de 39 séries, criadas por mais de 20 artistas, e que estiveram na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível no segundo semestre de 2023.

O Palácio das Artes receberá uma seleção, especialmente pensada para a capital mineira, da curadoria feita por Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel. A exposição acontece de 21/6 (sexta-feira) a 15/9 (domingo), na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, nas Galerias Arlinda Corrêa Lima, Genesco Murta e Mari’Stella Tristão e, pela primeira vez, no Hall de Entrada do Palácio das Artes, com entrada totalmente gratuita.

Em destaque, as afromineiridades, os trabalhos de artistas mulheres e a potência do cinema yanomami e das artes visuais do povo Tukano. A abertura da exposição acontece em 20/6 (quinta-feira), e vai contar com uma apresentação do grupo fluminense de percussão Tambores de Aço.

Belo Horizonte é uma das 14 cidades (três delas no exterior) a receberem a itinerância da Bienal em 2024. A capital mineira vai sediar uma das maiores exposições realizadas fora do Pavilhão da Bienal de São Paulo no Ibirapuera, em sintonia com o eixo curatorial “Mundo mundo vasto mundo”, elaborado pela Gerência de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado com base no poema “Sete Faces”, de Carlos Drummond de Andrade, e que propõe um olhar “de fora para dentro”.

Na ocupação, criações dos seguintes artistas e coletivos nacionais e internacionais: Ahlam Shibli; Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami; Amos Gitaï; Anna Boghiguian; Dayanita Singh; Eustáquio Neves; Gabriel Gentil Tukano; Geraldine Javier; Katherine Dunham; Luana Vitra; Luiz de Abreu; Maya Deren; Min Tanaka e François Pain; Morzaniel Ɨramari; Ricardo Aleixo; Rommulo Vieira Conceição; Rosa Gauditano; Rosana Paulino; Sammy Baloji; Sonia Gomes; e Zumví Arquivo Afro Fotográfico.

A ocupação conta com recursos de acessibilidade para a fruição de pessoas com deficiência, incluindo audioguia e vídeos com interpretação em Libras, textos e identidade visual em fonte ampliada e Braille, mapa tátil na expografia e interação com utilização de luvas durante as visitas mediadas

Arte, substantivo feminino – Um dos destaques da curadoria da 35ª Bienal de São Paulo é o numeroso contingente de artistas mulheres, que somam quase metade das participações. A itinerância em Belo Horizonte reforça esta presença feminina equilibrada na ocupação, trazendo desde nomes consagrados do século XX, como as multiartistas Maya Deren e Katherine Dunham, até criadoras ainda ativas cujos trabalhos no campo da arte contemporânea têm sido cada vez mais reconhecidos ao redor do mundo, caso da fotógrafa Dayanita Singh e das artistas visuais Anna Boghiguian e Geraldine Javier.

A seleção da Bienal e de sua itinerância na capital mineira também destacam o trabalho de artistas brasileiras cujas temáticas dialogam de forma consistente com discussões sociopolíticas da atualidade. É o caso da fotógrafa Rosa Gauditano, que registrou e celebrou, na década de 1970, a resistência lésbica no coração da metrópole paulistana, e também da artista visual Rosana Paulino, que conversa com questões sociais, étnicas e de gênero, com foco especial nas mulheres negras na sociedade brasileira e na liberdade sexual.

Uiara Azevedo, Gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, ressalta o quanto é importante reconhecer o trabalho de mulheres artistas ainda atuantes, assim como daquelas que já pertencem a um cânone cada vez mais diverso. “A Rosa Gauditano já participou de inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil, Inglaterra, França, México, Itália, Estados Unidos e China, enquanto a Rosana Paulino teve obras expostas na Bienal de Veneza e está com trabalhos no Malba [Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, um dos mais importantes do continente].

Então é motivo de muita felicidade para a Fundação Clóvis Salgado poder reforçar o laço institucional com a Fundação Bienal de São Paulo, exaltando especialmente artistas desta magnitude que ainda estão conosco e podem ter essa celebração em vida, ao mesmo tempo em que viabilizamos a construção de um cânone artístico que inclua as grandes mulheres criadoras de arte do passado”, afirma Uiara.

Coreografias que desafiam divisas – A “35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível” abre amplo espaço também para as complexidades e urgências do mundo contemporâneo ao abordar transformações sociais, políticas e culturais.

A curadoria busca tensionar os espaços entre o possível e o impossível, o visível e o invisível, o real e o imaginário, dando voz a diversas questões e perspectivas de maneira poética. A coreografia, entendida como um conjunto de movimentos centrados no corpo que desafia limites, considera diversas trajetórias e áreas de atuação, o que cria estratégias para enfrentar desafios institucionais e curatoriais.

Para os curadores, sempre foi crucial que a exposição alcançasse outras cidades além de São Paulo. Segundo eles, “os debates propostos pela 35ª Bienal atravessam inúmeros territórios de todo o mundo; assim, que as coreografias do impossível não estejam restritas ao Pavilhão da Bienal é de extrema importância para o trabalho realizado”.

Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, enfatiza a importância não apenas de levar as “coreografias do impossível” para um público mais amplo, mas também de fortalecer os laços entre as instituições culturais: “Ao trazer a Bienal de São Paulo para Belo Horizonte, uma cidade com uma cena cultural tão pulsante, estamos não apenas fortalecendo as instituições culturais brasileiras, mas também tornando a arte e a cultura acessíveis a um público mais amplo.

Desde o início do programa de mostras itinerantes, quando da 29ª Bienal, o Palácio das Artes tem sido uma parada fundamental. A parceria com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, facilita a troca de experiências entre públicos e instituições. Isso contribui significativamente para a construção de uma sociedade mais inclusiva e culturalmente vibrante em todo o Brasil. Estamos entusiasmados com a oportunidade de continuar essa jornada e expandir nosso impacto cultural”, declara.

As afromineiridades ganham o mundo – Além do protagonismo feminino, a ocupação da Bienal de São Paulo no Palácio das Artes abre espaço para o talento de artistas oriundos de Minas Gerais, os quais agora têm suas obras expostas no maior complexo cultural do estado, fechando um ciclo que, além de elementos históricos e culturais mineiros, reafirma também as vivências e experiências afro-brasileiras.

Sonia Gomes, artista internacionalmente reconhecida pelas esculturas de grandes dimensões feitas com tecidos diversos, convida os/as espectadores/as a se mover, se deslocar, ver com o corpo suas criações, em uma dança com o objeto. As obras da mineira de Caetanópolis não são figurativas e, ainda assim, temas como raça, gênero e temporalidades surgem nas várias leituras críticas sobre seu trabalho.

Já o fotógrafo Eustáquio Neves, nascido em Juatuba e residente em Diamantina, desenvolve uma linguagem experimental marcada pela manipulação química de negativos e cópias, misturando fragmentos de diferentes imagens. Sua obra aborda a identidade e memória da população negra, a partir de contextos tão diversos como aqueles vividos por comunidades remanescentes de quilombos em Contagem e no Vale do Jequitinhonha durante as festividades em celebração a Nossa Senhora do Rosário.

No caso de Luana Vitra, a vinda de suas obras expostas na Bienal para o Palácio das Artes representa um feliz retorno. A artista, natural de Contagem, participou do Programa de Residência em Pesquisas Artísticas do Cefart entre 2018 e 2019, o que culminou em uma exposição nos Jardins Internos do Palácio das Artes.

Cinco anos mais tarde, Luana volta ao complexo com uma instalação que condensa boa parte de sua poética. A partir de eixos temáticos como os saberes e tecnologias afro-diaspóricas, os traumas do passado escravista da região de Ouro Preto (onde vive sua família) e o legado de séculos de economias extrativistas, a artista trabalha com itens como ferro, cobre, prata e pó de anil, construindo elementos figurativos como pássaros e setas, que apontam tanto para a cosmovisão afro-brasileira quanto para os efeitos da expansão econômica nos ecossistemas locais.

“O fato de ter crescido em Minas Gerais e ter um modo de ser com esse território influencia em muitos aspectos o meu trabalho. Um deles provém da vivência do sincretismo, das procissões e dos reinados. Minhas obras têm muito forte a presença de repetições, que são algo que eu espelho da ladainha, porque, para mim, a repetição é uma maneira de mover um milagre, também um modo de rezar. Então, quando eu retorno a uma forma, isso está sempre relacionado a uma maneira de encantar a matéria.

Minas Gerais também está profundamente entrelaçada em todas as minhas práticas porque foi aqui que eu criei a minha relação com o reino mineral, e sinto que o estado moldou o seu saber a partir da terra e dessa concentração natural que nos informa de muitas coisas. Esse movimento da obra ser apresentada fora de Minas Gerais, na Bienal, e depois ser partilhada aqui no estado com as pessoas que de fato compartilham dessa perspectiva de mundo é muito gratificante, pois é deixar que a própria terra olhe o que a terra produziu”, enfatiza a artista.

Para agendar visitas mediadas, envie um e-mail para:  agendamento.educativofcs@appa.art.br

Informações

Local

Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, Galerias Arlinda Corrêa Lima, Genesco Murta e Mari’Stella Tristão e Hall de Entrada do Palácio das Artes

Horário

De terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h, e aos domingos, das 17h às 21h

Classificação

Livre, exceto nas Galerias Mari’Stella Tristão (18 anos) e Arlinda Corrêa Lima (16 anos)

Endereço

Av. Afonso Pena, 1537 – centro, BH

Informações para o público

(31) 3236-7400

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