CRÔNICAS DA ERA DO ROCK – Por Rodrigo Leste – terceiro episódio.
GRAND FUNK RAILROAD e MC5
O ENCONTRO COM MARK FARNER — MC5 — ASSEMBLEIA INTERNACIONAL EM ANN ARBOR
Thomas Coy nos convidou para o almoço de comemoração do Dia de Ação de Graças, data muito festejada pelos americanos, na casa de seus pais. Encontramos uma família de classe média convencional, o pai e a mãe simpáticos e acolhedores. O exótico da situação fica por conta do filho, um cara com uma barbicha meio à la Ho Chi Min e o cabelo longo batendo quase na cintura, aparecer trazendo três brasileiros que mal falavam inglês. O almoço foi legal, cardápio americano com batatas, torta de alguma coisa, uma salada e o mais do que tradicional peru, o ponto alto da comemoração. Tom deve ter sido criado para ser um bom cidadão como seu pai. Tornar-se engenheiro mecânico, trabalhar nas montadoras de automóveis. Mas o sujeito, depois de concluir a High School, o Ensino Médio, deu uma quebrada de asa e foi trabalhar numa mera reformadora de pneus. Depois de ralar por quase dois anos, pediu as contas e, com o dinheiro que ajuntou metodicamente, alugou uma casa e fundou o jornal, Flint’s Barricade. Talvez Tom fizesse uns bicos, não sei, mas deu pra perceber que sua grande atividade era trabalhar pela revolução. Só que aí pintou um fato novo.
Certa vez Thomas Coy falou que o Barricade tinha alguns apoiadores, mas não citou nomes. Um belo dia ele traz a ótima notícia de que iríamos na manhã seguinte encontrar um desses mecenas, aliás, o maior deles: ninguém mais, ninguém menos do que Mark Farner, o famoso guitarrista e cantor do Grand Funk Railroad. Foi difícil acreditar! Logo Mark Farner que ocupava grande espaço em toda a mídia mundial e que vinha de uma temporada de grande sucesso na Europa coroada pelo megaconcerto realizado no Hyde Park em Londres. Uau!!!
Confesso que nunca ouvi muito o som do Grand Funk. Claro que ocupa lugar de destaque na cena musical. Pop rock com um baixo esperto fazendo dueto com a bateria e construindo a base que sustenta os riffs da guitarra de Mark e para os vocais que trazem letras singelas, mas populares. I’m Your Captain, Inside Looking Out, We Are an American Band ocuparam as paradas de sucessos e colocaram o grupo por algum tempo no mesmo plano dos Stones (isso mesmo!). Duro pra mim é pensar em outro trio que ouvi e ouço muito até hoje, chamado Cream, este sim produziu música de altíssima qualidade.
Voltando ao assunto, lá fomos nós no carro de Tom rumo à fazenda de Mark que ficava perto da cidade. Inclusive, o guitarrista também nasceu em Flint e vivia por ali. Com as pernas bambas entramos na varanda da fazenda onde fomos recebidos calorosamente por Mark, sua esposa e mais dois amigos. Sentamos em volta de uma mesa tomada por vários comprimidos de aparência lisérgica, talvez fosse LSD mesmo. Mark esbanjava simpatia e energia. Não era muito alto, mas tinha um porte atlético, olhos atentos, brilhantes, cabelos longos e umas costeletas que emoldurando seu rosto que tinha algo de irlandês. Batemos um papo rápido e fomos em caravana para o grande encontro que se realizaria na sede do Rainbow People’s Party, em Ann Arbor, Michigan. Este era um lugar sagrado pra nós, três brasileiros que se meteram em altas aventuras com o propósito de chegar na lendária casa que abrigava nossos maiores ídolos: o MC5 (grupo de rock revolucionário) e seu mentor, o poeta John Sinclair. É bom esclarecer aqui que o que nos levou a Michigan foi a música do MC5, o ícone da arte revolucionária; o caminho direto para a luta e a vitória através do swing e da rebeldia do rock. Enfim, estávamos no paraíso!
(Revisão: Hilário Rodrigues)
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