A curadoria do 15º FIT BH ficou a cargo de três profissionais com trajetórias bastante consolidadas em suas áreas de atuação: a atriz, curadora e diretora artística Andreia Duarte Figueiredo; o professor e pesquisador Marcos Alexandre; e a atriz, diretora e professora Yara de Novaes. A proposta da curadoria é trazer reflexões sobre as faces diversas e plurais dos “Brasis” e “Américas Latinas”. “Esta edição pretende refletir sobre a memória como um saber que posiciona a identidade e a luta, fortalecendo os movimentos negros, indígenas, femininos, transgêneros em uma discussão estética política”, destaca a curadoria.
Diversidade e descentralização
A 15ª edição do FIT BH traz a diversidade e a descentralização das produções teatrais como pontos fortes e de destaque da programação. Assim, ao lado de produções locais, espetáculos de estados como o Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, São Paulo e Paraíba, além de produções da Argentina, do Chile e do México.
A descentralização proposta pelo Festival também se dará nos locais de apresentação. O FIT BH 2022 ocupará espaços – entre teatros, ruas e locais alternativos – em diferentes regionais da capital mineira. Serão apresentados espetáculos, por exemplo, nos Grandes Teatros do Sesc Palladium e Palácio das Artes (Centro), no Viaduto Santa Tereza (Centro), no Teatro Raul Belém Machado (Alípio de Melo), nos Centros Culturais de Venda Nova e Padre Eustáquio, no Kilombo Manzo e na Praça do Cardoso, ambos no Aglomerado da Serra, além de espaços de Grupos como Pierrot Lunar, ZAP 18 e Galpão Cine Horto, entre outros.
Cortejo de Abertura
O tão aguardado retorno das atividades do FIT BH merece uma celebração à altura. Por isso, a abertura do Festival será marcada por um grande cortejo, que contará com a presença dos homenageados Conceição Evaristo e Ailton Krenak.
O desfile, gratuito e festivo, sairá da Praça Sete, em frente da Capela de Nossa Senhora do Rosário(no cruzamento da Avenida Amazonas com as ruas Tamoios e São Paulo), com destino final no baixio do Viaduto Santa Tereza, sob o comando dos multiartistas Maurício Tizumba e Marcelo Veronez. Integrarão o espetáculo de abertura tradicionais Blocos de Carnaval da cidade, além do Grupo Tambor Mineiro e das Guardas de Nossa Senhora do Rosário e da Irmandade Estrela do Oriente, reunindo em torno de 900 pessoas.
Homenagens
Em sua 15ª edição, o FIT BH reverencia tanto importantes nomes da cultura brasileira de repercussão internacional, quanto ícones da cena teatral da capital mineira. São eles: a escritora Conceição Evaristo, o escritor e líder indígena Ailton Krenak, o diretor e dramaturgo João das Neves, o cenógrafo e figurinista Raul Belém Machado e o fotógrafo Guto Muniz.
Conceição e Ailton, participam de uma Conversação com o público, no Teatro Francisco Nunes, mediada pela pesquisadora Elaisa de Sousa e pela escritora Júlia Onça, com intervenção artística do ator e diretor Lucas Costa. A proposta é apresentar um diálogo transversal com os homenageados, acerca de temas como terras, humanidades, enfrentamento das opressões e a vivência e permanência da ancestralidade em suas produções. Após esse evento, os dois homenageados participam também do Cortejo de abertura do FIT BH.
João das Neves ganhará uma Ocupação e Residência Artística e Conversação na Funarte-MG. Já Raul Belém Machado ganhará uma Imersão Criativa no Centro de Referência das Juventudes, sob a coordenação das encenadoras convidadas Marina Arthuzzi e Lira Ribas. A atividade contará também com acervo histórico de figurinos de Raul. Por fim, o fotógrafo Guto Muniz terá uma exposição itinerante com cenografia criada para área interna de um ônibus – dedicada aos seus 35 anos de trabalho com a fotografia de espetáculos, homenageando grupos teatrais da cidade.
Pensar o Brasil em sua diversidade
Com mais de 30 espetáculos em sua programação, o Festival apresentará ao público belorizontino um recorte singular da produção teatral brasileira contemporânea. Em destaque, os grupos Barca dos Corações Partidos (RJ) e Movimento Negro de Picadeiro (SP), a atriz, diretora e dramaturga Renata Carvalho (SP), a atriz Jéssica Teixeira (CE) e o ator Fábio Osório (BA), que trazem para Belo Horizonte suas mais recentes produções.
Tendo como ponto de partida o trágico incêndio do Museu Nacional (2018), a prestigiada Cia Brasileira de Movimento e Som – Barca dos Corações Partidos celebra uma década de existência com o espetáculo “Museu Nacional”, onde contam e cantam o inventário de um museu – que poderia ser a metáfora de um país – em escombros. “AnonimATO” é o primeiro espetáculo de rua da tradicional Cia. Mungunzá de Teatro. Numa espécie de cortejo que percorrerá 100 metros em linha reta, a montagem coloca em cena oito personagens para falar de pessoas anônimas que constituem a alma de uma cidade. Renata Carvalho apresenta “Manifesto Transpofágico”, um monólogo onde reflete sobre a construção social que permeia o imaginário sobre pessoas trans e travestis. Já Fábio Osório traz a performance “Bola de Fogo”, em que, transformado em baiana do acarajé, prepara e vende tanto o seu acarajé quanto a sua criação artística.
Um olhar descentralizado para a cena local
Ao todo, a programação do FIT BH 2022 contará com 20 espetáculos de companhias e artistas de Belo Horizonte e Região Metropolitana, entre produções prospectadas pela curadoria, convidadas e selecionadas a partir de um chamamento público. A diversidade e a descentralização também marcam o olhar do time curatorial para a cena local, tanto nas propostas e temáticas de cada apresentação, quanto nas áreas da atuação dos grupos e artistas realizadores.
Grupos de Teatro da capital marcam presença na programação do FIT BH 2022. Entre eles, Teatro Negro e Atitude, Grupo Galpão, Quatroloscinco e Oficcina Multimédia. O Teatro Negro e Atitude apresenta “À Sombra da Goiabeira”, uma história de rupturas na relação entre um “pai” e um “‘filho” – homens negros. Galpão apresenta o celebrado “Nós”, que marca o encontro do grupo com o diretor Márcio Abreu. Já o Quatroloscinco encena seu espetáculo mais recente, “Tragédia”, uma leitura contemporânea para “Antígona”, de Sófocles. O Grupo Oficcina Multimédia apresentará de maneira on-line as montagens “Aldebaran” e “Macquinária 21”, ambas integrantes da chamada “Trilogia da Crueldade”.
Grupos de destaque da cena belorizontina, Toda Deseo, Grupo Oriundo de Teatro e Divinas Tetas apresentarão no Festival suas montagens mais recentes, todas de 2022. Em “Trilogia de Traumas” o Toda Deseo apresenta a junção de três trabalhos solos de integrantes do grupo, construídos a partir de experiências autobiográficas de cada um dos artistas. O Grupo Oriundo de Teatro também traz um solo autobiográfico para a programação, com “Death Lay – na vida tem jeito pra tudo”, que reflete sobre o direito de viver e de morrer com dignidade no Brasil. Já “Ladeira a Bausch”, do Divinas Tetas, por meio das linguagens da palhaçaria, do teatro e do circo-cabaré, busca ampliar a visão da sociedade sobre questões envolvendo sexualidade e gênero.
Em cena: a América Latina
Quatro espetáculos internacionais completam a programação do FIT BH 2022. Essa é a oportunidade do público da capital mineira conferir produções estrangeiras com seus pontos de contato e de contraste em relação à nossa cena local e nacional de teatro. Nessa edição do Festival, todas as montagens convidadas são latino-americanas representantes do Chile, da Argentina e do México.
Da Argentina, o FIT BH recebe “Solilóquio”, um solo de Tiziano Cruz que discute como é se sentir imigrante dentro de sua própria terra – num olhar para os povos do norte da Argentina e a política de branqueamento do país. O espetáculo mexicano “Tijuana”, do grupo Lagartijas Tiradas al Sol, aborda a desigualdade social do país latinoamericano questionando: O que significa democracia no México para milhões de pessoas que vivem com salário mínimo?
Já o Chile integra a programação com dois espetáculos. “Fuego Rojo”, do Coletivo La Patogallina, que apresenta uma “América Latina em construção”, a partir de uma montagem teatral-circense inspirada no realismo fantástico, utilizando a manipulação de objetos e a música ao vivo para a criação de imagens poéticas. Já em transmissão on-line, o grupo chileno Kimvn Teatro apresenta “Trewa”. No espetáculo, o grupo de teatro documental traz um sensível olhar para três casos de violência contra a comunidade Mapuche no país.
Ações formativas
Além de uma importante plataforma para a exibição e difusão de espetáculos, o FIT BH tem como marca ser um espaço dedicado ao pensamento e ao debate acerca do fazer teatral. Uma série de ações formativas integram o chamado “Território dos Saberes” dessa edição. As atividades incluem Oficinas e Workshops, acerca de temas como Escuta Criativa, Dança Raiz e Corporeidades Negras e Teatro e Infância; uma Residência de Criação em homenagem a Raul Belém Machado, e uma série de Conversações multidisciplinares, com grupos e artistas, além de homenageados desta edição.
A Funarte MG receberá a “Ocupação João das Neves”, uma justa homenagem a um dos ícones do teatro mineiro. Entre os dias 7 e 10 de novembro, o espaço será tomado por uma programação composta por conversações temáticas e ocupação literária com exposições de livros. Permeando esses quatro dias de Ocupação, será realizada também uma Residência Artística imersiva em formato de laboratório de criação, com experimentações e trocas entre 6 propostas artísticas selecionadas através de inscrição prévia.
Exposição itinerante
Homenageado desta edição do FIT BH, o fotógrafo Guto Muniz contará com uma exposição itinerante registrando seus 35 anos de trabalhos dedicados ao teatro realizado em Belo Horizonte, em Minas Gerais e no Brasil. Em um ano onde importantes companhias de teatro de Belo Horizonte completam “datas cheias” de aniversário, a proposta dessa exposição é também prestar uma homenagem ao teatro de grupo da capital. A exposição será montada dentro de um ônibus que circulará pela cidade acompanhando a programação de espetáculos do evento.
Mostra de processos
Em reconhecimento à trajetória do teatro de grupo de Belo Horizonte, o FIT BH 2022 convida os grupos Cóccix Cia. Teatral, A Patela: Cia Provisória de Teatro, Teatro Olho Nu e Grupo Oficcina Multimédia para abrirem ao público os processos de criação de espetáculos que marcaram suas histórias ou que ainda estão em construção e ocuparão os palcos da cidade em breve. A Mostra de Processos ocorrerá entre os dias 7 e 11 de novembro em espaços como o Centro de Referência da Dança e o Cine Santa Tereza.
Mostra audiovisual
Um importante aprendizado da pandemia, quando os encontros presenciais foram interrompidos por tempo indeterminado, o uso do ambiente on-line como plataforma de exibição e discussão é também uma marca desta nova edição do FIT BH. Assim, o Festival contará com a Mostra Audiovisual Cena em Tela, no Cine Santa Tereza, com exibição de espetáculos do Grupo Oficcina Multimédia e dos chilenos do Kimvn Teatro, a Mostra será composta por peças teatrais, performances, documentários e curtas-metragens. As exibições gratuitas serão realizadas no site do Festival.
Em destaque, um bate-papo com Ione de Mendeiros encenadora, pianista, pesquisadora de teatro, curadora, produtora cultural e educadora brasileira; o documentário “Fabulosa Nickary Aycker”, sobre a artista, drag queen e atriz belorizontina, uma mulher travesti de 37 anos, preta, moradora da periferia e integrante de coletivos regionais; e a exibição dos projetos “Arqueologias do futuro” e “Futuros sobre telas”, do Museu dos Meninos, obras acerca das vidas de jovens negros da Favela do Amaré, produzidos pelos próprios artistas.
Histórico
Realizado pela primeira vez em 1994, o FIT BH alcançou, desde a primeira edição, uma excelente recepção junto à população belo-horizontina, indo ao encontro da forte vocação da cidade para o teatro de grupo e a experimentação artística. Sua importância para o cenário cultural da cidade foi reconhecida e, em 31 de janeiro de 2008, por meio da Lei 9.517, o festival foi instituído como evento oficial, passando a ser realizado bienalmente pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura. O Festival já trouxe a Belo Horizonte grupos e artistas de 45 países, contemplando produções de todos os continentes. Consolidado como um dos mais importantes festivais internacionais de teatro do país, valorizando a difusão, a formação, a reflexão e o intercâmbio culturais.
Em 29 de dezembro de 2004 foi sancionada a Lei 9.000, que institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural do município. Em 28 de outubro de 2014, o Teatro, o Teatro de Rua e o Teatro de Bonecos de Belo Horizonte foram certificados com registro de proteção de Bem Cultural Imaterial, por se tratar de manifestações culturais de relevante valor histórico, social e cultural para a cidade, conforme inventariado no dossiê elaborado pela Diretoria de Patrimônio Cultural / Fundação Municipal de Cultura. Em 2022, após a não realização do FITBH em 2020, em razão da pandemia, o evento retorna ancorado e balizado por estes marcos legais valorizando e repercutindo o teatro produzido em Belo Horizonte enaltecendo o seu papel enquanto patrimônio imaterial, trazendo a maioria dos espetáculos da programação geral como produções belo-horizontinas.
Para o FIT BH 2022, a Prefeitura tem como parceiro realizador o Instituto Odeon, selecionado por meio de chamamento público, que terá como parceiro na produção a Rubim Produções, empresa com extensa trajetória na área de artes cênicas.
SERVIÇO:
15º Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua de Belo Horizonte – FIT BH 2022
De 05 a 11 de novembro
Ingressos: Eventim e Sympla(em breve)
Informações:
www.portalbelohorizonte.com.br/fit
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