Vanguardas Artísticas | Expressionismo no teatro
Texto: Cristina Tolentino
cristolenttino@gmail.com
Filme: O GABINETE DO DR. CALIGARI, de R. WIENER
Cena do filme: M. O VAMPIRO, DE DÜSSELDORF (1931), de FRITZ LANG.
Referência teatral
No Teatro é importante assinalar os nomes de Reinhard J. Sorge, Carl Sternheim, Ernst Toller ( O Homem-massa estréia em 1921), Georg Kaiser, Frank Wedekind ( O Despertar da Primavera, A Caixa de Pandora).
Na primeira imagem à esquerda, cena da peça O homem-massa, de Ernst Toller (1921).
No Cinema, os filmes expressionistas vão trazer à tona esse mundo que se tornou tão permeável, que a todo momento parecem brotar, ao mesmo tempo, o espírito, a visão e os fantasmas; sem cessar, fatos exteriores se transformam em elementos interiores e incidentes psíquicos são exteriorizados: “resta-nos falar da fonte inesgotável de efeitos poéticos na Alemanha: o terror, as almas de outro mundo e os feiticeiros agradam tanto ao povo quanto aos homens esclarecidos”. (Madame de Stael)
Alguns diretores do cinema expressionista: Fritz Lang ( Metrópolis, A Morte Cansada, O Vampiro de Dusseldorf, O Testamento do Dr. Mabuse, Os Espiões, Os Nibelungos I e II); Robert Wiene (O Gabinete do Dr. Galigari, Genuine, A Tragédia do Gólgota); F. W. Murnau (Nosfertu, Fausto, Terra em ChamasFantasma, O Último Homem, Tartufo); Paul Wegener e Henrik Galeen ( O Golem); Stellan Rye ( O Estudante de Praga); Pabst (A Caixa de Pandora); Luper Pick ( A Noite de São Silvestre); Hans Kobe ( Torgus).
Universo expressionista no teatro e no cinema
O universo expressionista, tanto no teatro como no cinema, assegura expressividade máxima, atingindo diretamente o público, fazendo de cada elemento cênico, do ator, do cenário, da luz e da música, um “elemento de choque”, um elemento “que age”, portador do “grito da alma”. Eis o que povoa o universo expressionista no teatro e no cinema.
Uma reação violenta contra o realismo e o naturalismo, contra as aparências da realidade material, buscando “desnaturalizar a cena”, desembaraçar a cena de todo caráter descritivo, de toda imitação realista para exprimir aí “a essência do drama”, pelo jogo antinaturalista do ator, o simbolismo do objeto, da linha, da cor e da iluminação cênica.
Permitir ao espectador, não captar o lugar de uma ação, seu quadro, mas o “acontecimento”, a realidade profunda do drama.
Veja as principais características do expressionismo
Algumas características da linguagem expressionista: A nostalgia do claro-escuro (a cena será mantida ora na penumbra, ora riscada por feixes luminosos, ora animada por violentos contrastes, modificando-se as cores) e das sombras (projetar sombras sobrenaturais e aumentar a tensão patética), reflexos em espelhos deformantes, distorções, a luz e a escuridão desempenham o papel do ritmo e a cadência da música, a cor é uma tonalidade afetiva, pesada ou leve, triste e doce, mística e clara.
Escadas, corredores escuros e desertos, redução do espaço cênico ao essencial, jogar fora tudo que é decorativo, cenas que trabalhem com o “vazio”, espaço dinâmico, espaço rítmico, o cenário deve jogar “com”, o corpo do ator constrói o cenário.
Linguagem entrecortada, estilo telegráfico; frases curtas; exclamações breves; ampliação do sentido metafísico da palavra; expressões vagas; linguagem carregada de símbolos e metáforas; ligeira hesitação antes de pronunciar uma palavra; ênfase à “musicalidade da palavra”, independente de seu valor lógico e gramatical.
O ator expressionista representa fisicamente. O corpo humano, forma e volume, adapta-se ao estado de alma, tornando-se sua tradução plástica. Não se trata mais de encarnar este ou aquele personagem, de revelar situações, mas de traduzir estados de alma, de sublinhar as características fundamentais dos personagens e dos momentos essenciais da ação. Uma arte não de encarnação, mas de revelação.
Movimentos abruptos e ásperos; interrupção do movimento em pleno curso; distância dos modos naturalistas – “que o ator ouse estender o braço de maneira grandiosa e coloque todo seu enlevo declamatório numa frase, com decerto jamais faria na vida cotidiana; que não seja de forma nenhuma imitador”.
O ritmo de um grande gesto tem um caráter muito mais carregado de sentido e emoção que o comportamento natural. Movimentos entrecortados; deformação dos gestos e dos rostos; imagens impregnadas de atmosfera; gestos que não se concluem, bastando um esboço para indicar-lhe o sentido; seqüência de élans e de rupturas.