Topofilia é uma exposição que explora o espaço onde habitam as coisas. Expressa também a relação afetiva que estabelecemos com os lugares.
Este conceito tem origem na obra “A poética do Espaço” (1958) do Filósofo Gaston Bachelard que muito tem influenciado os estudos sobre a relação do sujeito com o ambiente em que vive, sobretudo na linha da Geografia Humanista.
O livro faz referências aos espaços remotos e recônditos que guardam nossas memórias mais antigas e secretas: a caverna, o ninho, a cabana, a casa, o sótão, o porão, as gavetas. Seguindo o pensamento deste autor, o modo de existirmos enquanto humanos consiste em tornar lugares inóspitos em lugares habitáveis. Existir é criar lugares e objetos que ofereçam a experiência da intimidade e de delimitação entre a imensidão e o acolhedor; entre o estranho e o familiar.
Historicamente a Arquitetura é a arte que mais tem se dedicado a criar as formas de solucionar essa necessidade humana: a casa é a primeira construção, é nosso canto do mundo, nosso primeiro universo. Dando um salto na História, o museu e a galeria se tornaram a “casa” para acolher o artista e a obra de arte. Do lugar que acolhe, surge o contexto para a circulação artística. E o campo da arte abrange complexas tramas onde as instâncias que a ela pertencem – artista, espectador, colecionador, curador, produtor e crítico – são inclinadas a fazer parte do jogo.
Para a Galeria Gilda Queiroz, que leva o nome da artista, galerista e integrante dessa exposição, a cada novo projeto é renovado o desafio de fazer da galeria uma “casa” acolhedora, alegre, afetiva e eficiente na função que lhe cabe. Assim, a aproximação, num espaço expositivo, de obras e de artistas tão distintos em sua técnica e estética como Breno Barbosa, Gilda Queiroz, Heloisa Brandão e Miguel Gontijo é o resultado do trabalho coletivo, generoso e cordial de todos envolvidos. Cabe aqui um agradecimento aos artistas que aceitaram o convite para pensar e fazer todo o processo de mediação acontecer: o encontro poético entre a obra de arte e o público.
Breno Barbosa, artista formado em Artes Plásticas pela Escola Guignard/UEMG, com especializações em Desenho, Pintura e Litografia, nos relata que seu trabalho de criação é movido pelo desejo de ‘ressignificar e expressar as provocações que o atingem na tentativa de encontrar formas de existir em um mundo estranho, distante e inadequado’. A materialização desse estranhamento é mediatizado com o uso da técnica bico de pena, nanquim e vinílica sobre tela e sobre papel e dão vida a figuras inquietas e atormentadas em imagens primorosas e provocativas.
Os trabalhos de Gilda Queiroz, selecionados para compor essa exposição revelam uma fusão entre a artista e sua obra. Duas telas de pinturas abstratas, nunca expostas, dialogam com o princípio do afeto e da utopia: um peixe eternizado na tela; uma cena cósmica/microcósmica em tons vibrantes de laranja e turquesa contrasta com os tons sépia das gravuras em metal. E cinco peças de madeiras, recolhidas dos despojos de construção, criadas especialmente para esta exposição. Em tudo, o uso de cores primárias, o traço rápido e intuitivo; a alegria, a vitalidade e a liberdade, marcas inequívocas de sua personalidade.
A artista Heloisa Brandão afirma que seu processo criativo é um verdadeiro embate com seus medos e limites. Suas ferramentas? Seu corpo, suas mãos, sua mente, sua energia. E uma longa trajetória dedicada ao aperfeiçoamento técnico e ao aprendizado de ofícios e artes. Conjugadas, essas habilidades lhe permitem um mergulho no processo criativo intuitivo inconsciente e, ao mesmo tempo, uma busca do eu profundo, lúcido, meditativo e ativo. Para essa exposição a artista criou uma série de objetos a partir de matéria prima recolhida na natureza: sementes, troncos, cascas, fragmentos de madeiras. As texturas, rudezas e fragilidades da matéria natural são postas em evidencia no espaço expositivo, ora protegidos por uma redoma de vidro como um relicário sagrado, ora numa instalação rústica e elegante. As Madeiras de lei sangram, desaguam, brotam e renascem criando metáforas do nosso existir.
Miguel Gontijo nos oferece paradoxos: gentileza e proeza típica dos mestres. Inédita, a série “Fala Miguel”, criada no período de isolamento forçado pela pandemia do covid-19, recebe títulos que parecem indicar a realidade contraditória da linguagem, num contexto conturbado: “deixe que eu falo”, “bafafá”, “angu de caroço”, “treta”, “papo de boteco”. Haverá aí uma crítica diante da verborragia do cotidiano, de diálogos vazios de significado, daqueles que falam demais por não ter nada a dizer? O balão de diálogo é uma convenção gráfica utilizada em quadrinhos, tiras e cartoons para indicar a fala de um determinado personagem e aqui ele é convertido em um elemento estetizado por uma ironia desconcertante. Balões vazios, textos ilegíveis em uma escrita desenhada. Nesta série, a tradição cristã que atribui a criação do mundo ao verbo é reinventada. O poder da palavra criadora é suprimido pela potência da imagem. Nessa abordagem, o artista Miguel Gontijo, um Demiurgo às avessas, cria um mundo e uma narrativa puramente visual. Por fim, Topofilia configurou-se como a construção deste espaço de exposição ocupado por expressões artísticas em quatro perspectivas: Breno Barbosa, Gilda Queiroz, Heloisa Brandão e Miguel Gontijo. Quatro mentes criativas expressando sentimentos de apreço àquilo que tem lugar privilegiado no coração: o fazer artístico. E das camadas pictóricas entre linhas, gestos e cores, nascem linguagens em busca do pertencimento. Madeiras colhidas ao acaso e tratadas com amor, fragmentos de diálogos, silêncios reveladores, cores, sonhos e pesadelos habitam essa composição. Desenham um jardim, uma paisagem urbana ou uma ilusão? Estendemos ao público o convite para viver conosco o devaneio da topofilia. • Simone Von Randow
SIMONE VON RONDOW – CURADORA (31) 9.8427.4040
MANOEL HAGEN – ASSESSORIA (31) 9.8810.8260
EXPOSIÇÃO TOPOFILIA
BRENO BARBOSA, GILDA QUEIROZ, HELOISA BRANDÃO E MIGUEL GONTIJO
ABERTURA: 09 DE NOVEMBRO DE 2023 AS 19HS, quinta feira.
LOCAL: GILDA QUEIROZ GALERIA DE ARTE
ENDEREÇO: Rua Manaus, 52 sala 303, Santa Efigênia, BH MG BRASIL.
TEL: 31 9.8427.4040
PERIODO da exposição: de 10\11 a 15\12\2023.