Entre os dias 10 de abril e 10 de junho, o CCBB BH recebe a exposição “Ruídos”, que abrange um recorte da produção da artista visual brasileira Berna Reale, de 2009 a 2023, em fotografia, objeto, performance, pintura e vídeo. As obras propõem uma reflexão sobre a condição humana diante da desigualdade de gênero, econômica e social, assim como da violência.
O nome dado à mostra “surge do incômodo daquilo que se apresenta muitas vezes de forma fragmentada e por se assemelhar à sonoridade da palavra ‘roído’, que por sua vez se refere a um pedaço que falta, que causa desconforto, estranhamento e violência, por menor que seja, que nos desestabiliza”, diz Berna Reale. “É uma escolha da artista e trata da quebra na harmonia”, afirma o jornalista, crítico de arte e curador da exposição Silas Martí.
Estarão presentes nesta mostra trabalhos em foto e vídeo, como “Palomo” (2012) e Rosa Púrpura (2014). Juntam-se a essas obras pinturas pouco vistas, como “Cordeiro” (2021), tinta a óleo sobre tela. Impossibilitada de fazer fotoperformance ou performance em espaços abertos durante o período da pandemia da Covid-19, a artista retornou à pintura.
“Escolho a técnica a partir da ideia que tenho para um trabalho, busco a forma de executá-lo melhor. Antes, só havia pintado na universidade. Então, não passei para a pintura, voltei a pintar. Durante a pandemia, fiquei, pois me identifiquei com a pintura a óleo, que é demorada e requer dedicação. Continuo pensando e criando fotos e performances, mas, no futuro, quero fazer uma exposição só de pintura, pois uma expressão não mata a outra”, ressalta Berna.
Narrativa e cores
No percurso pelos espaços da exposição, o visitante vai se deparar com as imagens sedutoras criadas pela artista que, segundo o curador Silas Martí, são estratégicas para denunciar “as mais variadas violências contra os grupos mais vulneráveis, como mulheres, moradores das periferias e populações carcerárias. É uma narrativa do que é viver no Brasil, um país barroco, tropical e violento, e o que é ser brasileiro”.
Berna revela que as cores fortes que utiliza nas suas últimas fotografias das séries “Cabeças Raspadas” (2022), em que meninas usam coques e algemas, e “Blitz” (2022), em que uma arma rosa fluorescente contrasta com o fundo azul vibrante e a silhueta de uma pessoa usando um capacete, devem-se à contemporaneidade, inclusive na moda e na alta costura, tema que gosta bastante e que é presente em uma de suas videoperformances – “Habitus” (2015). “Estamos vivendo em um momento de cores fortes e metalizadas e sou uma artista do meu tempo, viajo nele”, diz.
O curador salienta que o trabalho de Berna Reale, de fato, recria hoje as estratégias do
barroco, impressionando pela exuberância ao mesmo tempo em que impõe a dura realidade aos sentidos. “É teatral, é chocante, mas tem um traço de realidade crua como espinha dorsal”, ressalta Silas.
Outros suportes
A realidade também se apresenta nos objetos escultóricos feitos com formas de alumínio para bolo. A artista ressalta que a interação gráfica do desenho gravado sobre o metal não é apenas um material retirado de seu contexto. É também nos bolos que familiares e mulheres de detentos tentam enviar para dentro dos presídios armas, drogas, celulares e outros objetos de forma clandestina e acabam também sendo detidas. “A obra ‘Arma branca’, por exemplo, diz bastante sobre a violência doméstica.
Observe quanta simbologia existe em um bolo com facas gravadas”, comenta a artista.
O público mineiro poderá conferir ainda o vídeo “Escape”. “É uma parte de um projeto desenvolvido ao longo de um ano. Apresenta a mesma personagem em outros contextos, inclusive andando pelas ruas de Nova York. Este vídeo é talvez o momento que mais representa o projeto, pois fica mais claro o desconforto de não se encontrar no meio da angústia, da solidão e da impossibilidade de sobreviver, de se optar em desistir”, explica Berna.
A exposição “Ruídos” poderá ser vista nas galerias do térreo, e a entrada é gratuita, com retirada de ingresso a partir de 03/04, no site ccbb.com.br/bh ou na bilheteria do CCBB BH.
Berna Reale
Nascida em Belém (PA), onde vive e reside, Berna Reale iniciou sua carreira artística nos anos 1990. Mas foi em 2006, quando apresentou seu trabalho “Cerne” no 25º Salão de Arte Pará, que sua produção passou a ser conhecida nacional e internacionalmente.Desde então, a artista tem explorado seu próprio corpo como elemento central da produção de suas performances, fotografias, vídeos e, mais recentemente, de pinturas e esculturas.
Seus trabalhos são marcados pela abordagem crítica aos aspectos materiais e
simbólicos da violência e aos processos de silenciamento presentes nas mais diversas
instâncias da sociedade, e investigam também a importância das imagens na
manutenção de imaginários e ações brutais.
A potência da produção de Berna Reale reside na contraposição entre o desejo de
aproximação e o sentimento de repulsa, ressaltando a ironia que resulta da combinação
entre o fascínio e a aversão da sociedade pela violência. A fotografia, nesse contexto,
desempenha um papel fundamental. Ela não é apenas o meio de registro de suas ações,
capaz de perpetuá-las, mas um desdobramento de seu processo de criação.
Serviço:
Exposição “Ruídos”, de Berna Reale
Curador | Silas Martí
Classificação Indicativa: Livre (Atenção: Determinadas obras da exposição apresentam cenas de nudez e/ou violência como parte integrante da expressão artística e serão sinalizadas com totens na entrada das salas).
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte – Galerias do Térreo
Endereço: Praça da Liberdade, 450 – Funcionários, Belo Horizonte
Funcionamento: De quarta a segunda, das 10h às 22h
Temporada: De 10 de abril a 10 de junho
Entrada: Gratuita, mediante retirada de ingresso no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH.
Telefone: (31) 3431-9400
E-mail: ccbbbh@bb.com.br
Site: ccbb.com.br/bh
Redes sociais: facebook.com/ccbb.bh | instagram.com/ccbbbh
FICHA TÉCNICA
Berna Reale – Ruídos
Artista | Berna Reale
Curador | Silas Martí
Coordenação geral | Leandro Gabriel, (Cara Produções)
Produção executiva | Daniel Moreira, (Cara Produções)
Produção Local | Magnólia Produtos e Artefatos Culturais
Projeto expográfico | Stúdio Tavares
Designer gráfico | Fernanda Monte Mor
Mídias sociais | Farol Agência Digital