Tadashi Endo, dançarino e mestre do butoh
Yany Mabel
Cia. de Dança Palácio das Artes – março/2011
Tadashi Endo, artista multifacetado, que além de diretor e bailarino é um dos mestres da técnica do Butoh, esteve em Belo Horizonte/MG em março de 2011.
Na entrevista ele fala sobre a técnica do Butoh, sobre a Cia. de Dança Palácio das Artes e sobre o papel do artista no mundo atual. De antemão, Endo deixa seu recado: “Minha função em fazer arte, mais do que tudo, não é nem pelo Butoh e nem pela técnica, é porque acredito que o mundo está precisando de um novo pensamento. Minha função como artista é tocar na alma das pessoas, porque só assim elas poderão pensar diferente. As almas já estão automatizadas dentro do sistema, e não param pra ouvir sua própria vontade. Se fizessem isso, o mundo não estaria da forma que está”.
Como você vê o cenário da dança no Brasil?
Não conheço muito este cenário aqui no Brasil. Venho, mas não viajo muito por aqui. Eu pensava que o Brasil era essa coisa que todos falam: samba, futebol e festa, mas eu percebi que os bailarinos brasileiros têm muita sensibilidade, são muito sérios e estão em uma busca e pesquisa bem interna. Nesse sentido, o trabalho da dança no Brasil é igual ao trabalho desenvolvido na Europa ou no Japão.
Qual sua visão sobre este intercâmbio cultural incentivado pela Fundação Clóvis Salgado na área da dança?
O fato de uma Fundação, de uma Companhia estatal convidar estrangeiros para ministrar oficinas aqui é maravilhoso.
No Brasil isso acontece mais que na Europa, lá esse mercado é muito fechado, mais restrito. Essa abertura pra mim, como artista convidado, é excelente. Percebi uma política cultural aqui; mesmo que os investidores de dinheiro atrasem no envio do pagamento, o dinheiro chega para a produção do espetáculo. Na Europa, às vezes o artista nem tem esse dinheiro para a produção. Sinto que no Brasil essa postura é mais aberta.
A Cia. de Dança Palácio das Artes tem um diferencial em relação a outras companhias mineiras. Hoje a Cia. se concentra muito mais nas pesquisas corporais e artísticas, fugindo um pouco do padrão mercadológico que vigora nos dias atuais. Como você vê essa característica da Cia.?
Esse formato é no que eu acredito. O fato de a Companhia fazer essa pesquisa e de buscar dentro da sua própria identidade o resultado do seu trabalho é essencial. Senti que a Cia. daqui tem isso, não é uma companhia feito as outras que têm os solistas na frente e o corpo de baile atrás; todos têm mais ou menos o mesmo nível e trocam entre si. Se cada bailarino dessa companhia é um grande solista, isso é maravilhoso, pois é a junção desses solos que fazem uma companhia individual e diferente.
Como foi sua experiência em desenvolver a oficina “Técnica Butoh” aqui na Companhia de Dança Palácio das Artes? Como se deu esse primeiro contato?
O Brasileiro tem uma abertura e espontaneidade para receber a informação que vem de fora bem maior que o Europeu ou outra cultura, porque lá nesses outros países a civilização já está um pouco saturada, as pessoas já não têm essa vontade de aprender.
Já aqui no Brasil essa vontade de aprender é muito grande. Especificamente em relação a essa Cia., eu gostaria de ficar mais tempo aqui.
Fui convidado para ministrar essa oficina em função do tema da próxima montagem da Cia., que tem a ver com a despedida de alguma coisa, e o Butoh fala disso, fala da morte o tempo todo, no sentido de purificação, da renovação. Eu gostaria de ter ficado aqui mais tempo para poder pesquisar individualmente com cada bailarino e ajudar nessa produção.
Fiquei muito feliz por ter sido convidado pela Sônia Mota, somos da mesma geração e acredito que seja importante fazer esse trabalho com os jovens que estão aí.
Depois de uma semana junto à Cia. de Dança Palácio das Artes, o que poderia dizer que esse grupo te ofereceu?
Essa Companhia tinha para mim um caráter muito jovem e energético, apesar de ser composta por bailarinos mais velhos. O vigor dessa companhia me fez dançar mais do que eu pensava.
O conteúdo programático organizado por você para ser executado aqui na Cia. foi seguido à risca, ou no meio da oficina a proposta foi sendo alterada pelo que os bailarinos ofereciam em “cena”?
Parte do princípio do Butoh que você não consegue realmente passar pro outro aquilo que você quer, porque ele é exatamente contra isso: o Butoh quer te levar a fazer aquilo que você realmente sabe fazer, então, por isso não consigo fazer com que os bailarinos dancem exatamente o que lhes é passado. Quero que o bailarino brasileiro dance do jeito dele, foi isso que tentei fazer aqui na Companhia e deu certo. Eu precisaria vir mais vezes aqui para que as pessoas pudessem pegar esse gancho e fazer a pesquisa dentro de suas próprias raízes.