Dadaísmo em Nova York
Vanguardas Artísticas

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Vanguardas Artísticas | Dadaísmo em Nova York

Texto: Cristina Tolentino
cristolenttino@gmail.com

Man Ray e Marcel Duchamp jogando xadrez no ateliê de Man Ray 1960, Paris

Man Ray e Marcel Duchamp
jogando xadrez no ateliê de Man Ray
1960, Paris

dadá em nova york

Início do dadá em Nova York

O americano Man Ray, o francês de origem cubana Picabia e o francês Marcel Duchamp formavam o grupo criador do Dadá em Nova York, independente de Zurique e sem que dele soubessem.

Juntaram-se à esse grupo artistas e não artistas, entre eles: o abastado colecionador Walter Arensberg, que não só comprava as obras de arte, mas também colaborava nas publicações dadaístas; o caricaturista Marius de Zayas; Edgar Varère, que criou e esgotou a música do barulho, “música concreta”; o pintor cubista Albert Gleizes (espanhol); o pioneiro Stieglitz, como conspirador intelectual e De Haviland, editor do Washington Post e protetor político-publicitário. Algum tempo depois chega Arthur Cravan (proveniente da Espanha).

Stieglitz foi um dos pioneiros da fotografia moderna. Ele dizia: “por que não tentar obter da mão humana, do olho humano, da chapa fotográfica e do papel fotográfico a mesma sensibilidade e expressão de que são capazes a mesma mão e o mesmo olho em uma tela? A fotografia não precisa ser apenas a reprodução do mundo real, ela pode e deve, pelo contrário, contribuir para a criação de um mundo novo.”

Ele fundou a revista Camera Work, onde Francis Picabia trabalhou, fazendo parte do círculo de fotógrafos e pintores americanos que se uniram em torno de Stieglitz.

Assim nasceu uma sociedade entre a fotografia artística e a pintura moderna na pequena galeria de Stieglitz. Esta galeria preparou o clima propício para a incursão da arte moderna em terreno americano.

Duchamp e seus redy-mades

Em 1915, o nome da revista Câmera Work foi mudado para 291. Francis Picabia colabora nesta revista, desenhando e pintando obras que representam objetos industriais, quadros de máquinas e que pretendem zombar do mito tecnicista do mundo moderno.

Estas obras têm continuação na revista itinerante 391, publicada no ano de 1917, em Barcelona, fundada por Picabia, quando da sua estada por alguns meses nesta cidade.

Marcel Duchamp surpreendeu Nova York em 1913, com a exposição do seu quadro “nu descendant um escalier” (Nu descendo a escada) na Armory Show. O quadro de Duchamp funde os diferentes movimentos vanguardistas da Europa e apresenta uma série de objetos que ficam conhecidos, a partir daquela data, como redy-mades.

Estes redy-mades tornavam-se obra de arte, segundo Duchamp, na medida em que ele lhes dava este título.

Ele disse: “Já em 1913 tive a feliz ideia de montar a roda de uma bicicleta sobre um banquinho de cozinha e de observá-la girando. Alguns meses mais tarde comprei uma reprodução barata de uma paisagem hibernal, à qual dei o nome de Pharmacy (farmácia), após ter acrescentado dois pequenos pontos no horizonte, um vermelho e um amarelo. Em 1915, em Nova York, comprei uma pá de neve numa loja de ferramentas e sobre ela escrevi In advance of a broken arm (Prevenindo um braço quebrado).

Desejo ressaltar que a escolha destes redy-mades nunca foi ditada por considerações de prazer estético. A escolha baseava numa indiferença visual, independentemente de bom ou mau gosto…na realidade um estado de anestesia total (ausência de consciência).”

Marcel Duchamp, Roda de Bicicleta, 1913.

Francis Picabia, Retrato de Alfred Stieglitz. 1916.

Francis Picabia, Retrato de Alfred Stieglitz. 1916.

Francis Picabia, Capa para 391 nº8

Marcel Duchamp, Nu descendant un escalier, 1911.

Uma característica importante residia na brevidade das frases com as quais ocasionalmente intitulava os meus redy-mades. Com tais frases eu tinha o objetivo de conduzir os pensamentos do espectador para outras regiões”(…)

“como todos os tubos de tinta usados pelos artistas são produtos industriais “redy-mades”, é forçoso concluir que todos os quadros existentes no mundo são “redy-mades confeccionados”.

O objeto é retirado do mundo morto das coisas insignificantes e colocado no reino vivo das obras de arte que deviam ser observadas: o olhar fazia com que se tornassem obra de arte.

Como diz Hans Richter: “Evidentemente, nem o secador de garrafas, nem o urinol são arte. Mas a gargalhada que está por detrás deste desmascaramento irreverente “de tudo que para nós é sagrado” é tão penetrante que se impõe uma admiração exacerbada, mesmo que signifique o próprio enterro (de tudo, precisamente, o que “para nós é sagrado”).

Esta gargalhada atinge tudo o que suspeitamos já saber: que falta algo na nossa crença científica do mundo; que em parte alguma se delineia alguma realidade, nós próprios incluídos; que estes secadores de garrafas, as rodas, as pás de carvão apenas são a expressão daquele.

Nada no qual nos debatemos desorientados. O secador de garrafas diz: “a arte é uma asneira.” O urinol diz: “A arte é um embuste.” O corpo da arte foi coberto pelas flechas do ridículo.

Com os redy-mades, Duchamp demonstrou uma realidade, contraposta ao Laocoonte e à Vênus de Milo, como laxante a ser empregado contra um presente totalmente hipócrita – e uma sociedade que havia levado a este estado de coisas – , contra um presente deteriorado, para o qual Duchamp encontrou a expressão correspondente numa MonaLisa de bigode.

O que Picabia havia discutido apaixonadamente em cada linha que escreveu, em cada poema, em cada desenho, em cada manifesto ou panfleto na revista 391 foi, aqui, reduzido a uma fórmula exata.

Enquanto por detrás da afirmação de Picabia: “A arte está morta” sempre se ouvia o tênue eco “Viva a arte”, em Duchamp este eco deixa de existir e silencia…Mais do que isso: este silêncio torna até mesmo a pergunta pela arte esvaziada de sentido.

Duchamp deu um passo lógico, e por isso mesmo necessário, mas também fatal. Ele modificou os marcos fronteiriços dos valores a tal ponto que em toda parte eles apontam para o Nada.

Este lado fatal, assim como a “busca religiosa” de Ball, faz parte do movimento Dadá. Duchamp apenas revelou uma outra dimensão de Dadá. As suas conclusões fazem parte de Dadá como o postulado lúgubre da física moderna, segundo o qual no cosmo a matéria é necessariamente complementada pela anti-matéria.”

Da arte ao sem sentido

Na obra de Duchamp, a máquina adquiriu um aspecto inteiramente novo. Da Máquina de Café à Máquina de Chocolate, até o seu grande trabalho em vidro La Fianncée. Em 1920 ele continuou a desenvolver o tema da “máquina de vidro” na qual giram segmentos circulares isolados e criam a ilusão óptica de círculos e espirais tridimensionais. Um espírito científico com recursos artísticos, a fim de realizar uma expressão artisticamente formulada, como síntese entre as buscas científicas e artísticas.

Arthur Cravan traz uma faceta inteiramente nova da antiarte. Já em 1912 publicou em Paris, a revista Maintenat, onde difamava tudo que era bom, caro e que gozava de prestígio. Rompeu todas as “costuras da existência burguesa.” Viajava, em plena guerra, com passaportes falsificados e chegou a assaltar uma joalheria na Suíça.

Na sua revista, publicada em março de 1914, ele publica o seu próprio mandato de captura: ” Impostor – marinheiro no Pacífico – almocreve – colhedor de laranjas na Califórnia – domador de serpentes – ladrão de hotel – sobrinho de Oscar Wilde – lenhador de florestas gigantes – ex-campeão de boxe na França – neto do chanceler da rainha (da Inglaterra) – motorista em Berlim – etc.”

Ele preconizava que a arte era supérflua e estava morta e que não representava nada mais do que a expressão de uma sociedade apodrecida.

Arthur Cravan é considerado como um precursor do movimento dadá americano e francês.

Man Ray, que começou sua carreira como pintor, se dedicou não apenas à pintura, mas também à fotografia, à exemplo de Stieglitz. Ele dizia que os objetos, por serem inúteis, nos comoviam e falavam uma linguagem lírica; “afinal, as coisas, são seres como nós – possuem um ser.” Sua obra Board-walk representa o emblema do grupo dadá em Nova York.

Em 1916-17 produziu uma série de colagens, às quais deu o nome de Revolvinng doors. Na fotografia alcança resultados notáveis com verdadeiras radiografias do mundo real. Essas fotografias foram chamadas rayographies.

Duchamp e Man Ray lançam três pequenas publicações: dois números de The Blindman e único número de Rong-wrong. Nesta revista ele introduz seus desenhos de esquemas mecânicos e de objetos fielmente copiados e também escreve poesias. Em 1918, Picabia encontra Tzara em Zurique e percebe que dadá coincide com suas percepções, tornando-se um de seus ativos defensores.

Algumas obras do movimento dadaísta.

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