Crônica Woodstock
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Crônica Woodstock

WOODSTOCK – Paz, Amor e muito Rock and Roll

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

O Festival de Woodstock marca a explosão de todo um movimento que vinha acontecendo no underground (subterrâneo): o flower power, a contracultura, o jeito hippie de ser, livre das imposições do famigerado american way of life (estilo de vida americano).Os próprios organizadores do evento foram pegos de surpresa: o público que apareceu era muitas vezes maior do que o previsto. As cercas e postos de controle para o recolhimento de ingressos foram derrubados, e a grande maioria participou da atividade na base do 0800.

Antes de prosseguir quero fazer um registro: quem me sugeriu esse tema — Woodstock — foi o Hilário Rodrigues, parceirão nestas crônicas, que faz a revisão dos textos na maior boa, além de contribuir com opiniões e sugestões. Hilário, que gosta de arranhar seu violão, detectou a enorme importância que Woodstock passou a ter nas nossas vidas. Imagine: meio milhão de pessoas juntas, suportando a chuva, a lama, a falta de infraestrutura, banheiros, alimentação escassa e tudo correndo numa tranquila, sem conflitos, naqueles 3 dias de paz e amor nos idos de 1969.

É bom lembrar que o Festival de Altamont, também realizado em 1969, no norte da Califórnia, acabou em tragédia. O evento foi promovido pelos Rolling Stones sem cobrança de ingressos. 300 mil pessoas participaram dos shows que contaram com Santana, C,S,&N, The Grateful Dead, Jefferson Airplane, além, é claro, dos Stones. Consta que a segurança ficou por conta dos Hell’s Angels, famoso grupo de motoqueiros violentos e “sem noção”. Reza a lenda que o pagamento dos seguranças seria feito com cerveja, fato que foi negado por Mick Jagger e sua turma. O astral em Altamont estava pesado. Começaram a haver vários conflitos e os Angels batiam sem dó em tudo que viam pela frente.

Foi durante o show dos Rolling Stones que a chapa esquentou pra valer: primeiro ouviu-se uma explosão na frente do palco, mas como ninguém apareceu machucado, a banda continuou tocando. Durante a execução da música Under My Thumb, um jovem negro tentou subir no palco, tendo sido contido violentamente pelos Hell’s Angels. Dizem que o rapaz tentou sacar uma arma e, antes que pudesse atirar, foi esfaqueado nas costas por um motoqueiro pitbull. Morte trágica naquele que passou a ser considerado “o pior dia do rock and roll de todos os tempos.”

Mas, voltando ao Woodstock, uma profusão de imagens ficaram marcadas na memória de toda uma geração. Quem não se lembra do close na ponta da bota de um Joe Cocker (certamente bêbado e chapado, mandando o With a Little Help From My Friends com a urgência de quem sabe que só com a força dos amigos dá pra suportar mais um dia neste mundo); das simpáticas freiras, com hábitos e tudo, que acenam para os malucos e tá tudo bem; do The Who, arrasando com See me, Fell me; do Santana, estraçalhando com Soul Sacrifice; do Jerfferson Airplane; do C,S&N; do Jerry Garcia, guitarrista do The Grateful Dead, tomando um close de câmera com um tremendo charo na boca; da moçada “surfando” na lama; das tomadas aéreas mostrando um mar de gente convivendo em paz e consagrando o amor.

Um aspecto importante do evento é a contraposição existente entre as relações pacíficas vigentes em Woodstock e a postura agressiva, beligerante, do governo americano envolvido numa guerra absurda contra o Vietnan. Os três dias de música, paz e amor trazem a resposta das novas gerações que eram radicalmente contrárias à guerra. As músicas de protesto de Joan Baez são hinos que dão voz à revolta popular. As letras denunciam a insana posição do governo que insistia em se meter na política interna do pequeno país asiático.

O sonho estava em alta naqueles velhos e bons tempos; prova disso foi a fracassada tentativa de reeditar o Festival de Woodstock em 1999, em Rome, subúrbio de NY. 400 mil pessoas não se entenderam de jeito algum: faltou água e o baixo astral permeou o evento que teve de tudo, inclusive abusos sexuais diversos, e até estupros coletivos. Os 30 anos que separaram os dois eventos mostraram como o ser humano se deteriorou e, infelizmente, a mágica combinação de paz e amor, já não funciona mais nestes tempos sombrios.

Sem nostalgia ou melancolia, guardamos as boas lembranças do ano de 1969. Aliás, essa época foi marcada por acontecimentos de grande importância. Em Paris, 1968, a famosa revolta dos estudantes sacudiu a França e repercutiu em todo o mundo. A demanda dos estudantes era pela melhoria do sistema educacional, mas acabou chegando nos operários que promoveram um greve geral contra o governo conservador do General De Gaulle. O icônico slogan “é proibido proibir” foi cunhado por esse movimento.

Há quem diga que o sonho acabou. Há os que esperam pelo final do pesadelo. Há bons e maus tempos. Vida que segue num mundo cada vez mais tecnológico (e ilógico), sob a sombra da IA que pode nos levar a várias direções. Humanidade vítima da sua própria insanidade? Quem sabe o que nos aguarda… Nós, que de alguma forma temos Woodstock ainda vivo nos corações, esperamos que o futuro venha, em imprevisíveis cambalhotas, trazer dias melhores e mais lindos como os que aconteceram ali.

Aproveito para registrar que Crônicas da Era do Rock completam aqui 50 episódios. Agradeço imensamente o apoio de amigas e amigos que abraçam o projeto e participam ativamente com toques, informações, correções e comentários. Destaco o apoio de dois parceiros, cúmplices nessa aventura: João Diniz, que já colaborou em diversos textos, além de produzir imagens, e Marcos Kacowicz, este profundo conhecedor do mundo da música pop, sempre contribuindo de várias maneiras. Valeu demais! E vamos em frente!

Assista no Youtube: Woodstock – 3 dias de paz amor e música, full hd:

Revisão e sugestões: Hilário Rodrigues

Criação e arte do flyer: João Diniz

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

Portal cultural Caleidoscópio: siga @caleidoscopiobh

Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

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