Crônica The Who
Crônicas Musicais

Crônica The Who

ROGER DALTREY x PETE TOWNSHEND – unidos pelo ódio

Roger Daltrey : “Pete caiu duro, batendo a cabeça no palco. Achei que tinha matado o cara.” No desfecho da cena, Daltrey entra na ambulância e acompanha Pete ao hospital.

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

O título seria perfeito se já não tivesse sido usado: Meu Melhor INIMIGO, filme de Werner Herzog que trata da beligerante relação dele com o ator Klaus Kinski (os dois quase se mataram no set de filmagem). Entre o cantor Roger Daltrey e o compositor e guitarrista, Pete Townshend, não existe paz. Trata-se de uma cabulosa e conturbada relação dos dois remanescentes da banda inglesa The Who que mistura amor e ódio, numa caótica convivência de longos anos. Não preciso dizer que o The Who é certamente uma das maiores e melhores rock and roll bands de todos os tempos. A velha da foice levou o baixista John Entwistle e o baterista Keith Moon. Roger e Pete ficaram no “e daí?”; ambos lançaram seus álbuns solo com relativo sucesso, mas nada que se compare aos áureos tempos do The Who.

A antipatia entre os dois músicos é gritante. Alguém falou de ódio e não é pra menos. Desde os tempos em que o quarteto estava vivo e inteiro, as rusgas entre os dois já eram públicas e notórias. Num episódio marcante, Roger, cansado do comportamento infantil e completamente porralouca do batera, Keith Moon, pegou as drogas do sujeito no camarim dele, Keith, e jogou tudo no vaso sanitário. O pau quebrou. Townshend tomou as dores de Moon e propôs a expulsão de Daltrey do grupo. Foi voto vencido e os panos quentes de sempre foram aplicados permitindo que o The Who continuasse sua trajetória de sucesso.

Durante a gravação de um vídeo promocional, em 1973, a chapa esquentou pra valer. Depois de um bate-boca entre os dois, Townshend, com muito brandy na cabeça, arremessou sua guitarra Les Paul contra Daltrey. O instrumento passou rente a orelha esquerda do cantor, que tinha fama de ser bom de briga. Ele não vacilou, mandou um cruzado que pegou em cheio o queixo de Pete. Nas palavras do próprio Roger em seu livro autobiográfico Valeu, Professor Kibblewhite: “Pete caiu duro, batendo a cabeça no palco. Achei que tinha matado o cara.” No desfecho da cena, Daltrey entra na ambulância e acompanha Pete ao hospital.

Pete, por sua vez, sempre desceu o pau em Roger. Arrotou cobras e lagartos sobre as atitudes e posturas do cantor que é avesso às drogas e sempre torceu o nariz pras orgias químicas e etílicas dos colegas. Pete diz que nunca foi amigo de Daltrey: “nunca o convidei pra jantar em minha casa. Nunca saímos pra tomar umas cervejas”.

Naquela de que o show não pode parar, os dois realizam apresentações em que compartilham o palco ostentando o nome de The Who. Cruzam olhares sem empatia, transitam no espaço cênico sem nenhum sinal de cumplicidade, mas compartilham as excelentes canções, o suprassumo do genuíno rock and roll que empolga multidões. Quando termina o show, cada um vai pro seu lado, unidos pelo ódio.

Em tempo: o The Who continua na estrada; acabou de se apresentar, no dia 28/07/2023, em Sandringham, Inglaterra, acompanhado por ninguém menos do que a Royal Philharmonic Concert Orchestra.

Ilustração: Fernando Righi

Revisão: @HilarioRodrigues

Colaboração midiática: @Rodrigo_Chaves_de_Freitas

Para conhecer mais sobre a história do Rock’Roll, acesse:

https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/rock-roll/

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