Crônica Sá, Rodrix e Guarabyra
Crônicas Musicais

Crônica Sá, Rodrix e Guarabyra

Pindurados no Vapor do São Francisco

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

O grande barato das tardes de sábado era baixar nas peladas realizadas no “Malucão”, campinho de terra no sítio do pai do Marquinhos Preto, na Nova Pampulha em BH. Íamos em grupo batendo altos papos, fumando uns beques e tratando da pelada que nos aguardava. Dentre os mais constantes: Marquinhos Kacowicz, com sua camisa do Cruzeirão, o percussionista Bill Lucas com a camisa do Galo, o baixista e compositor Paulinho Carvalho, Cláudio Venturini do 14 Bis, Zé Renato, o baixista José Dias Guimarães e Marquinhos Preto, o mais fominha de todos. Além desses, mais uma leva de pretensos “craques” que queriam dar tratos à bola. Eu não perdia uma. Jovens tardes de sábado, bons tempos. De vez em quando, quem dava as caras era o Sá, do Sá, Rodrix e Guarabyra. Gente boa, mas ruim de bola como ele só, rsrs.

O trio Sá, Rodrix e Guarabyra abriu uma nova vertente na MPB, batizada de rock rural. O grupo utilizou-se de estratégia geográfica para suas composições, revisitando o microcosmo que fica às margens do Rio São Francisco, no coração do sertão mineiro. Mesmo sem citar Guimarães Rosa, algumas canções dialogam com o escritor na tentativa de captar a identidade da emblemática região. É bom lembrar que o “Velho Chico” tem para o Brasil a mesma importância que o Mississipi tem para os EUA. Só que o nosso grande rio não recebeu por parte da música popular tanta visibilidade quanto seu congênere americano.

Destaque para a afinidade existente entre o S,R & G com o grupo americano C,S,N & Y (Crosby, Stills, Nash and Young). Estes, craques, donos dos mais belos arranjos vocais da música pop. A banda brasileira capricha nas composições e no instrumental, mas percebo na letras bem construídas e trabalhadas o ponto alto de sua criação. Estradas poeirentas, festas nos arraiais, caboclas, matutos, sertanejos de todas as cepas, povoam suas canções. E vamos lá naquela levada maneira, mineira, que não cai no folclore, nem no regional e se faz rock num estilo mais amplo, universal.

Pindurado no Vapor, Sobradinho, Pirão de Peixe Com Pimenta, Primeira Canção da Estrada, Cumpadre Meu, Até Mais Ver, traduzem bem o habitat favorito do grupo. Blue Riviera, Os Anos 60, Mestre Jonas (minha predileta) dão destaque ao sotaque de Zé Rodrix, trazendo referências mais urbanas às canções. Aliás, Zé Rodrix nos deixou em 2009, vítima de um infarto, fazendo com que Sá e Guarabyra voltassem a formar uma dupla. Os dois continuam levantando poeira e levando a vários rincões seus hits e canções.

A música sertaneja, “sertanojo”, como se diz por aí, engoliu tudo — impulsionada pela grana e lobby do agronegócio. E dentre muitos outros, Sá e Guarabyra também foram engolidos por esse nefasto tsunami. Mas abrir brechas é a sina de qualquer artista, assim, o duo descobre espaços, inventa trilhas nas veredas e avança pelo sertão, que pode ser as grandes cidades ou as pequenas, cantando e encantando, chegando sempre onde o povo está.

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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