MY GENERATION (Minha Geração) — “Quero morrer antes de ficar velho.”
Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste
Na minha lista de músicas emblemáticas, essa não pode faltar: My Generation, de Pete Towshend, consagrada pelo The Who. Se rock rima com rebeldia, então o mote certo são os versos cortantes de MG: “quero morrer antes de ficar velho”. Todo aquele papo de “não confiar em alguém com mais de trinta anos” se faz ouvir em altos decibéis, não deixando lugar para qualquer dúvida sobre como os jovens entendem o mundo dominado por machos, brancos, ricos e velhos!
A mística do número 30 remonta a enormes desconfianças, afinal, foram 30 moedas que Judas Iscariotes recebeu para trair Jesus, naquele ato que é tido como um dos mais infames da história humana. A Mulher de 30 Anos, do genial Honorè de Balzac, faz um strip-tease moral da hipócrita sociedade francesa do século XIX. Por isso, Roger Daltrey, cantor do The Who, não poupa a voz, finge que gagueja e escancara: “Tem gente querendo nos pôr para baixo…/Por que vocês todos não desaparecem?/ Estou falando de minha geração.”
My Generation pode ser compreendida como o hino de uma geração que queria o fim de todas as guerras, acreditava na paz e no amor, cultivava a gentileza, o bem viver e a fraternidade. Opunha os valores espirituais ao materialismo maluco do dinheiro a qualquer preço, promovido pelo capitalismo selvagem. O festival de Woodstock, em 1969, foi o marco dessa era, e lá estava o The Who tocando, exatamente ao nascer do sol, músicas como Summertime Blues, See Me Fell Me e My Generation. Momento arrepiante, pois toda a energia da música, das boas vibrações, estavam ali presentes junto com o auspicioso nascer de um novo dia.
Os anos se passaram; Pete Towshend, guitarrista e compositor do The Who, envelheceu e não morreu (apesar das loucuras com drogas pesadas e álcool em excesso, sobreviveu). Roger Daltrey, o cantor, e o mais sóbrio dos quatro, também continua vivo. O baterista Keith Moon (1946-1978) e o baixista John Entwistle (1944-2002) encontraram a morte quando mergulharam em imensa e autodestrutiva loucura. Tragicômicos são os encontros entre Pete e Roger, que já admitiram publicamente que se detestam, mas que topam realizar alguns shows com o repertório do The Who. Tocam e cantam quase que sem olhar um para o outro, no palco, raios, relâmpagos e trovões. rsrs.
Ambos (Pete e Roger), com mais de 80 anos, empunham seus instrumentos e, na companhia de músicos bem jovens, interpretam excelentes canções. E claro, não pode faltar, mandam My Generation no mais gás. “Quero morrer antes de ficar velho.” E lá vamos nós, pensando que essa música, hoje podemos dizer, trata na sua essência, da eternidade.
Revisão: Hilário Rodrigues
Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas
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