OS MUTANTES – A Divina Comédia psicodélica
O disco “Os Mutantes” foi considerado um dos 50 álbuns mais inovadores da história, à frente de Pink Floyd e Frank Zappa.
Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste
Quero falar dos Mutantes, sem entrar nas polêmicas brigas — que já ocuparam muito espaço na mídia — entre os irmãos Baptista, nas desavenças de Rita com Sérgio e Arnaldo ou na intempestuosa relação de Arnaldo com ela. Não me interessa as mutantes relações interpessoais dos envolvidos. Quero é tratar da música, da genialidade de dois garotos e uma menina. Eles, aos 19 anos, criaram um som que revolucionou os rumos da então bem comportada MPB. E não foi só o som, foram também as atitudes, o figurino, a irreverência de suas performances, o rompimento com a postura careta de classe média, que era o padrão comum entre compositores e intérpretes da música popular na época.
Havia a ditadura, OK, havia a censura, mas nada disso travou o vendaval de alegria (Alegria, Alegria) que esses moleques criados na pauliceia, trouxeram para a cena musical de então. E quando falamos de Os Mutante, falamos da santíssima trindade formada por Rita Lee e os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Mas precisamos introduzir aqui um personagem da maior importância: o maestro Rogério Duprat, gênio dos arranjos, inventor de bossas que modificaram o rumo não só da música dos Mutantes, mas também de toda a Tropicália. Foi Duprat quem apresentou Gilberto Gil aos Mutantes e daí surgiu “Domingo no Parque”, que ficou em segundo lugar no Festival da Record de 1967.
Em 1969, no auge dos festivais (festivaias) televisivos de música, Os Mutantes concorreram com Caminhante Noturno, talvez a música mais criativa e revolucionária do repertório deles. Até inseriram ao longo da canção, uma rápida referência a faixa I Am the Walrus, dos Beatles (de quem eram fãs confessos); eles cantam repetidas vezes o verso “everybody’s got one”. Ainda no contexto dos festivais, é importante lembrar que foram Os Mutantes que acompanharam Caetano Veloso na polêmica canção “É Proibido Proibir”, que foi a música mais vaiada de todos os tempos no âmbito dos festivais. A música provocou um arranca-rabo entre os puristas da MPB e os adeptos do rock and roll, que queriam trazer um pouco do som dos Beatles e dos Stones pra essa terra brasilis.
Cabe aqui destacar a participação de outro Baptista: Cláudio, o irmão mais velho de Arnaldo e Sérgio, que fez parte das primeiras formações da banda, mas optou por seguir sua vocação de inventor, lutier e engenheiro de som. Foi ele quem criou e fabricou com as próprias mãos os instrumentos, pedais e os efeitos que tanto caracterizaram o som mutante.
É difícil citar as melhores criações dos Mutantes, mas músicas como Bat Macumba, Ando Meio Desligado, Balada do Louco, Panis et Circenses e Don Quixote, são inesquecíveis.
Em 2006 nos EUA, quando Os Mutantes fizeram um dos seus revivals, com Zélia Duncan no lugar de Rita Lee, foram aclamados pela imprensa americana:
The New York Times: “Finalmente Os Mutantes trazem sua ‘loucura’ à América!”
L.A. Times: “O som original se torna um delicioso passeio musical para os aficionados em rock”.
Chicago Tribune: “Levou 40 anos, mas os lendários roqueiros psicodélicos do Brasil mostraram, pela primeira vez nos EUA, que realmente são tudo aquilo que ouvíamos nos discos”.
Wayne Coyne, vocalista da banda Flaming Lips: “Os Mutantes são uma pedra preciosa do underground escavada do passado”.
Pra encerrar:
O disco “Os Mutantes” foi eleito pela bem conceituada revista britânica MOJO, como um dos 50 álbuns mais inovadores da história, ficando na frente de nomes como Pink Floyd e Frank Zappa.
Revisão e pitacos: Hilário Rodrigues
Colaboração midiática: Rodrigo Chaves de Freitas
@caleidoscopiobh (Portal Cultural Caleidoscópio)
Para conhecer mais sobre rock roll, acesse: www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/rock-roll/
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