Crônica Lô Borges
Crônicas Musicais

Crônica Lô Borges

LÔ BORGES – Tamujuntu, Lô, tudo vai ficar legal!

Minha amiga Silvana Chaves foi uma garota ativa e esperta. Ela fez parte de uma das montagens do Grupo Pinta de Borda, que eu dirigi. O grupo dedicava-se à produção de espetáculos para crianças. Linda, simpática e habilidosa, Silvana conquistava corações. Antes de namorar e se casar com Beto Guedes, ela namorou Lô Borges. Na época eu morava no bairro de Santa Teresa, BH, onde Lô havia nascido e vivia. Me lembro perfeitamente do dia em que Silvana pegou o Lô e lavou os cabelos dele no tanque que havia no quintal do barraco onde morávamos, na bucólica ruazinha chamada Flor de Liz, uma espécie de hutong chinês, encravado em Santê. O proprietário do barraco, que morava numa casa ao lado, dentro do mesmo terreno, tinha um papagaio e tocava bandolim.

Lô, que já havia gravado pérolas como Feira Moderna e Paisagem da Janela, era um garoto desleixado, meio calado. Andava com um pessoal esquisito do bairro. Reza a lenda que além do goro constante, era chegado num Pambenyl, um xarope que produzia surtos de alucinação, sendo muito usado pela moçada da época. Talvez o desbunde fosse um atalho utilizado por ele para vencer a sua inata timidez.

Falávamos de futebol, chegamos a bater umas peladas nas quadras de futebol de salão do bairro, mas nossa amizade foi superficial, sobrevivendo enquanto durou o namoro dele com a Silvana. Até o irmão do Lô, o grande compositor Marcio Borges, passou pelo barraco. Compartilhamos um jantar, um beise e não passou disso.

O grande evento surgiu quando meu amigo e parceiro, o saudoso Paulinho Carvalho, compôs a trilha sonora da peça infantil de minha autoria, Os Bichos Fugiram do Zoológico!!! Na época, como baixista, Paulinho acompanhava LB, pra quem ele apresentou uma das músicas que compusemos em parceria (eu e Paulinho): Olha o Bicho Livre. Lô curtiu a música que logo foi gravada por ele no álbum Via Láctea. Fiquei muito feliz por essa realização!

Os anos se passaram, Lô gravou sucessos como: “Para Lennon e McCartney”, “Tudo Que Você Podia Ser”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “Trem de Doido”, “O Trem Azul”, “Nuvem Cigana”. Sua bem-sucedida carreira o colocou como um dos artistas mais importantes da MPB, ícone do Clube da Esquina. Infelizmente, Paulinho Carvalho partiu muito cedo, deixando saudosas lembranças, pois sempre foi um cara muito querido. De vez em quando ouço Olha o Bicho tocando em algum lugar e me dá um aperto no coração ao pensar que o amigo PC ainda poderia estar por aí, para que pudéssemos compor mais algumas canções.

Nas minhas muitas andanças por BH, às vezes encontro Lô em lugares e horários imprevisíveis. Sentamos para uma prosa rápida, falamos da vida, da arte, da música e depois, cada um toma o seu rumo sabendo que em algum momento voltaremos a nos encontrar.

Agora vem a cabulosa (Lô é cruzeirense!) notícia da doença que pegou o amigo de jeito. Sabemos que a saúde de LB está abalada, mas desconhecemos as causas que o levaram a esse quadro complexo e sofrido. Torcemos e oramos, pedindo aos Deuses da Música que estendam seu manto sobre o Lô, defendendo seu corpo e espírito para que ele supere todos os males e se recupere plenamente. Tamujuntu, Lô, tudo vai ficar legal!

Pitacos e revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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