Crônica Jeff Beck
Crônicas Musicais

Crônica Jeff Beck

JEFF BECK: “Existem muitos guitarristas que tocam como (se o instrumento fosse) uma máquina de escrever. Tecnicamente, eles são ótimos, mas esse não é o meu estilo.”

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Os Guitar Heroes (Heróis da Guitarra) são certamente uma das instituições mais celebradas pelos fãs do rock and roll. A lista de músicos e as predileções dos ouvintes são díspares e diversas. Existem astros da guitarra para todos os gostos e paladares, dos mais clássicos até os do metal pesado. Hoje quero destacar um que é da minha preferência: Jeff Beck (1944-2023).

Ao longo da carreira, JB passou por rock, jazz, blues, hard rock, funk e até música eletrônica. O músico experimentou os muitos efeitos e distorções de guitarra e fez a ponte entre o rock psicodélico, o blues e o que se tornaria o heavy metal. Beck começou a carreira como guitarrista de estúdio. Em 1965 entrou para o Yardbirds, substituindo Eric Clapton, que saiu do grupo. Dezoito meses depois se afastou da banda em função de problemas de saúde e dificuldade de relacionamento com os outros músicos. Fundou seu próprio grupo, o The Jeff Beck Group, em 1967, com a participação de Rod Stewart e Ronnie Wood. Obtiveram relativo sucesso, mas JB estourou mesmo ao gravar seu o álbum solo Blow by Blow.

O álbum Blow By Blow, de 1975, foi considerado pela crítica uma obra de jazz-fusion. Foi produzido por George Martin, o mago dos sons que impulsionou a carreira dos Beatles. Martim era produtor musical, arranjador, compositor, engenheiro sonoro, músico e maestro. O disco alcançou o Top 5 da Billboard e, vendendo um milhão ou mais de cópias, tornou-se um sucesso de platina.

Em uma entrevista JB declarou:

—Li uma resenha de um show do Ronnie Wood, e diziam algo como: ‘Ronnie Wood, diferente de certas pessoas, sabe a hora de parar’. Eu fiquei vermelho. Pensei: Eles estão falando de mim! E aquilo mexeu comigo. Usei essa crítica de forma construtiva.

No mesmo papo, Beck foi direto ao comentar sobre um antigo parceiro de cena.

—Você fala dos anos 1970…Solos de guitarra de 20 minutos, sem pausa, nota ligada em nota, sem respiro. O último show que vi foi o auge de tudo que eu não queria ser, ficar ali repetindo por horas o mesmo riff.

O alvo da crítica era Eric Clapton, com quem Beck teve uma relação de admiração mútua, mas também de muitas diferenças artísticas.

Em vez de seguir pelo caminho do excesso, Jeff Beck preferia músicos que sabiam o valor do silêncio:

— Fui muito influenciado pelo Scotty Moore, Albert Lee e Steve Cropper, eles sabiam exatamente a hora de tocar ou ficar calado. O riff enxuto do Cropper em ‘Green Onions’ é genial. Esses caras são reis.

— As coisas tomaram um rumo estranho no início dos anos 70, explicou Beck. Mas tudo mudou quando ouvi John McLaughlin. Eu pensava: Isso é um pouquinho de mim. Vou pegar um pouco disso.

Essa busca pela medida certa se refletiu em discos como “Emotion & Commotion” (2010), em que Beck priorizou fraseado, melodia e sentimento. Mais do que impressionar pela técnica, ele queria tocar a alma de quem ouvia. JB não renegava seu passado, mas deixou claro que seu objetivo sempre foi evoluir — e manter distância da caricatura do guitarrista que toca demais e diz pouco.

Particularmente, gosto muito do álbum Wired (1976). Ao escutá-lo sinto um JB maduro apresentando belas composições, cheias de swing e criatividade. O álbum foi produzido em colaboração com Jan Hammer, tecladista conhecido por seu trabalho em jazz-fusion e contou com a participação de um elenco de músicos de altíssimo nível. A crítica especializada aclamou Wired como um marco capaz de estabelecer novos padrões para o rock instrumental.

O grande compositor de trilhas de cinema alemão, Hans Zimmer (Gladiador I e Duna, dentre outras) convidou JB para participar da trilha sonora de Dias de Trovão, um filme de ação dirigido por Tony Scott e estrelado por Tom Cruise. Observando a ligação de Jeff com o seu instrumento, Zimmer fez a seguinte observação:

— A Fender Stratocaster, para mim, é uma obra de arte absoluta. Sua forma é atemporal, seus componentes eletrônicos nunca mudaram, mas o que ela faz de tão extraordinário é amplificar o músico. Jeff Beck soa totalmente diferente de Stevie Ray Vaughan, que soa totalmente diferente de Mark Knopfler. A individualidade de cada um é amplificada por aquele pedaço de madeira, com alguns ímãs e algumas cordas de aço. É fantástico!

As fotos e vídeos de Jeff, o mostravam como um cara que vendia saúde, forte e jovial, porém veio a surpreendente notícia de que ele havia contraído uma meningite bacteriana. Com a mesma rapidez de um veloz solo de guitarra a infecção pôs fim à vida de Jeff Beck. Ele tinha 78 anos. Sua música e a sua arte seguem rumo à eternidade.

Viva Jeff Beck!

Peguei carona em: https://whiplash.net/materias/news_683/369433-jeffbeck.html

Link de Wired:

Pitacos e revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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Para ler mais crônicas, acesse: https://caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/