Crônica Fausto Fawcett
Crônicas Musicais

Crônica Fausto Fawcett

FAUSTO FAWCETT: o swing do sheik de Copacabana

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Não sei por que razão cheguei atrasado (isso não costuma acontecer) a um desses papos com artistas que se realizam em BH. O convidado da noite era Fausto Fawcett, escritor, compositor e cantor que faz de Copacabana o seu “sertão”, como o grande Guimarães Rosa fez dos confins de Minas Gerais o universo mítico e mágico de suas narrativas. Quando entrei no teatro já havia sido aberto o diálogo entre o artista e a plateia. A conversa estava murcha, resolvi meter a colher de pau. Fiz uma primeira pergunta ao Fausto que respondeu de bate pronto. Fiz uma segunda e ele percebeu que eu devia conhecer mais a sua obra do que a maioria dos ali presentes. Já li seus livros e conheço bem suas músicas, muito além da previsível “Kátia Flávia, a Godiva do Irajá” (em parceria com Claudio Laufer, 1987) que foi o ponto alto da carreira de FF. O papo fluía legal, e o resto do pessoal passou a nos acompanhar com atenção, inclusive fazendo perguntas e comentários. Eis que o produtor/apresentador do evento tomou a palavra e decretou o fim do evento. Meio perplexo com a tosqueira do sujeito, preferi sair à francesa e nunca mais tive a oportunidade de rever Fausto ao vivo.

Continuei acompanhando sua carreira, curtindo seus CDs como Básico Instinto, onde, acompanhado pela Falange Moulin Rouge, que era um grupo musical e um time de loiraças escolhidas a dedo: Regina Soares, Kátia Bronstein, Luzia Mayer, Gisele Rosa e Marinara Costa. Além de exibirem seus bem esculpidos corpos, as blondes ainda faziam os backing vocais, que incluiam suspiros e gemidos pra lá de sexies. O álbum traz canções de um pop pesado que flerta com o cyberpunk, o rap e até arranha de leve o samba de breque. As letras tratam de louras desvaraidas, do sexo alucinado, do caos que impera numa Copacabana espremida entre as favelas e o mar (que nem sempre está pra peixe). Qualquer semelhança com as Mulatas de Sargentelli não é mera coincidência.

Acabei de ler agora que Básico Instinto é também o título de um livro que traz seis contos de FF. A temática é recorrente: “Nesses admiráveis mundos novos circula a fera com autoconsciência condenada ao sexo, ao amor/ódio e, principalmente, aos delírios religiosos, científicos e morais”. O livro foi publicado originalmente em 1992 pela Editora Arte & Letra.

Nos últimos anos, Fausto Fawcett voltou às manchetes culturais. Lançou um novo livro: Pesadelo Ambicioso, 2022. Virou tema do documentário Fausto Fawcett na Cabeça, dirigido por Victor Lopes, que está em cartaz nos cinemas. Além de lançar este ano um novo álbum: Favelost.

Em um trecho de entrevista, Fausto Fawcett diz:

“— Estamos vivendo uma fricção científica. Estamos friccionando nossos corpos em objetos tecnológicos, cada vez mais. O mundo já foi religioso, político e agora é predominantemente tecnológico — diz. — Isso foi só exacerbado nesses 30 anos. Para cada minuto de civilização, foram cinco de barbárie. O resultado não é só violência, mas evasão, desencontros com o mundo, inércias. E que geram desamparo, pois a maioria das pessoas não tem veia mística pulsando pra se ligar na dissolução do ego. Então, queiram ou não queiram, vão receber sinais. Passamos do ponto e agora temos que lidar com esse “limboceno”. Todos os caminhos de alucinação do progresso nos levaram a transformar o mundo num fenômeno extremo, como se as pessoas também quisessem se transformar em fenômenos extremos, doa a quem doer, de qualquer forma.” (Jornal O Globo)

O conceituado cineasta Cacá Diegues comparou Fausto Fawcett a Jorge Mautner pela sua capacidade de aguçar a observação do mundo e o chamou, por conta de seu talento e estilo narrativo, de “Guimarães Rosa urbano”.

Trailer de Fausto Fawcett na Cabeça:

https://www.youtube.com/watch?v=vzAzv2LaRNM

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

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