Crônica Creedence
Crônicas Musicais

Crônica Creedence

CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

A banda que desafiou os Beatles

Em 1970, Paul McCartney anunciou que estava saindo dos Beatles, na sequência os outros membros declararam que a jornada da banda chegava ao fim. Nesse mesmo momento o Creedence Clearwater Revival avançava na Inglaterra, apresentando-se no grande palco londrino, o Royal Albert Hall, com grande êxito.

Em 1969 o Creedence realizou a façanha de lançar em menos de um ano três álbuns de enorme sucesso: Bayou Country, Green River e Willy and the Poor Boy. Nesse ano as vendas de discos do CCR superou a dos Beatles e cinco de suas canções chegaram ao topo da parada de sucessos.

Eu tinha menos de 17 anos quando Emílio “Pica Pau” me convidou pra ser empresário da banda que estava criando: “Black Mail Cia.”, grupo especializado em covers, destacando-se o som do Creedence Clearwater Revival, de quem Emílio era fã incondicional. Não entendi bem a razão do convite. Talvez quisesse me dar a chance de fazer alguma coisa, talvez achasse que eu levava jeito pro negócio… Como era de se esperar, eu não tinha nenhuma tarimba ou experiência pra me meter a ser “empresário” de uma banda, mas como tinha Emílio em alta conta, fui logo aceitando. O Black Mail era um trio composto por ele, Emílio, na batera, Fernando Bocca na guitarra e vocais e Paulinho no baixo. O repertório era um apanhado do melhor do rock and roll produzido nos anos de 1960/70, com ênfase no CCR.

Na ocasião, o Creedence não era uma das minhas bandas favoritas. A batida básica, me soava simplória, a levada, que lembrava o yê-yê-yê brasileiro, me fazia torcer o nariz para as suas canções. Hoje entendo o contrário: o CCR é um dos melhores grupos da época, tem um estilo marcante e as composições são sensacionais. John Fogerty é o cara! Seja junto com CCR ou nos seus álbuns solos, consegue fazer música popular de alta qualidade. Ouço sempre seu som com renovado prazer.

Mesmo estando na Califórnia o CCR não aderiu à onda do acid rock e não se enveredou pela moda das músicas longas, cheias de improvisos e solos. Manteve-se fiel ao estilo que o levou a emplacar grandes sucessos: o swamp pop. Ritmo que incorpora ao R&B toques da música negra com raízes no sul da Lousiana. As canções, naquela média dos 3 minutos, tratam de temas sociais e caíram no agrado popular. Proud Mary, Green River, Cotton Fields, Bad Moon Risisng, Who’ll Stop the Rain?, além de Midnight Special, minha favorita, estouraram nas paradas de sucesso disputando o topo com os Beatles.

A banda contou com a importante participação de Tom, irmão mais novo de John Fogerty, que assumiu os vocais e a produção do grupo. Apesar do sucesso, a convivência entre os membros do CCR era insana. Egos em polvorosa levaram à dissolução da banda em 1971, quando John Fogerty anunciou a sua saída. Tom teve morte trágica: contraiu o vírus da AIDS numa transfusão de sangue e não resistiu a uma tuberculose fulminante.

Stu Cook e Doug Clifford, baixista e baterista do antigo grupo, fundaram o Creedence Clearwater Revisited que na verdade revisitava os sucessos que o público curtia. Especializaram-se em longas turnês tendo tocado inclusive no Brasil.

Pra encerrar, vem a boa notícia que John Fogerty conseguiu em 2023 resgatar os direitos autorais de suas próprias composições. Depois de um imbróglio jurídico que durou anos, teve ganho de causa e pôde retomar a posse do seu patrimônio artístico.

Ah, o Black Mail Cia teve vida curta. Fizemos alguns bailes, dentre eles o de estreia, descolado por uma amiga num clube em Oliveira–MG. Rolou mais uma coisa ou outra mas o Emílio, fiel ao seu estilo, sem avisar a ninguém, deu o fora. Pegou a namorada e embarcaram num voo para New York de onde jamais mandou notícia. Pelo que sei, nunca mais pisou nas terras brasilis.

Segue um aperitivo, Midnight Special com o Credence Clearwater Revival https://www.youtube.com/watch?v=WNFsS5pYO3A

Revisão e pitacos: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

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