OS 4 CAVALEIROS DO APOCALIPSE – Marco Antônio Araújo, Fernando Bocca, João Boamorte e Paulinho Carvalho
Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste
Na companhia de meus parceiros Fernando Bocca, músico, e o poeta Sérgio Gama, bati na porta do músico e compositor Marco Antônio Araújo, mineiro de BH, que na ocasião morava no Rio num apartamento em Copacabana. Marco abriu a porta, nos abraçamos e fomos pro seu quarto. Um colchão de solteiro no chão e, ao lado dele, um baseado que ele logo acendeu.
— O primeiro do dia! Falou sorrindo.
O violão estava encostado na parede, junto de alguns livros empilhados. Desapego e transição. Ele estava trocando BH pela Guanabara em busca de maior espaço para a exposição de sua música. Fomos tomar o café da manhã constituído de um pão integral bem pesado, artesanal, que degustamos com tahine, a pasta de gergelim. Para beber, banchá, muito usado na macrobiótica. Era a primeira vez que provava esse tipo de alimentação. Gostei.
Na época, Marco Antônio Araújo estava alçando grandes voos. Suas composições, de ricas harmonias, dialogavam com o rock progressivo e com músicos do quilate de Paulo Moura e Egberto Gismonti. É importante lembrar que Marco Antônio era violoncelista e tocava violão clássico. Morreu em 1986, com apenas 36 anos, deixando quatro LPs gravados através do seu selo Strawberry Fields. Em agosto passado, o escritor Paulo Roberto de Andrade lançou a biografia “Marco Antônio Araújo – Entre a Música e o Silêncio”.
Daria pra escrever um livro narrando as peripécias vividas por mim e Fernando Bocca nas quebradas do mundaréu, como diria o grande Plínio Marcos. Bocca era um cara de enorme coração, gostava dum agito, falava com todo mundo e arrumava altos rolos. Vivemos nossa fase on the road pegando carona em muitas estradas. Estivemos juntos com os Novos Baianos no farol da Barra, andamos bastante pelo Espirito Santo, muitas vezes em Vitória, outras em Guarapari onde, inclusive, estivemos no primeiro Festival de Rock realizado no Brasil. Bocca mambembou pelos States, teve seu filho Django, passou temporadas na Guanabara na companhia de feras como Tim Maia, Sérgio Sampaio e Luiz Melodia.
Compusemos cerca de 20 músicas, algumas lançadas em CD. Dentre elas estavam Armação de Búzios e O Mundo É Barra (versão de Wild World de Cat Stevens). Em outro momento ele lançou um compacto de vinil contendo alguns clássicos da música que estava sendo criada e produzida em BH: Bota Lenha (Fernando Bocca, João Boamorte e Abner do Nascimento) e Um Abraço Terno (Fernando Bocca e Abner do Nascimento). Fernando Bocca partiu muito cedo, vítima de devastadora osteoporose, acompanhei o amigo em seus últimos e sofridos momentos. Fernando seguiu viagem, deixando muitas saudades.
Eles tinham apelido de os Penteado, moçada do bairro da Serra em BH. Dentre eles, grandes amigos como Mário Ulisses, Rosely, Neri, Antenor e muitos outros como a estrela da rapaziada, o cantor e compositor João Boamorte. Meu contato com ele foi através do Bocca, estivemos juntos algumas vezes, levando altos papos, regados com música e poesia. Através do João conheci outro grande compositor: Abner do Nascimento, que também já se foi. Pedra de Atiradeira foi um dos grandes sucessos da dupla, João e Abner, chegando a ser classificada para o Festival de Música da Rede Globo de 1981. João Boamorte lançou em 1992 o LP Planeta Coração, que virou CD, trazendo um belo apanhado da produção do artista. João sofria de asma e morreu muito jovem, deixando uma lacuna na produção musical mineira. Fazia parte desse grupo de músicos (muitos moravam no bairro Primeiro de Maio em BH) outro grande amigo meu, o cantor e compositor Gil da Mata que felizmente está vivo, muito vivo! Aproveito pra mandar meu abraço a ele.
Emendo o assunto trazendo Paulinho Carvalho, músico e compositor. Baixista de mão cheia, tocou com grandes nomes da MPB, dentre eles Milton Nascimento. Quando eu tinha o Grupo de teatro Pinta e Borda, dedicado à montagem de espetáculos para crianças, convidei Paulinho pra fazer a trilha sonora da peça Os Bichos Fugiram do Zoológico!, que estávamos produzindo. Dentre as composições, pintou Olha o Bicho Livre (Rodrigo Leste – Paulinho Carvalho) que foi gravada por Lô Borges no seu LP Via Láctea. Paulinho Carvalho era um cara divertido, gente boa, que frequentava a noite de BH, batendo papo com todo mundo e tomando umas. Era figurinha carimbada nos bons tempos do emblemático Bar do Lulu, no bairro do Santo Antônio. Passo a bola pro meu parceiro Marcos Kacowicz que conta pra gente um causo envolvendo Paulinho. Fala Marquinhos:
— Um dia fui com o amigo Fernando Oly (músico e compositor) na casa do também baixista Gerdson Mourão que o Paulinho não conhecia. Devidamente apresentado, Carvalho vira pro Gerdson e fala:
— Que nome diferente! Gerdson! Nunca tinha ouvido antes.
O Gerdson responde:
— Foi tirado do nome dos meus avôs Geraldo e Edson.
O Paulinho retruca na lata:
— Ainda bem que seu avô não se chamava Paulo, senão você ia se chamar Pauldson!
Revisão e pitacos: Hiláriio Rodrigues
Colaboração no texto: Marcos Kacowicz
Montagem das fotos: João Diniz
Colaboração midiática: @Rodrigo_Chaves_de_Freitas || @caleidoscopiobh (Portal Cultural)
Para ler mais crônicas, acesse: www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/
Leave a Reply