Crônica Buenos Aires Rock
Crônicas Musicais

Crônica Buenos Aires Rock

LATINOAMEROCK & LOS HERMANOS DISTANTES – por João Diniz

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Hoje passo a bola prum grande amigo: João Diniz, o poeta arquiteto, parceiro na +Q1 produções (performances, vídeos, publicações). Fala, João:

Dizem que vizinhanças geram proximidades, mas não é bem isso que acontece entre Brasil e Argentina no campo da música e do Rock. Enquanto os jovens de lá conhecem boa parte da produção do pop brasileiro, nosotros aqui no patropi raramente ouvimos uma música em espanhol, ou conhecemos algum músico e artista de lá.

Mas este não é o meu caso e do meu mano Marcio Diniz, que por um senso de diplomacia roqueira mergulhamos desde cedo nas águas do rock argentino que acessávamos através de difíceis garimpagens.

De cara o disco ‘Vida’ do Suis Generis, formado em 1969 por Charly Garcia e Nito Mestre, nos impressionou por seu criativo folk acústico em espanhol e a bonita balada de estranho nome: ‘Canción para mi muerte’. Aliás, Charly protagonizou a cena mais impressionante que qualquer roqueiro mundial jamais produziu, ao saltar do 9o andar de um quarto de hotel em Mendoza, acertando precisamente uma pequena piscina no térreo, de onde saiu ileso. Há dúvidas sobre sua sobriedade e intenções ao empreender este mergulho.

O folk argentino tem também outro herói: Leon Gieco, autor de belíssimas canções de contestação que soam como Dylan e que prestaram papel importante na resistência aos duros tempos ditatoriais do país.

Numa outra empreitada, em meio à produção de belos discos solo, como compositor, cantor e tecladista, Charly criou em 1978 a banda Seru Giran. Em quatro anos de atividade o Seru produziu um rock progressivo com pegada latina de grande impacto e originalidade.

Recomendo a série televisiva ‘Quebra Todo’ que mostra a história do rock na América Latina (excetuando o Brasil). Nela podemos ver que ao lado dos bandeneons do tango e das flautas andinas, os latino-americanos têm também, a seu modo, forte vocação para a contracultura, a rebeldia e a atitude libertária através da arte musical.

A partir do conceito ‘Estética do Frio’ proposto pelo compositor e cantor gaúcho Vitor Ramil, cheguei a pensar se não existiria uma trindade internacional representativa de uma estética sulista formada por ele, pelo uruguaio Jorge Drexler e pelo argentino Fito Paez.

Drexler, radicado em Madrid, tem uma importante obra unindo influências diversas, inclusive brasileiras, com um senso sonoro particular que une instrumentos tradicionais a programações eletrônicos, em paralelo à uma poética surpreendente leve, crítica e bem humorada.

Mas é Fito Paez, argentino de Rosário, que talvez melhor sintetize o espírito híbrido do rock latino americano. Ele participou, quando adolescente, da banda de Charly Garcia, aprendendo lá, e em outros estudos, tudo e mais um pouco. Fito comemora neste 2023 os 30 anos de lançamento de seu disco de maior sucesso ‘El amor después del Amor’. Este disco reúne vínculos locais às ações mais inovadoras do pop rock internacional, e apesar de suas complexidades harmônicas e melódicas é muito amado por roqueiros dos países de língua espanhola.

Paes regravou recentemente todo o disco, na mesma ordem do anterior, com novos arranjos e convidados. Deste novo álbum participam os brasileiros Mariza Monte e Chico Buarque que, na canção ‘Pétalo de Sal’, substitui Luís Alberto Spinetta, outro gênio do rock argentino falecido em 2012 aos 62 anos, e grande incentivador de Fito no início de sua carreira. Junto a este novo álbum foi lançada também a série televisiva de mesmo nome, que relata a saga do menino do interior atormentado por seu próprio talento, pelos perigos políticos de sua pátria nos tempos da ditadura, e pelas tentadoras delícias e excessos do rock and roll.

Com certeza existem vários outros nomes na trajetória roqueira da Argentina e latino-americana. Acho que o público brasileiro ganharia muito se paralelamente a se interessar prioritariamente pela produção da música nacional, reconhecida em todo o mundo, prestasse mais atenção aos movimentos culturais de seus países vizinhos.

Que a barreira da língua não seja também a barreira dos ouvidos.

Links:

O salto de Charly:

‘Os dinossauros’, canção de Charly sobre os desaparecidos políticos

Fito e Spinetta cantando ‘Pétalo de Sal’

Série ‘Quebra Todo’:

https://brasil.elpais.com/…/quebra-tudo-uma-historia…

Revisão: @HilarioRodrigues

Colaboração midiática: @Rodrigo_Chaves_de_Freitas

Para conhecer mais sobre a história do Rock’Roll, acesse:

https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/rock-roll/

https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/rock-roll/

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