Crônica Bob Dylan
Crônicas Musicais

Crônica Bob Dylan

BOB DYLAN – as pedras que rolam, sempre vão rolar.

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

As canções desse homem

surgem nascidas na pele macia da rosa branca de abril.

Carregadas pelo vento,

sobrevoam os campos de petróleo,

e através da fumaça expelida pelos carros,

formam nuvens, dirigíveis cinzentos que

alcançam todo o país.

O canto do menestrel é equipado de olhar

que desvenda toda a pobre grandeza da Terra.

Reconhece a triste maravilha

da caminhada humana por uma América desolada

marcada pela insana saga de gente vinda de todos os lugares.

Sim, os desvalidos dos quatro cantos do mundo

almejam embarcar num navio

que os conduza à meca da prosperidade,

querem se embebedar do americano ouro que jorra em profusão.

“Todos são ricos em Nova York”,

pensam os ingênuos que querem fazer da América

sua pátria e sua mãe e mamar nas suas generosas tetas.

E foram esses imigrantes que construiram

uma nação onde mísera riqueza prolifera

fervilhando no caldeirão das grandes contradições.

E aqui entra Bob Dylan, que canta a desventura

dos que se depararam com a cruel realidade

de um país feito para desiguais,

onde os homeless vivem à mercê da desmedida ganância dos soulless.

A dylanesca música revela que para alguém ser muito rico

é preciso haver uma multidão de pobres e miseráveis,

e cabe ao forasteiro iludido, limpar as latrinas,

fazer o trabalho sujo, carregar o gigante nas costas.

Enquanto isso, milionários acendem seus charutos

em notas de 100 dólares

assistindo de camarote o espetáculo do auspicioso e contínuo

crescimento de suas riquezas.

A terra das oportunidades é cantada por um homem que tem

ventos de mudança soprando no coração

e uma chuva pesada que não para de cair nas suas costas.

Da fonte inesgotável de criatividade de Bob Dylan,

jorram canções de todos os tipos e sabores:

do mais amargo lamento

ao doce hino de esgarçadas esperanças

que ainda sobrevivem no peito.

Seu repertório é feito de todos os gêneros:

do blues às baladas, do folk ao jazz, country e swing.

Tudo construído em estilo personalíssimo,

onde longas letras fundem-se a melodias incomuns

e arranjos inusitados.

Na frente do som surge uma voz sem nenhum glamour,

que segue na inteira contramão da receita

da música pop de sucesso.

Seu ininterrupto êxito, pontuado por inúmeros hits,

é mistério que desafia a lógica

da indústria musical americana e mundial.

E deixa os críticos perplexos:

“— Como um cara de voz limitada, anasalada, que

compõe umas músicas esquisitas, está sempre nas paradas?!”

Com mais de 80 anos, Bob Dylan não pendurou o chapéu,

continua compondo, produzindo e fazendo shows.

Por isso, estejam certos: as pedras que rolam, sempre vão rolar.

Revisão: @HilarioRodrigues

Colaboração midiática: @Rodrigo_Chaves_de_Freitas

Para conhecer mais sobre a história do blues, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/blues/

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