Crônica Blues na Praça
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Crônica Blues na Praça

BLUES NA PRAÇA – Vida ao vivo pra todos nós

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Rolam inúmeros eventos por aí. Na sua grande maioria são shows trazendo um tipo de som do qual quero distância. Assim, foi com grande prazer que vi o anúncio do Blues na Praça, evento gratuito na Praça Alaska, em BH. Na companhia do broder de todas as horas, João Diniz, baixei no meio da tarde de sábado no bairro Sion, onde estava rolando a parada. Que barato ver gente de todas as tribos, idades, ideologias, reunida em torno do som maneiro do blues, que não é muito difundido por aqui.

As barraquinhas, oferecendo quitutes diversos, fazem o maior sucesso e lembram as antigas quermesses, com mesas e cadeiras acolhendo famílias, crianças, velhos sozinhos ou acompanhados. Dei uma espiada nas opções e fiquei com uma deliciosa empanada de gorgonzola com alho poró. Supimpa! Tava com uma fome danada pois tinha assistido junto com João o filme Manifestação, de outro broder, o cineasta Fábio Carvalho. A exibição se deu na Escola Guinard, referência nas artes plásticas em Belô, com uma sala cheia de gente bacana que prestigiou o lançamento.

João mandou logo o seu primeiro chopp enquanto dávamos um rolê observando a cena amena e festiva. Logo comecei a encontrar gente das antigas:

— Opa! Você por aqui! Não nos vemos há 500 anos e só mesmo o som pra nos proporcionar este encontro!

Pessoas simpáticas, diversas, as quais certamente tinha ideia de quem eram, mas, como diz Eric Burdon numa de suas canções: “Não lembro seus nomes, mas me lembro bem de seus rostos.” Abraços, velhas lembranças sendo içadas de nossas memórias e o som comendo solto. Aliás, demos sorte porque logo depois que chegamos na praça começou a rolar o show de Alexandre Araújo, referência do blues em BH. Ele deve ser o mais longevo representante do gênero em terras mineiras. Alexandre toca um blues de raiz apresentando covers muito bem interpretadas de grandes mestres: de Willie Dixon a Howling Wolf, passando por Muddy Waters, Buddy Guy e certamente chegando ao grande BB King. Com uma banda de apoio de alta qualidade, AA toca uma guitarra refinada, destila simpatia e manda muito bem nos vocais.

A plateia se esbaldava fazendo filmagens, selfies, balançando os quadris enquanto mandava um chopp de primeira ou um vinho primoroso. E tome comida mineira que era a grande atração das barraquinhas, incluindo o indefectível “feijão tropeiro”, o mais pedido nos estádios (hoje, arenas) de futebol, e outros pratos também muito apreciados.

E lá pelas tantas encontro um amigão das antigas: Marquinhos “Preto”, dono do campinho onde rolavam as animadas peladas das tardes de sábado, o “Malucão”. Lá era o cenário onde os grandes fominhas de bola desfilavam o seu pseudo “futebol arte”, isso porque a grande maioria dos jogadores era gente envolvida com arte. Claudio Venturini, do 14 Bis (mais conhecido por nós como Ganso), estava sempre presente, o percussionista Bill Lucas e o cantor Renato Guima (ambos do Lombinho com Cachaça), o baixista Paulinho Carvalho, o Sá, da dupla com Guarabyra, andou aparecendo, além do “goleador azul do Malucão”: Marquinhos Kacowicz, expertise em música pop, que não perdia uma.

O Marquinhos Preto (que é apenas moreno) logo no início do papo soltou essa:

— Devo ser o mais “preto” aqui do pedaço (isso porque o evento tinha a participação dos moradores do Sion, na sua grande maioria brancos, de classe média alta).

Continuamos a prosa e por mais de uma vez Marquinhos falou de maneira sentida:

— Os meus melhores amigos já foram, muitos morreram.

Falou principalmente do seu superamigo Paulinho Carvalho (meu broder também), que morreu de maneira precoce. Paulinho faz muita falta na cena musical dessas Gerais porque além de ter tocado com feras como Milton Nascimento, Lô Borges e Beto Guedes, era um sujeito muito divertido, sempre mandando umas gagues bem humoradas. Aliás, já comentei anteriormente (em outra crônica) que, com Paulinho, compus a música Olha o Bicho Livre, gravada por Lô Borges.

Um amigo de outro amigo me pôs pra falar por vídeo com o Ricardo “Lokinha”, com quem, na adolescência, brinquei de montar uma “banda” que imitava os Beatles. Mero exercício de ingenuidade pois não havia nenhuma competência musical, rsrs. De qualquer forma rever o Lokinha tantos anos depois foi um barato! E eis que surge outra figura folclórica de BH: Keta, cantor do It’s Only Rolling Stones (cover dos RS) que distribuía sorrisos e abraços. Alguém observou bem:

“— O Keta é engraçado, tenta ser mais Mick Jagger do que o Mick Jagger!”

O Blues na Praça contou ainda com mais duas atrações: a banda Sunshine Woman, liderada por Bárbara Rocha e a School of Rock, apresentando a nova geração de blueseiros de BH. A música é sem dúvida, a grande atração do evento, mas diria que tirar as pessoas de dentro de casa, promover encontros, resgatar o prazer “da vida ao vivo”, é o melhor de tudo. Afinal, nesses tempos virtuais, voltar a ser gente faz toda a diferença! Bom demais!

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

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