Crônica Big Boy
Crônicas Musicais

Crônica Big Boy

— HELLO, CRAZY PEOPLE! AQUI FALA BIG BOY

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Vivíamos os anos de chumbo no Brasil. A ditadura militar governava com mãos de ferro, restringindo as liberdades individuais e impedindo qualquer forma de organização coletiva. —Reunir mais do que 30 pessoas era considerado uma grave ameaça à famigerada segurança nacional. Foi exatamente nesse cenário que surgiu aquele que seria o patriarca dos DJs que hoje proliferam por aí: Big Boy (Newton Alvarenga Duarte, 1943 – 1977). No final dos anos 60 ele começou a atuar mantendo dois programas na Rádio Mundial, 860 AM, do Rio de Janeiro: Ritmos de Boate e Big Boy Show. Paralelamente, realizava um programa semanal especializado em Beatles, o Cavern Club.

Big Boy, um ex-pacato professor de Geografia, rompeu com o estilo antiquado e careta dos locutores de rádio. Ele teve a audácia de usar uma linguagem nova, descolada, que traduzia a maneira de falar da juventude em várias partes do mundo. A moçada no Brasil, naqueles anos, buscava uma interlocução com o mundo pop, com a onda do rock and roll que arrebentava em todo o planeta através dos grandes sucessos dos Beatles e dos Rolling Stones. A maneira de fazer rádio de Big Boy agradou em cheio e seus programas alcançavam imensas audiências em todo o país.

O sucesso do rádio atraiu a atenção dos mandachuvas da TV e BB ganhou na TV Globo um programa próprio, aos sábados, em 1972, que não poderia ter outro nome que não Hello, Crazy People. Em parceria com o DJ Ademir Lemos, Big Boy transformou-se num grande agitador cultural ao organizar os Bailes da Pesada, inicialmente numa temporada no Canecão tocando clássicos de nomes como James Brown, Tony Tornado, Tim Maia e The Stooges. Depois o evento circulou pela zona norte carioca e municípios da Baixada Fluminense. Suas gravações exclusivas e os hits modernos do funk e do soul eram muito apreciados pelo público, deixando as sementes dos Bailes Funk que hoje rolam por aí.

Os últimos lançamentos da música norte-americana e europeia, alguns deles sequer postos à venda, eram promovidos por BB em seus programas. Para isso, ele mantinha uma vasta rede de contatos com artistas, gravadoras, produtores, além de contar com a ajuda de comissárias de bordo que traziam bolachas fresquinhas pro locutor. Além disso, ele mesmo fazia viagens ao exterior a fim de garimpar as novidades da música pop.

Em suas andanças, Big Boy tornou-se próximo de ícones da música como Beatles e James Brown, do qual inclusive promoveu shows numa turnê brasileira, patrocinada pela Rede Tupi de Televisão, no começo dos anos 70.

Em 1970, em Londres, BB conseguiu, com a ajuda de um amigo, entrar no estúdio da Apple, onde os Beatles gravavam Let it Be. Com um gravador portátil escondido na roupa, ele conseguiu gravar a música. Mas teve que sair correndo do local quando os funcionários da gravadora descobriram o que o radialista tinha acabado de fazer. De volta ao Brasil, tocou Let it Be em primeira mão no mundo. Os fãs brasileiros dos Beatles comemoraram o feito do apresentador.

Big Boy tinha um acervo de 20 mil títulos, entre LPs e compactos; grande parte formada por discos importados: rock, jazz, soul music, rock progressivo, música francesa, trilhas sonoras de filmes e orquestrais. Em 1977 BB foi vítima de um infarto provocado por um ataque de asma, num hotel em São Paulo. Foi sepultado no Rio de Janeiro, no Cemitério de São João Batista.

Ironia do destino: o acervo de 20 mil títulos, um patrimônio cultural que Leandro Petersen, 47, filho de BB, herdou do pai, foi posto à venda. Motivo: a necessidade de Leandro arrecadar recursos para prosseguir com a vida em meio a limitações provocadas pela esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada no ano passado.

HISTORIA DO BIG BOY

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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