Crônica Beto Guedes
Crônicas Musicais

Crônica Beto Guedes

BETO GUEDES – UM “SANTOS DUMONT” NA MÚSICA POP

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Foi meu xará, Rodrigo Chaves, quem sugeriu a criação de um texto sobre alguns acontecimentos, narrados por ele, relacionados a peripécias vividas pelo compositor e cantor Beto Guedes.

O músico foi casado com Silvana Chaves, irmã do meu xará. Eles tiveram filhos e viveram muitos lances legais. Aliás, Silvana participou, nos idos tempos, do Grupo de teatro Pinta e Borda, dirigido por mim. Na época nos dedicávamos ao teatro para crianças e Silvana, garota linda e gentil, trouxe a luz de sua graça e talento para nossas montagens. E foi justamente ela quem contou uma passagem maluca vivida pelo casal quando Beto foi convidado para realizar shows em Porto Alegre com Wagner Tiso.

Vamos lá:

Beto assinou o contrato, fez tudo conforme o protocolo, mas na hora de viajar, entrou numa paranoia de pegar o avião. Queria porque queria desistir do evento e largar tudo pra lá. Com muito custo, Silvana conseguiu convencê-lo a ir. Na companhia dos dois, seguiu um dos irmãos de Silvana, um cabeludo chamado Ricardo. Embarcaram, mas, quando o avião desceu em Curitiba e eles deveriam pegar outro vôo pra Porto Alegre, BG entrou em parafuso: não topou entrar na aeronave de jeito algum para concluir a viagem. Ele mesmo propôs uma solução: pegar um taxi e mandar tocar para a capital gaúcha.

Aqui abro um parêntesis: já ouvi vários causos sobre as excêntricas viagens de BG. Ele tinha mania de pegar um taxi no Rio, em Copacabana, p.ex. , e simplesmente dizer pro motorista:

— Toca pra Montes Claros.

O sujeito olhava pra ele espantado.

— Como é que é?

— Toca pra Montes Claros, norte de Minas.

Fazia isso frequentemente, como quem pede pra ir até o Leblon.

Voltando à viagem pra PA, lá foram os três, no taxi que pegaram em Curitiba, descendo rumo ao sul do Brasil. Sem que os passageiros notassem, o motorista ouviu no rádio notícias sobre bandidos, procurados pela polícia, que andavam atuando na região. De repente, sem mais aquela, o taxista parou numa guarita e falou pros policiais:

— Esses aí no taxi são os dois bandidos, cabeludos, e a mulher loura que vocês estão procurando.

O troço virou angu de caroço. Tentaram explicar que se tratava de um tremendo mal-entendido. Usaram todos os argumentos possíveis para convencer os homens da lei que mantinham-se inflexíveis. O mais desconfiado dentre os investigadores, repetia pro delegado:

— Tão baratinando, doutor, é tudo chaveco. Se fosse eu, botava logo no xilindró.

Por fim conseguiram convencer o delegado a ligar pro hotel Kolman, em Porto Alegre, onde havia uma reserva em nome de BG. O policial ligou, e: azar dos azares, a recepção do hotel informou que não havia nenhuma reserva naquele nome. Aí a coisa apertou de vez.

Felizmente, o escrivão presente na cena, teve a idéia de consultar as páginas amarelas de Porto Alegre e constatou que haviam dois hotéis com o nome Kolman. Batata! Ligou pro segundo hotel e de lá veio a confirmação de que havia a reserva em nome do músico Beto Guedes. Ufa!!!

O surreal desse acontecimento é que Beto Guedes tinha, ou tem, verdadeira fascinação por aviões. Tudo começou com os aeromodelos que montava e soltava numa pista que fica lá pras bandas do Posto Chefão, nos arredores de BH. Depois, chegou a montar a asa de um aeroplano na sala de seu apartamento. O resto do bimotor foi montado no antigo aeroporto de Carlos Prates. Além disso, tornou-se piloto, tendo tirado o brevê de amador. Paradoxo! Vai lá entender.

Como não poderia deixar de ser, temos de aproveitar pra tratar do Beto Guedes artista, um dos expoentes do Clube da Esquina. Sua habilidade como compositor o fez ser elogiado por ninguém menos do que o grande Tom Jobim. Filho de peixe, Beto traz o gene da genialidade herdada de seu pai, o grande instrumentista e compositor, Godofredo Guedes. Lumiar e Amor de Índio, ambas em parceria com Ronaldo Bastos, podem fazer parte de qualquer lista do melhor da MPB. Feira Moderna e Sol de Primavera, também entram, e sua voz em Fé Cega, Faca Amolada e Nada Será Como Antes, lhe garantem lugar no primeiro time de nossa música.

Meu amigo, Hilário Rodrigues, que generosamente revisa estas crônicas e gosta de arranhar seu violão, já me falou do apreço que tem por BG; então, passo a bola pra ele dar seu pitaco: “Se a Inglaterra tem os Beatles, eu digo, sem medo de errar, que Minas, e consequentemente o Brasil, tem o Clube da Esquina. Especialmente Beto Guedes. Compositor impecável, junto com Ronaldo Bastos, de lindas canções que alcançam a alma de maneira suave e permanente. Lumiar, O Sal da Terra, Sol de Primavera… é preciso dizer mais? Beto Guedes 4EVER!”

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

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