Crônica BB King
Crônicas Musicais

Crônica BB King

BB KING – o rei da gentileza

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

li e ouvi falar que BB King era a gentileza em pessoa. Tratava bem todo mundo, incluindo seus funcionários e fãs. Sua postura legal ficou evidente pra mim quando realizava um show no Brasil e convidou pra subir no palco Celso Blues Boy, artista que nunca foi muito valorizado por aqui. O “BB” agregado ao nome Celso é evidente homenagem ao rei do blues. Celso, com seu jeito humilde e simples, deve ter ido ao paraíso quando BB lhe passou sua lendária guitarra “Lucille” e com ela nas mãos tocou e cantou junto com o King sua canção Mississipi, homenagem à lenda do blues, Robert Johnson.

A disputa para levar o codinome de King (rei) entre os cantores e compositores de blues nos EUA sempre foi acirrada. Albert e Freddie, ambos grandes bluesmen, agregaram o king aos seus respectivos nomes. Mas BB (Blues Boy) King (16/9/1925 – 14/5/2015) é o mais reverenciado de todos, e o título de Rei do Blues lhe cai bem.

Nascido nos confins do Mississipi, BB (registrado como Riley Ben King) teve destino igual ao dos meninos pobres e negros de sua região: a labuta nos campos de algodão. Na sua autobiografia, escrita com o coautor David Ritz, ele diz:

“— Eu fazia mais do que trabalhar nos campos de algodão. Ajudava a plantar milho e soja. Enfardava feno com ajuda da tração da mula, talvez o trabalho mais difícil de todos. Fazia isso, digamos, de julho até setembro, enquanto esperava que o algodão amadurecesse. Mas, nesse intervalo cortava madeira em uma serraria. E olha que eu tinha apenas sete anos. O gado adorava comer feno mas, cara, enrolar e atar aquele negócio não era mole. Mais tarde, máquinas passaram a fazê-lo.”

Depois da morte de sua mãe, sua avó o largou no mundo aos dez anos. Riley B. King começou a tocar nas esquinas, arrecadando centavos. Ele se juntou ao The Famous St. John’s Gospel Singers como cantor e guitarrista. Mas ele queria alçar voos mais altos: seu grande plano era visitar em Memphis seu primo e proeminente bluesman, Bukka White. Um dia ele resolveu meter a cara, pegou uma carona até Memphis com apenas US$ 2,50 no bolso. Para um country boy (garoto de fazenda), a cidade grande era um enorme desafio, mas ele conseguiu ficar por um tempo com seu primo Bukka White, que lhe deu uma força pra que começasse a se virar com a música.

Depois de um ano tocando na rua e aprendendo com outros artistas que se reuniam na Beale Street, ele teve a oportunidade de se apresentar no popular programa de rádio do cantor de blues Sonny Boy Williamson. Daí em diante a sorte lhe sorriu: logo ele estava tocando em casas noturnas locais e ganhou um lugar regular em uma estação de rádio administrada por negros.

Através do rádio, ele era conhecido como Beale Street Blues Boy, mais tarde abreviado para “Blues Boy” King. Ele fez sua primeira gravação em 1949. Nas décadas seguintes BB estava sempre gravando e fazendo turnês, chegando a realizar mais de 300 shows por ano!

A sorte de King começou a mudar em meados da década de 1960 quando uma nova geração de músicos, dentre eles George Harrison, Eric Clapton, Jimi Hendrix e Jeff Beck, começou a falar dele como uma grande influência. A técnica de BB impressionava estes músicos por apresentar delicadas filigranas de execuções de cordas simples pontuadas por acordes altos, vibratos sutis e notas “dobradas”. A técnica de tocar guitarra rock é, em grande parte, derivada da maneira de tocar de BB.

BB King foi o primeiro cantor de blues a fazer uma turnê pela União Soviética em 1979, nessa época ele também se tornou o primeiro bluesman a entrar no mainstream pop, fazendo aparições regulares em Las Vegas e na televisão aberta. “Eu sou eu”, BB disse à revista Time em 1969, “blues é o que eu faço de melhor. Se Frank Sinatra pode ser o melhor em sua área, Nat King Cole na dele, Bach e Beethoven na deles, por que eu não posso ser ótimo e conhecido por isso no blues?”

Em outubro de 2014, o homem de 89 anos caiu no palco durante uma apresentação na House of Blues de Chicago e cancelou vários shows futuros. King morreu durante o sono em 14 de maio de 2015, em Las Vegas, deixando mais de 50 discos em quase 60 anos de carreira.

A história de B. B. King é a história do blues – da evolução do country acústico para o elétrico urbano ao nascimento e explosão do rock ‘n’ roll. Viva o King, Viva BB King!

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

Portal cultural Caleidoscópio: siga @caleidoscopiobh

Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

You Might Also Like

Crônica Frank Zappa

setembro 21, 2023

Crônica Celso Blues

outubro 13, 2023

Crônica Raul Seixas

agosto 21, 2024