Crônica Alceu Valença
Crônicas Musicais

Crônica Alceu Valença

ALCEU VALENÇA – o Papagaio do Futuro

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Fui convidado pelo jornalista Marco Antônio Lacerda, mineiro, na época radicado em SP, a participar da entrevista com Alceu Valença. O músico e sua banda estavam hospedados em uma casa, em um bairro paulistano. Alceu nos recebeu muito bem, nos apresentou aos músicos que o acompanhavam, dentre eles, Zé Ramalho da Paraíba (depois ele tirou o “da Paraíba”). Zé foi logo dizendo que naquele momento acompanhava Alceu mas já estava se desligando da banda para partir pra a sua carreira solo. O que de fato aconteceu. Dizem as más línguas que Zé Ramalho mandou fazer uns despachos, uns torpedos espirituais, pra abalar a carreira do concorrente pernambucano. Se de fato rolou, não colou, pois a carreira de Alceu seguiu de vento em popa.

A tal entrevista aconteceu há muito tempo, mas me lembro de Alceu começar dizendo que aquele jeito elétrico de se apresentar no palco não tinha nada a ver com o seu dia a dia. Segundo ele, gostava de levar a vida de forma mais lenta, num ritmo desacelerado. O papo transcorreu tranquilo e maneiro e achei o Alceu pessoa, tão legal e interessante quanto o Alceu artista.

Quando assisti A Noite do Espantalho, filme de Sérgio Ricardo, ainda não sabia que o espantalho era interpretado por Alceu Valença. Gostei muito do longa e da interpretação do protagonista. Depois li que quando Alceu começou a realizar seus shows no Rio de Janeiro sofria com a falta de público. Sem pensar duas vezes, o artista logo tratou de arranjar umas pernas de pau e foi fazer a divulgação na base do corpo a corpo nas ruas de Copacabana. Deu certo! Seus shows passaram a contar com grande audiência e o sucesso veio por consequência.

Em várias cidades vi diversos eventos onde o pernambucano usava de toda a sua verve de palhaço, pra pôr em cena tanto o seu vasto e precioso repertório, quanto pra resgatar pérolas do frevo, forró, xote e baião. Aliás, Alceu é um dos melhores intérpretes dos sucessos de Gonzagão, e de outros ícones da música popular nordestina, principalmente do genuíno frevo, como o de Capiba, recriando canções que marcaram época e sempre estiveram na boca do povo.

E não dá pra falar em Alceu, sem vincular a ele o guitarrista Paulo Rafael, que foi seu fiel escudeiro por mais de 40 anos. Ao pesquisar sobre o músico, me deparei com a triste notícia de que Paulo Rafael faleceu no dia 23 de agosto de 2021, vítima de câncer. Morte prematura, aos 66 anos. Alceu o homenageou com o lançamento de um álbum que traz a parceria dos dois.

Poeta inspirado, Alceu Valença dá um upgrade no nível das letras de músicas da MPB, principalmente naquelas que têm um tom mais regionalista, como a que produz. Regionalista e, portanto, universal! (Aquele papo de “fale de sua aldeia e falará do mundo.”) Músicas como Belle de Jour, Papagaio do Futuro, Girassol, Como Dois Animais, Anunciação e Morena Tropicana, conseguem atingir o grande público, fazendo muito sucesso. Aliás, nos bons tempos em que eu frequentava as arquibancadas do Mineirão, adorava ouvir a torcida do Galo cantando Morena Tropicana a plenos pulmões. Acho que pra qualquer artista não pode haver prazer maior do que ouvir a voz da massa entoando uma de suas composições.

Recentemente o jornalista Júlio Moura, que faz a assessoria de imprensa de Alceu desde 2009, lançou a biografia do artista: Pelas Ruas Que Andei: Uma Biografia de Alceu Valença. A obra trata de Valença pessoa e artista, trazendo inclusive causos divertidos como os de diversos censores que na época da ditadura diziam não entender as letras das músicas. Comecei a ler a obra e estou gostando bastante. Recomendo. No palco, gargalha o palhaço Alceu, codinome: Velho Quiabo.

Revisão: @HilarioRodrigues

Colaboração midiática: @Rodrigo_Chaves_de_Freitas

Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

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