“GET CRAZY”COM ADRIANO FALABELLA, “A ENCICLOPÉDIA DO ROCK”
Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste
Desde menino sempre gostei de bater uma bola. Futebol de salão, society, campo; onde rolava uma pelada eu estava dentro. O futebol esteve presente em várias fases da minha vida, seja em BH ou em outras plagas. Dentre os vários parceiros futebolísticos, um se destacava pela categoria, explosão e fome de bola: Juninho (Haroldo Falabella Junior, Juninho), torcedor fanático do América Mineiro e irmão daquele que ficou conhecido como “A Enciclopédia do Rock”, o grande Adriano Falabella que nos deixou em janeiro de 2024, aos 70 anos.
Encontrei com Juninho casualmente na Avenida do Contorno em BH. Ele logo falou das mazelas do América e eu das do Galo (snif-snif), depois passamos pro relato dele sobre a morte do irmão, Adriano. Vou poupá-los dos sofridos últimos dias de “Get Crazy” (Pirando). Segundo Juninho a saúde do apresentador ia de mal a pior.
— “Se ele tivesse se cuidado melhor há 3 ou 4 anos poderia ter escapado. Deu no que deu. Partiu mas deixou sua obra. Estou muito, muito abalado.”
Mas Juninho também forneceu informações sobre a trajetória de Adriano.
— “Sabia que ele tocava violão e guitarra? Foi o primeiro professor do famoso guitarrista e bluesman Affonsinho Heliodoro.”
Affonsinho é cantor, compositor, instrumentista e produtor. É cofundador da banda Hanoi Hanoi. Autor de “Gentil Loucura”, primeiro “hit” do Skank – inclusive, foi professor de guitarra de Samuel Rosa.
Durante 27 anos, Adriano ou “Get Crazy”, como era conhecido, esteve apresentando A Enciclopédia do Rock, que fazia parte do programa Alto-Falante. O programa vai ao ar semanalmente na Rede Minas. Com irreverência, ele abria sua participação assim:
— “Gostas do delírio, baby?!”
Alto-Falante é exibido em todo o país pela TV Brasil, com apresentação do jornalista Terence Machado. Adriano começou sua carreira em emissoras de rádio belo-horizontinas.
— “Foi nosso irmão mais velho, o Léo, que o levou até o Zancar, que comandava a Rádio Terra. O Léo era doido com rock e aplicou os irmãos no som. O Adriano logo emplacou um programa semanal de rock na emissora e começou a sua carreira de sucesso.” Emenda, Juninho.
“Get Crazy” sabia muito de rock. E mais: encarnava o estilo musical que adorava na sua forma de ser. Era um sujeito singular, aquele genuíno outsider (fora do sistema), com os dedos cheios de anéis, cabelão e uma postura rebelde que era a marca registrada do verdadeiro rock and roll.
Passo a bola de novo pro Juninho:
— “Amon Düül II (banda de krautrock alemã, ele curtia muito) Greenslade, banda inglesa de rock progressivo, UFO, King Crimson, Renaissance, Creedence, Hendrix, The Who e Genesis, eram suas preferidas (dentre muitas outras: Doors, Jethro Tull, Stones, Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabath).”
E ele prossegue:
— “Vamos para a country music: The Nitty Gritty Dirt Band, New Riders of the Purple Sage, The Outlaws, The Flying Burrito Brothers, The Marshall Tucker Band, além da Lindisfarne que é muito legal (banda inglesa de folk rock de Newcastle, UK.)
Juninho me apresenta uma lista enorme das predileções de Get Crazy que vai da italiana Premiata Forneria Marconi, passa pelo Lynyrd Skinyrd, e chega ao metal com Megadeth, Dio, Kreator, Slipknot e Motörhead. Uauuu!
O repertório de Adriano era muito vasto, mas Juninho crava:
— “The Beatles a n°1, mas gostava muito também dos The Byrds… vinha ouvindo direto as duas bandas…”
Pergunto sobre o rock brasileiro.
— “Tenho que puxar pela memória… Diz Juninho. “Me lembro da Plebe Rude, ele gostava. Tem também o Sepultura, nos primórdios, ele era amigo dos caras. Curtia o 14 Bis, O Terço e Os Mutantes. “E mais um detalhe” diz Juninho, “Adriano era doido com o Galo e chegado numa vodka.”
Resumindo, Adriano além de ser uma enciclopédia viva, era um cara cujo radar captava sons de diversos matizes nos 4 quadrantes deste planeta. Era quase que uma “caixa de som ambulante” reproduzindo o que melhor se fazia em termos de rock and roll agora e sempre. E ele adorava falar do assunto, apresentava seu programa com a verve de quem se deleita com o que faz. Por isso, podemos concluir que ele curtiu muito a vida.
Get Crazy manda o seu recado final:
— See you later, baby. (Até breve, querida)
Em tempo 1: chego a conclusão que o Juninho também bate um bolão no campo musical. Sabe muito!
Em tempo 2: quem sugeriu essa crônica foi o amigo Rodrigo Chaves, que capitaneia o site Caleidoscópio Cultural. Valeu, xará!
O adeus a Adriano Falabella: apresentador deixou um legado aos amantes do rock
Revisão: Hilário Rodrigues
Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas
Portal cultural Caleidoscópio: siga @caleidoscopiobh
Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/