Espetáculos

Arnaldo Antunes em BH

Com músicas críticas e esperançosas em relação ao futuro, Arnaldo Antunes faz turnê em BH

Em ‘Novo Mundo’, Arnaldo reflete sobre os rumos da humanidade e os dilemas que a atravessam, do avanço da tecnologia e da inteligência artificial às crises ambientais, passando pelas transformações nas relações humanas e econômicas. Logo na faixa de abertura, que dá nome ao disco, o poeta chama a atenção dos ouvintes: “Bem-vindo ao novo mundo / que vai se desintegrar no próximo segundo”. “Estamos vivendo um momento crucial e sem precedentes no que diz respeito à crise climática, chegando ao ponto de não retorno. Ao mesmo tempo, há uma certa intolerância em aceitar essa realidade por parte dos governantes. É como se estivéssemos caminhando para um suicídio coletivo, sem a consciência do que está acontecendo”, contou.

As reflexões sobre o mundo, que segue cada vez mais hostil, também se evidenciam em canções como ‘Tire o seu passado da frente’ e no rock ‘Tanta pressa pra quê?’, que encerra o disco e é dividida com a esposa dele, Márcia Xavier. Nesta derradeira, o artista, herdeiro do concretismo da MPB, desativa a bomba prestes a explodir ao confrontar o vício contemporâneo nos cristais líquidos das telas, na velocidade de informações e mudanças constantes de assunto: “Não aguento tanto movimento/preciso de paz para sobreviver/todo mundo tem opinião o tempo todo/todo mundo tem algo a dizer”.

“O avanço da extrema-direita acirra a preocupação ambiental, por assumirem posturas negacionistas. Simultaneamente, convivemos com tecnologias e algoritmos que alimentam a violência, o ódio e a intolerância. Soma-se a isso uma economia global voraz e guerras em curso –  à beira do que poderia ser chamado de uma Terceira Guerra Mundial. Temos todos os ingredientes para estarmos assustados”, refletiu.

‘Verbivocovisual’

Brincar com as palavras e os sons é algo intrínseco à trajetória solo de Arnaldo. Por isso, a linguagem ‘verbivocovisual’, conceito cunhado por James Joyce e incorporado pelos poetas concretistas, ocupa um lugar central na obra do artista. Nela, o poema deixa de ser apenas texto escrito e passa a ganhar dimensões sonoras, visuais e verbais, expandindo os limites da poética.“De certo modo, sou um herdeiro dessa tradição que renovou a poesia brasileira, ao provocar o atrito dela com outras linguagens. A própria ideia de fazer poesia e canção já expressa meu desejo de misturar códigos”, explica.

Arnaldo viveu intensamente o cenário efervescente da contracultura nos anos 1970. Além do rock, a Tropicália e as revistas de poesia, que reuniam colaborações de artistas visuais, músicos, poetas e letristas, contribuíram para formação estética e artística do ex-integrante dos Titãs. Anos mais tarde, a convivência com os poetas e integrantes do Noigandres – Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos – também ampliou o desejo de transitar em diferentes formatos de arte, como livros, performances, poesias e exposições. “Na década de 70, existia essa liberdade de trabalhar com diferentes ritmos e rolar um atrito entre os gêneros. Você pode fazer samba, rock, funk, baião e misturá-las. Também me sinto livre para contrabandear de uma área para outra ou, até mesmo, traduzi-las”, reitera.

O poeta retorna a BH após quase um ano, quando se uniu, de forma inédita, a Roberta de Sá em uma apresentação no Festival Novos Encontros, realizado no Parque Municipal. Para ele, encontrar o público mineiro é sempre motivo de alegria. “Sou muito bem recebido por Minas em geral. Tenho muitos amigos e parceiros aí, como o Chico Neves e a Júlia Branco. Além disso, minha esposa é mineira e, como a família dela vive no estado, estou sempre dando uma volta pelas cidades históricas. Sem contar a minha admiração pela música e pela poesia mineira”, ressalta.

Na apresentação da turnê ‘Novo Mundo’, além de dançar, Arnaldo incorpora uma produção visual assinada por Batman Zavareze, responsável pelos cenários, iluminação, lasers e efeitos especiais que dialogam com a composição gráfica do disco. O público ainda confere novos arranjos para clássicos que ecoam a crueza do rock como ‘O Pulso” e “Comida”, do repertório dos Titãs, além de sucessos da carreira solo, como ‘Casa é Sua’, ‘Socorro’, ‘Fora de Mim’ e ‘Já sei Namorar’.

Turnê ‘Novo Mundo’, de Arnaldo Antunes

Data: 18 de julho, sexta-feira
Horário: a partir de 21h
Local: Sesc Palladium | R. Rio de Janeiro, 1046 – Centro, BH
Ingressos: a partir de R$ 120 | Sympla

Leave a Reply