ROBERTO WAGNER – o talento saltava dos seus traços
Um dia apareceu lá em casa um garoto magrinho, sorridente e afável. Vinha com o uniforme do Colégio Tiradentes. Escola que ficava nas imediações do barraco em que eu morava, no bairro de Santa Tereza, BH.
O rapaz se apresentou:
— Roberto Wagner. Sou desenhista.
Na época, eu era um dos editores do jornal O Vapor, marco da contracultura nestas Minas Gerais. Vi os desenhos de RW, revelavam um artista muito mais maduro do que o garoto trajando uniforme escolar. O talento saltava dos seus traços. Logo combinamos que ele seria um dos colaboradores do Vapor, unindo-se a um time de craques como Humberto Guimarães, Benjamim, Luiz Maia, Gazzineli, Gilberto Abreu, Roberto Moreno e vários outros ilustradores. Acompanhando RW, começou a participar do jornal o irmão dele: Weisvisthértini Almeida, o Weis, um desenhista refinado, que trouxe belas criações para as páginas da publicação.
Os dois irmãos moravam com a mãe, viúva, no bairro do Paraíso, em BH. Essa região, assim como Santa Efigênia, abriga vários militares reformados da PM mineira. O pai dos irmãos desenhistas era sargento músico, que fazia do violino sua arma, sem jamais violar nada, nem ninguém. Seu problema era o uso abusivo do álcool, que acabou lhe abreviando a vida. Os anos se passaram. Depois do Vapor, fizemos a revista Circus. Contando com as ilustrações de RW, produzi Pau a Pique, um envelope com poemas de minha autoria.
RW também criou o emblemático cartaz da peça Quando os Beatles Tocarem Juntos Outra Vez, que escrevi e foi encenada com a direção do saudoso Ronaldo Brandão. RW fez uma forma para os grafites de Quando os Beatles…Ela serviu para divulgarmos o evento, estampamos em muitos muros e paredes de BH. A logomarca da peça de teatro tornou-se um ícone da mídia cultural, inaugurando um estilo que veio a ser replicado por outras produções. Era a contracultura invadindo a cidade durante a barra pesada da ditadura militar.
Robertinho, como era chamado, começou a gostar demais de uma birita. Foi seduzido pelo poder etílico, passando sempre da conta. Caiu na night, atravessando as madrugadas vagando, catando objetos que o poeta Manoel de Barros poderia definir como as melhores inutilidades de que se pode dispor, algo como um alicate cremoso, ou um guarda-chuva careca.
RW participou da revista Meia Sola, produzida pela Editora Cordel, além de criar o cartaz de um dos primeiros festivais de rock que rolou em BH: Serra Verde Rock Festival, algo assim. As noites de delírio custaram caro: Robertinho foi atropelado por uma moto, cujo condutor fugiu sem prestar socorro. Foi levado para o Pronto Socorro, onde ficou hospitalizado por cerca de dez dias. Lá, segundo seu irmão, Weis, contraiu infecções hospitalares. Seu óbito informava que faleceu vítima de meningite. Robertinho tinha apenas 36 anos. O mundo perdeu um grande artista. E nós, que convivemos tanto com ele, perdemos um amigo, um irmão.
Viva, Roberto Wagner! Jamais te esqueceremos, parceiro!
Revisão: Hilário Rodrigues
Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas
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