Yeda Prates Bernis - escritora






encostada-na-paisagem

Encostada na Paisagem
Yeda Prates Bernis
Editora Phrasis, BH - 1998
15,5 x 22 cm

Planejamento gráfico: Lápis Lazúli
Aquarela da capa e ilustração: Marília Paletta

PRÊMIOS:

  • Prêmio Conjunto de obras da UEB do Rio de Janeiro, 1999
  • Medalha Auta de Souza da UEB do Rio de Janeiro, 2001



    POEMAS:

    A CARTA

    A carta,
    grávida
    de emoção.

    O fósforo,
    faminto,
    aceso.

    Crepitantes,
    as palavras
    tentam resistência.

    O vento
    dissolve
    palavras e sonhos.

    E o calado sentimento
    se desfaz em espiral
    de cinza e esquecimento.


    MARINHA

    Da alta janela
    assisto
    o mar.
    E já nem sei
    se sou eu mesma
    ou sou gaivota
    a voar.


    MOMENTO

    A custo, ergo
    e sustento a tarde
    em minhas mãos.

    Vem a noite
    e a tarde cai
    estilhaçada de emoção.

    E a vida estanca
    numa esquina do tempo
    afogada em sombras.


    MANTO

    Quando chegar a tristeza,
    manto de sombra
    pousando em teus ombros,
    saia ao Sol:
    deslizará
    pouco a pouco
    pela carne de tua mágoa
    e cairá por terra,
    vencido.


    CORTINA

    Espessa cortina
    cobre o sol
    da consciência.

    Há torpor
    no deserto
    da hora.

    Respiro
    lágrima
    nenhuma.

    Que sopro
    nutre a alma
    neste amaro momento?

    Só o hálito
    das trevas
    nesta fome sem desejo.


    CLARIDADES

    Nuvem

    luar

    areia

    espuma

    garça


    A menina

    encostada na paisagem

    ampara na mão

    um pensamento branco.


    RESGATE

    O pai       a mãe

    girassol       violeta

    A Mãe Preta, mater dulcíssima,

    spes nostra, salve!

    O cão lambe

    a solidão da infância.

    O sino da matriz

    asperge em sons

    a poeira das ruas.

    A primeira comunhão,

    fogo fátuo no coração menino.

    Coral de passarinhos

    na mangueira

    arrepia o silêncio da tarde.

    O incenso no fogão de lenha

    tortura as almas em cinza.

    A perdiz, a codorna, o nhambu

    aguardam, sangrentos, a depenagem.

    E o depois não chega

    a não ser pela folhinha na parede,

    flor esmaecida de um tempo

    que, lentamente, na memória

    se desfolha.


    CORRENTEZAS

    Estrias de luz

    velejam a correnteza

    verde-musgo das águas.


    Passarinhos soletram o tempo,

    blocos de pedra aguardam

    o fim da eternidade.


    Manchas esmeraldas

    pousam na água, esgarçam

    instantes e nuvens.


    O coração, barco

    singrando correntezas

    de nunca saber.


    RETRATO

    Da cabeça
    pesados fios de memória
    escorrem sobre os ombros.

    No oceano dos olhos,
    cristais soprados
    pelas salinas da alma.

    Na boca,
    em pedaços,
    um grito guardado.


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    Contato:

    YEDA PRATES BERNIS
    55 (31) 3227.0312
    yedabh@yahoo.com.br
    Rua Incofidentes, 355 / 701 - Funcionários
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