À Beira do Outono
Yeda Prates Bernis
Editora Phrasis, BH - 1994
15,5 x 22 cm
Planejamento gráfico: William Morenò
Aquarela da capa: Marília Paletta
PRÊMIOS:
POEMAS:
POETA
Narciso angustiado busca
no espelho da alma
sua face real:
reflexo de todas as faces,
Ali estampa com sua verdade
na luz ou na sombra
o sudário do homem.
CONQUISTA
Se o sofrimento
enxuga o poder
de tua lágrima,
aguarda.
Ela virá
quando mereceres
para, quem sabe, enxaguar
com líquidas estrelas
o chão de tua dor.
ESPELHO
Lençol claríssimo,
estendo a alma
sobre um lago.
Peixes me navegam
nuvens me perpassam
sóis me lucilam.
Encharcada de prata,
sou regaço de pérolas
e berço de quietude.
PASTORAL
Na manhã menina
cantavam temas
simples e sagrados:
o azul velando verdes
o sol a água a semente
a alegria da inocência.
E dissolvia a bruma
a prosa musical
daqueles passarinhos.
FLASH
...foi quando passou
levado pelo vento
um vôo
de folhas mortas
ou de teu fugidio pensamento.
DÚVIDA
O que tocou de leve
na pele de meu desejo
foi um floco de neve
ou foi teu beijo?
VISITA
Bateu-me à porta
o passado.
Calado.
De seus poros gotejavam
sal e sangue.
Tentei curar-lhe as feridas.
Partiu. Nos ombros,
levou cardos, sombras.
Agora a claridade
repousa sobre
o regaço do dia.
MARÍTIMO
Barco é a noite
onde a alma navega.
O sonho é marinheiro.
No oceano do momento
o amor é timoneiro.
O mais é só entrega.
PAISAGEM
Um rio corta ao meio
o outono de folha esvaída
onde outra luz descansa
entardecida.
Ali me reconheço
entre primavera e inverno
dividida
e sei que anoiteço.
TARDE
As pálpebras do dia
se fecham pouco a pouco
de cansaço.
Luzes remendadas rastejam no chão
tentam sobrevivência:
buscam em vão subir às copas das árvores.
Lábios ensaiam silêncio
gestos desertam das mãos.
Mas nos ombros da tarde
ainda pousam pássaros
e pensamentos de amor.