Yeda Prates Bernis - escritora






a-beira-do-outono

À Beira do Outono
Yeda Prates Bernis
Editora Phrasis, BH - 1994
15,5 x 22 cm

Planejamento gráfico: William Morenò
Aquarela da capa: Marília Paletta

PRÊMIOS:

  • Prêmio Hors-Concours "Jorge de Lima" - 1995 da União Brasileira de Escritores - Rio de Janeiro



    POEMAS:

    POETA

    Narciso angustiado busca
    no espelho da alma
    sua face real:
    reflexo de todas as faces,

    Ali estampa com sua verdade
    na luz ou na sombra
    o sudário do homem.


    CONQUISTA

    Se o sofrimento
    enxuga o poder
    de tua lágrima,
    aguarda.
    Ela virá
    quando mereceres
    para, quem sabe, enxaguar
    com líquidas estrelas
    o chão de tua dor.


    ESPELHO

    Lençol claríssimo,
    estendo a alma
    sobre um lago.

    Peixes me navegam
    nuvens me perpassam
    sóis me lucilam.

    Encharcada de prata,
    sou regaço de pérolas
    e berço de quietude.


    PASTORAL

    Na manhã menina
    cantavam temas
    simples e sagrados:

    o azul velando verdes
    o sol a água a semente
    a alegria da inocência.

    E dissolvia a bruma
    a prosa musical
    daqueles passarinhos.


    FLASH

    ...foi quando passou
    levado pelo vento
    um vôo
    de folhas mortas
    ou de teu fugidio pensamento.


    DÚVIDA

    O que tocou de leve
    na pele de meu desejo
    foi um floco de neve
    ou foi teu beijo?


    VISITA

    Bateu-me à porta
    o passado.
    Calado.
    De seus poros gotejavam
    sal e sangue.
    Tentei curar-lhe as feridas.
    Partiu. Nos ombros,
    levou cardos, sombras.
    Agora a claridade
    repousa sobre
    o regaço do dia.


    MARÍTIMO

    Barco é a noite
    onde a alma navega.
    O sonho é marinheiro.
    No oceano do momento
    o amor é timoneiro.
    O mais é só entrega.


    PAISAGEM

    Um rio corta ao meio
    o outono de folha esvaída
    onde outra luz descansa
    entardecida.

    Ali me reconheço
    entre primavera e inverno
    dividida
    e sei que anoiteço.


    TARDE

    As pálpebras do dia
    se fecham pouco a pouco
    de cansaço.

    Luzes remendadas rastejam no chão
    tentam sobrevivência:
    buscam em vão subir às copas das árvores.

    Lábios ensaiam silêncio
    gestos desertam das mãos.

    Mas nos ombros da tarde
    ainda pousam pássaros
    e pensamentos de amor.


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    Contato:

    YEDA PRATES BERNIS
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