SUPLA – “Sou o maior trabalhador da indústria de entretenimento do Brasil!”
Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste
Fui um dos primeiros a embarcar no avião para o vôo Floripa – SP. Prioridade, tá ligado? Deixei minha mochila no meu lugar e fui ao banheiro. Voltei, sentei e fiquei observando as pessoas que entravam na aeronave. Eis que toma assento, ao meu lado, um sujeito que eu já tinha visto no setor de embarque. Sem maiores delongas, perguntei:
— Vocês são uma banda de rock?
— Isso, nós acompanhamos o Supla.
E o Supla estava sentado na poltrona seguinte. Nos olhamos. Ele falou:
— Robert Plant?! What are you doing here? (Robert Plant?! O que você está fazendo aqui?)
Respondi:
— I’m not Plant, but, anyway, I prefer to make some duets with Roger Daltrey. (Não sou o Plant mas, de qualquer forma, prefiro fazer alguns duetos com Roger Daltrey)
Rimos juntos e, nessa vibe, engatamos um papo superlegal sobre música e suas derivações.
Detalhe: lá pelas tantas o Supla falou que tinha vivido durante sete anos em New York, daí essa predileção por se expressar em inglês. Nosso bate-bola passava de uma língua a outra sem qualquer hesitação.
O cara que estava entre nós dois era o batera da banda: Felipe Lima, um sujeito afável e interessado que participou ativamente da onda.
Perguntei ao Supla:
— Como está a barra pra vocês com esse completo predomínio do funk e do sertanejo— esse lixo?
— Estamos trabalhando muito, como sempre. Aliás, sou the hardest worker do show business (o maior trabalhador da indústria de entretenimento (do Brasil)). Temos nosso nicho e sempre encontramos nosso espaço. Tá de boa. Pegou o celular e me mostrou trechos do show que realizaram, na véspera, no Jurerê Internacional, a Miami de Floripa.
Daí, ele, que é prolixo, começou a discorrer sobre a cena musical tupiniquim, entrando na questão do que leva alguém a se enveredar no funk ou algo assim.
— Um garoto da favela vai ter que fazer alguma coisa pra sair da miséria. Então, ou o cara cai na bandidagem, no tráfico, ou pula pra alguma coisa como a música, no caso o funk, que é o que rola no mundo dele… Tem o trap também.
Pensei com os meus botões que esse argumento está explícito na letra de Street Figthing Man, dos Stones:
“Well then what can a poor boy do
Except to sing for a rock ‘n’ roll band?”
(Então, o que um garoto pobre pode fazer/senão cantar numa banda de R&R)
Supla, um artista midiático, sempre contra-ataca os que o acusam de vir de uma família rica, burguesa, e tirar onda de punk que, literalmente, quer dizer arruaceiro, porraloca, rebelde. Há tempos ele mantém a mesma postura, independente do declínio da onda punk no Brasil e no mundo. O máximo da ironia é o nome da banda que o acompanha: Punks de Boutique. Composta por uns garotos que são a encarnação dos antigos punks ingleses, bem magrinhos, com suas camisetas esfarrapadas, seus cabelos espetados, cheios de colares e pulseiras com espetos de metal pontiagudo (O Supla também usa uma pulseira dessas).
Tratamos do universo do rock. Acenei com o The Who. Depois de chamar o batera do TW (Keith Moon) de drogadão, revelou sua ampla e irrestrita predileção pelos Beatles. Como sempre acontece, tive que concordar e meti o chaveco, com um sorriso amarelo, de que The Beatles são Hours Concurs (fora de série). Ele ainda emendou dizendo que todos são gênios, mas o George “É o mais genial de todos!”
Passamos para a música no Brasil e ele expressou sua admiração por caras como Caetano e Gil. Lembrou da importante participação do músico americano, David Byrne (Talking Heads), que ajudou a resgatar artistas com suas produções voltadas para a pesquisa e divulgação da “música regional”. Supla lembrou de Tomzé, que está em vias de desistir da música, retornar à sua terra natal na Bahia e virar frentista em um posto de combustíveis. Através dos eventos de David Byrne, Tomzé conseguiu ressuscitar sua carreira e voltar a ocupar um lugar de destaque na MPB.
Comentei com ele sobre estas Crônicas da Era do Rock que publico. Passei pra ele meu celular e ele leu atentamente o texto que postei sobre Walter Franco. Fez algumas perguntas e até revelou que não sabia da morte do autor de Cabeça.
Mas Supla encheu a boca mesmo foi pra falar de Tom Jobim:
— Esse é o “cara”! Incrível, genial! Acho que é o maior de todos! Está no mesmo nível de Villa-Lobos.
Modestamente, Supla disse que quando se lançou não sabia cantar. Admitiu ter estudado muito, tendo o apoio de seu irmão, João Suplicy, que o ajudou a conquistar a sua evolução musical e a dominar a sua própria voz. João faz uma MPB de alto nível e, certamente, trafega no seu “nicho” assim como o irmão, Supla. Os dois montaram um grupo: Brothers of Brazil, que é apresentado assim no YouTube: “Difícil tarefa é tentar definir o som da banda Brothers of Brazil. Alguns arriscam: imagine Tom Jobim com Sex Pistols, Baden Powell e David Bowie levando um som em perfeita harmonia.”
Ele saca de novo do celular e me mostra o vídeo mais recente que produziu: If You Belive in Nosferatu. Sorrindo diz que criou um novo estilo: bossa gótica.
Pra finalizar, Supla dá um pitaco sobre política:
— Não boto a mão no fogo por político algum. Nem por minha mãe. O único político por quem coloco a mão no fogo é o meu pai (Eduardo Suplicy).
O avião aterrissou; continuamos proseando até o local de desembarque. Nos despedimos, fazendo a selfie para a postagem da crônica. Depois, Supla seguiu seu caminho, atraindo olhares dos curiosos que o reconheciam (muito mais do que eu imaginava). Caminhava em passos rápidos, tendo em seu encalço os intrépidos Punks de Boutique.
Bossa Gótica- If You Belive in Nosferatu – Supla https://www.youtube.com/watch?v=7hGCL3N4SM8&ab_channel=Supla
Revisão: Hilário Rodrigues
Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas
Portal cultural Caleidoscópio: siga @caleidoscopiobh
Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/