NOEL ROSA, O POETA DA VILA – Sabia que ele morou em BH?
Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste
Tido e havido como um dos maiores sambistas brasileiros de todos os tempos, a vida do grande Noel Rosa (1910-1937) não foi moleza. Nasceu de um parto muito complicado, que incluiu o uso de fórceps pelo médico obstetra. Procedimento que pode ter contribuído para afundar o maxilar do garoto. Além disso, veio ao mundo com hipoplasia, que causou o desenvolvimento limitado de sua mandíbula, tendo inclusive dificuldade para mastigar. Seu queixo pequeno, que lhe marcou as feições por toda a vida, fez com que ganhasse o apelido de “Queixinho”. Noel, com seu peculiar bom humor, nunca ligou pra isso.
Autodidata (“Ninguém aprende samba no colégio”), ainda adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido. Depois, passou ao violão e foi se enturmando com os sambistas da sua Vila Isabel. O rapaz branco, franzino, de classe média, sentia-se à vontade com seus pares, em geral negros e de origem humilde. Fez parte do Bando de Tangarás, ao lado de feras como Almirante e João de Barro (o Braguinha). No repertório, êxitos como Tava na Roda de Samba e Na Pavuna.
Apesar da voz fanhosa, em 1930, alcançou o sucesso com o lançamento da canção “Com Que Roupa?”, um samba bem-humorado que já trazia os traços do refinado humor de Noel. Ele tinha só 18 anos e o samba era apenas sua terceira gravação como cantor e compositor.
Suas músicas começaram a tocar no rádio, a estourar nos carnavais e também viraram trilha de diversos filmes importantes do cinema brasileiro, como: Alô, Alô, Carnaval (de Adhemar Gonzaga) e Cidade-Mulher (de Humberto Mauro), ambos de 1936.
A música de Noel mais ouvida é Conversa de Botequim, executada até hoje com números expressivos em diversos streamings. A canção, de 1935, foi feita em parceria com o compositor e arranjador paulista Vadico, considerado o maior parceiro de Noel. Segundo estudiosos da vida de NR, ” Conversa de Botequim é uma prodigiosa crônica dos cafés cariocas e seus folgados frequentadores, cercados de garçons, cinzeiros, palitos, jogo do bicho, futebol e pagamento fiado.”
— Quem não se lembra: “Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada / Um pão bem quente com manteiga à beça…”?
O artista também foi protagonista de uma curiosa polêmica (certamente uma bela jogada midiática), que trouxe à tona sua rivalidade artística (e também de conquistador) com o sambista Wilson Batista. A disputa surgiu no cenário musical quando Noel já tinha atingido grande fama.
Os dois compositores atacavam-se mutuamente através de sambas agressivos e bem-humorados que renderam bons frutos para a música brasileira. Da peleja surgiram clássicos de Noel como Feitiço da Vila (parceria com Vadico), Palpite Infeliz e O Século do Progresso. Por outro lado, Wilson Batista rebateu com excelentes sambas como Mocinho da Vila e Conversa Fiada.
Poucos sabem: Noel Rosa morou em Belo Horizonte!
“Belo Horizonte, bom mesmo é estar aqui”. É o que diz a letra da música do sambista carioca Noel Rosa, dedicada à capital mineira, onde morou por uma temporada antes de morrer por complicações da tuberculose. Entre o fim do século 19 até os anos 1950, BH era conhecida por ter um clima supostamente adequado para tratar a doença.
Em 1935, o compositor saiu de Vila Isabel para desembarcar em Minas. Muito arborizada e com clima de montanha, Belo Horizonte tinha o apelido de Cidade Jardim. Porém, NR não conseguiu fazer o recomendado repouso absoluto, nem muito menos abandonar o cigarro, a bebida e a boêmia. Caiu na farra em BH e a sua pretensa recuperação foi pras cucuias. Voltou para o Rio de Janeiro onde morreu em 1937, aos 26 anos.
Se perguntarem a Chico Buarque, Paulinho da Viola ou Jards Macalé quem foi o nosso grande “bamba”, garanto que Noel Rosa vai aparecer no topo da lista. Portanto, parafraseando o tal de “recordar é viver”, nada mais atual do que ouvir o sensacional Noel Rosa!
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Revisão: Hilário Rodrigues
Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas
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