Crônica Jefferson Airplane
Crônicas Musicais

Crônica Jefferson Airplane

JEFFERSON AIRPLANE – a excelente banda de acid rock

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Eu tinha 16 anos quando comecei a ouvir falar em Revolução. Quem trouxe o assunto à tona foi o poeta Sergio Gama, que era 2 ou 3 anos mais velho do que eu e tinha acabado de voltar dos EUA. Sergio falava que a Revolução estava chegando, metia o pau na burguesia, falava bem dos Panteras Negras e enchia a boca pra falar de rock and roll. Fazia comparações que mexeram com a minha cabeça: — “Os Beatles são os garotos bem comportados, já os Stones trazem a voz do caos e da anarquia” dizia ele pra quem quisesse ouvir. Trouxe muitos bons discos da América. Lps de John Coltrane, Miles Davis e de uma banda de rock que ele adorava: Jefferson Airplane.

Ele tinha verdadeira paixão pela banda. No seu quarto, anexo à casa de seus pais, que ficava ali perto da Praça da Liberdade, em BH, rolavam sessões incríveis onde ele punha as músicas do JA pra tocar e fazia longos comentários sobre as letras, arranjos e o estilo psicodélico que era a marca registrada da banda de San Francisco, CA.

As músicas do Airplane têm qualidades incomparáveis: as letras, muitas de autoria de Paul Kantner e de Grace Slick, são excelentes. Tratam de temas diversos: do amor ao meio ambiente, das experiências lisérgicas ao mundo real, muitas vezes abrangendo o político e o social. Todos os músicos da banda são excelentes, os arranjos dão um show à parte e a cereja do bolo fica por conta dos belos vocais que traziam a inusitada presença de uma voz feminina (Grace Slick), algo que não era comum no mundo do rock da época (Janis Joplin era outra exceção), território eminentemente habitado e dominado por homens.

O Jefferson Airplane surgiu em San Francisco em 1965 durante o auge da contracultura que varria o país, e logo se tornou um nome conhecido com aparições no rádio, televisão e entrando nas listas dos álbuns mais vendidos. O show de estreia da banda foi em agosto de 1965 na boate Matrix em San Francisco. Daí em diante tocou ininterruptamente, realizando várias turnês bem-sucedidas, incluindo as apresentações no Berkeley Folk Festival, Monterey Jazz Festival, Monterey Pop Festival, Woodstock e Altamont.

O Airplane era formado por Grace Slick (vocais), Marty Balin (vocais e guitarra), Paul Kantner (vocais e guitarra), Jorma Kaukonen (guitarra, ele cunhou o nome da banda), Jack Casady (baixo) e Spencer Dryden (bateria). Os membros fundadores também incluíam Signe Toly Anderson e Skip Spence. As formações posteriores do Jefferson Airplane incluíam Joey Covington na bateria e Papa John Creach nos violinos.

Junto com o Grateful Dead, Quicksilver Messenger Service, Big Brother and the Holding Company, Country Joe and the Fish e outros, fazia parte do chamado Acid Rock que proliferou na California nos anos de 1960. Mesmo sem ser formalizada como um movimento, a música dessas bandas tratava de paz, amor e liberdade. As letras sempre faziam menções às experiências com as drogas, principalmente o LSD que foi muito utilizado na época. White Rabbit, música do Airplane que descreve uma viagem psicodélica, tornou-se um dos ícones da contracultura. San Francisco era a Meca de gente que preferia usar flores nos cabelos do que portar armas, e o ponto alto de tudo isso foi o Summer of Love (Verão do Amor) que rolou em 1967.

É bom lembrar que nessa mesma época em San Francisco a beat generation, movimento literário ligado à contracultura, realizava muitos eventos poéticos de alto nível. Allen Ginsberg, William Burroughs, Jack Kerouac e Gary Snider costumavam se reunir e promover saraus na livraria e editora City Lights do poeta Lawrence Ferlinghetti. Certamente a boa literatura dessas feras influenciou as letras do JA.

Como ocorreu com várias outras bandas, o conflito dos egos dos membros do JA, levou à dissolução do grupo. Houve algumas tentativas de retorno através do Jefferson Starship, mas, depois da saída de Paul Kantner, com Grace Slick no comando da “nave”, a banda pegou uma rota estranha, tentando fazer sucesso com uma música mais comercial (muitas vezes inferior ao Airplane original). Deu ruim e o Starship se perdeu em universos paralelos, rsrs.

Jorma Kaukonen e Jack Cassidy lançaram a banda de blues Hot Tuna que produziu excelentes álbuns. Às vezes, o HT contava com a participação de Papa John Creach nos violinos. Destaco o disco de lançamento da banda, gravado ao vivo: Hot Tuna (1970), trazendo clássicos do blues como Know You Rider, Hesitation Blues e Ode for Billy Jean.

Os anos alegres passaram, a inocência e a juventude ficaram na poeira. A Amerika à la KKK arrota suas bravatas com as ameaças insanas do presidente recém-empossado. De qualquer forma a sonoridade da beleza, da criatividade e da esperança estão presentes nas músicas do Jefferson Airplane, portanto, vamos decolar e boa viagem!

Dedico esta crônica ao amigo musicólogo, Marcos Kakowicz, um dos maiores fãs do Airplane na face da terra.

Jefferson Airplane em Woodstock

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

Portal cultural Caleidoscópio: siga @caleidoscopiobh

Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

You Might Also Like