Com obras de artistas brasileiros e colombianos, exposição explora as intersecções entre arte e ciência no Palácio das Artes
“Cientistas e Alquimistas” revela como artistas latinos transformam metodologias científicas em arte para abordar questões sociais e ambientais da América do Sul; período expositivo vai de 28 de novembro a 5 de janeiro de 2025
Quais são as fronteiras entre arte e ciência e de que maneira os artistas contemporâneos utilizam práticas científicas em suas obras? A partir desses questionamentos, surgiu a exposição “Cientistas e Alquimistas”, com obras que fundem processos artísticos e científicos para investigar temas variados, como genética, mineração, medicina ancestral, ecologia e geologia. Com curadoria da colombiana Maria Fernanda Mora del Rio, a exposição estará aberta ao público na Galeria Mari’Stella Tristão, no Palácio das Artes, de 28 de novembro até 5 de janeiro de 2025, com entrada gratuita. Os 13 artistas que compõem a mostra – sendo 5 brasileiros e 8 colombianos – exploram temas que vão desde a microfauna até os corpos celestes, abordando, ainda, assuntos como transmutação da matéria e recursos naturais. Assim, “Cientistas e Alquimistas” cria uma reflexão crítica sobre a memória histórica, a resistência e os desafios contemporâneos na América Latina.
A seleção de artistas foi realizada por meio de um processo de pesquisa no contexto da residência internacional para curadores do Ministério das Culturas, Artes e Saberes da Colômbia. A pesquisa incluiu entrevistas, revisão de portfólios, visitas a exposições e diálogos com curadores, professores, gestores e galeristas, para selecionar artistas que trabalham nas intersecções de diversas disciplinas científicas e práticas artísticas, criando uma ponte entre metodologias como biologia, botânica, física e cartografia, e expressões artísticas como instalação, arte têxtil, vídeo, cerâmica e fotografia. A mostra conta com obras dos seguintes artistas brasileiros: Coletivo Grão (Gabriela Lopes Drummond de Sá e Ícaro Moreno Ramos), Iago Gouvêa, Maria Mendes, O Grivo (Marcos Moreira e Nelson Soares) e Thatiane Mendes. Já entre os colombianos, há obras de Alexandra McNichols-Torroledo, Atractor (Alejandro Villegas, Juan Cortés, Juan Camilo Quiñones e Juan Jose López), Camilo Bojacá, Eduardo Moreno Sánchez, Felipe Franco, Leonardo Ramos, Natalia Castañeda e Salomé Rojas.
A potência da arte latino-americana – A mostra conta com trabalhos como “Pedras Náufragas”, do Coletivo Grão, que ressignifica o granito da cidade mineira de Pedra Azul, localizada no Vale do Jequitinhonha, “A energia de uma onda se transforma em mar”, de Salomé Rojas, instalação sonora que, através das correntes marítimas, busca abrir metáforas para falar de migração, naufrágios e troca através do mar e “Amarre e pagamento”, de Eduard Moreno, que explora a magia envolvida nas preces dos povos do Sul da Colômbia. Há, ainda, reflexões sobre a ciência e seus limites, em obras como “In vitro”, de Iago Gouvea, que aborda a exploração animal em ambientes de laboratório, e “Micro-monstros invisíveis”, de Thatiane Mendes, que torna visível a existência de micro-organismos vivos co-habitantes de nossos corpos e entornos.
Maria Fernanda Mora del Rio explica que a exposição busca expandir o conceito de arte científica, indo além da estética e propondo um campo de denúncia e resistência social, ancorado nas realidades dos territórios e nas questões que permeiam a condição de ser latino-americano. “Desde o meu trabalho como pesquisadora e historiadora da arte, sempre senti um profundo interesse pelas conexões entre ciência e arte. Minha prática curatorial tem sido focada, há muito tempo, em projetos que exploram como essas disciplinas interagem e demonstram que, de forma histórica e sistemática, as artes visuais têm apoiado e complementado a ciência. Exemplos dessas intersecções interdisciplinares são visíveis na América Latina desde o período colonial, ao longo do século XIX e até a primeira metade do século XX. Podemos ver exemplos em obras como pinturas, ilustrações e fotografias que serviram como suporte ou evidência de investigações e invenções, desde grandes projetos científicos, como a Real Expedição Botânica do Novo Reino de Granada, a Real Expedição Filantrópica da Vacina de Balmis, as invenções de Santos Dumont e a Comissão Corográfica, até trabalhos mais modestos em vários campos da ciência”, explica a curadora.
Para Maria Fernanda, é importante analisar a convergência entre arte e ciência sob o viés latino, pois o que conhecemos como ciência moderna nesta região tem raízes na expansão europeia e nos processos coloniais ocidentais. Além disso, uma das mensagens centrais que a exposição busca transmitir é que as problemáticas abordadas não são apenas de interesse nacional, mas também regional e global. Ao evidenciar os vínculos entre arte e ciência a partir de uma perspectiva própria da América Latina, as obras convidam a questionar os modelos de conhecimento e a abrir espaços para que as culturas e saberes locais sejam igualmente valorizados.
“Acredito que existem temas transversais e problemáticas comuns que os artistas da Colômbia e do Brasil exploram em suas obras. Isso reflete que, como países latino-americanos, compartilhamos inquietações e desafios semelhantes, relacionados com nossas histórias, culturas e realidades sociais. Espero que o público brasileiro se veja refletido nessas obras, reconhecendo as semelhanças nos desafios e nas lutas que compartilhamos como latino-americanos, e que, ao mesmo tempo, possam apreciar a diversidade de enfoques e linguagens de cada artista”, sugere Maria Fernanda.
Já Uiara Azevedo, Gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, ressalta a importância da mostra. “Para a Fundação, receber ‘Cientistas e Alquimistas’ é motivo de grande satisfação, pois é uma mostra que nos permite ampliar o diálogo sobre temas urgentes que afetam nossa sociedade, além de reafirmar o papel transformador da arte na construção de um futuro mais inclusivo. Essa exposição fortalece o papel do Palácio das Artes como um centro cultural que celebra a diversidade artística e promove reflexões sobre nossa identidade e os desafios atuais, incentivando-nos a imaginar um futuro mais sustentável e igualitário”, adianta.
Exposição “Cientistas e Alquimistas”
Abertura: 27 de novembro
Período expositivo: 28 de novembro de 2024 a 5 de janeiro de 2025
Local: Galeria Mari’Stella Tristão – Palácio das Artes
(Avenida Afonso Pena, 1537, Centro – Belo Hrizonte)
Horário de funcionamento: Terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 17h às 21h
Entrada gratuita
Classificação indicativa: 16 anos
Agendamento de visitas: agendamento.educativofcs@appa.art.br
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