Texto:
Cristina Tolentino
A trajetória da arte do ator no séc. XX, resgata a importância e o lugar desse ator no espaço e no tempo da representação, enquanto um ser humano inteiro, presente, ativo, dinâmico, em movimento, em ação, em constante vir-a-ser, que cria novas maneiras de perceber o mundo e pensar a experiência humana - experiência material do ato de existir.
O ator - é ele mesmo, obra de arte viva. Por isso a necessidade, cada vez maior, em trabalhar o seu instrumento artístico, ou seja, seu corpo, sua voz, seus afetos, suas relações, seu conhecimento, sua criatividade e sensibilidade. Uma formação constante e sistemática, um laboratório de pesquisa, experimentação e conhecimento. Eis a busca desses grandes mestres, que vêm revolucionar a arte teatral, tornado-a real sem ser realista, unindo disciplina e espontaneidade, técnica e fluidez de vida, corpo e mente, matéria e espírito.
A partir destas observações, ele estabelece um conjunto de preceitos, que foram ensinados entre 1839 a 1859, em Paris, no curso chamado "Curso de Estética Aplicada", em que participaram pintores, escritores, compositores, advogados, padres, atores e cantores.
Delsarte dizia: "O gesto é mais que o discurso. Não é o que dizemos que convence, mas a maneira de dizer. O gesto é o agente do coração, o agente persuasivo. Cem páginas, talvez, não possam dizer o que um só gesto pode exprimir, porque num simples movimento, nosso ser total vem à tona, enquanto que a linguagem é analítica e sucessiva."
Os dois princípios fundamentais da teoria de DELSARTE são:
DELSARTE distingue ainda três tipos de movimento:
As oposições - os movimentos de oposição são aqueles nos quais duas partes do corpo se movem ao mesmo tempo, mas em sentidos opostos. "A oposição dá a um movimento sua expressividade máxima. Se para afirmar ou convencer levamos nosso braço e nossa mão à frente, o gesto é fraco, mas se, ao mesmo tempo, fizermos com o rosto um movimento para trás e recuarmos um ombro ou mesmo a cabeça, o gesto alcança toda sua intensidade, seu realce, sua autoridade." É o princípio da assimetria - uma lei estética bastante comum à qual muitos artistas recorreram, como Miguel Ângelo na sua pintura da Capela Sistina (os movimentos de Deus dando vida a Adão e de Adão, recebendo-a, nos mostra esta dinâmica da oposição). A tensão das energias e o impulso da decisão são expressos quando se desenvolve, ao máximo, esta oposição de movimentos da qual todo o corpo participa.
Exercícios sobre os tipos básicos de oposição,
tirados do livro de Alfonse Giraudet (1895),
um aluno de François Delsarte.
O Paralelismo - é quando duas partes do corpo se movem ao mesmo tempo e na mesma direção. "O paralelismo indica a fraqueza. É o gesto da súplica e da oferenda."
As Sucessões - são movimentos que percorrem o corpo todo e acontecem em cada músculo, cada osso, cada articulação. "Eles são a forma privilegiada para expressar emoções." Analisando várias seqüências de movimento, Delsarte assinalou que, no teatro, o gesto deve preceder a palavra. Ele diz que a sucessão fundamental é a que, partindo do tronco, põe em movimento o ombro, depois o braço, o cotovelo, o antebraço, o pulso, a mão e os dedos, sendo que o impulso central mobiliza o corpo inteiro por ondas sucessivas, rigorosamente dirigidas e controladas.
Ilustração de certas fases do método currítmico de Dalcroze: a "antecipação" de movimentos é
claramente visível; os movimentos começam numa direção que é oposta à sua direção final. A
pesquisa feita por Emile Jacques-Daslcroze (1865-1900) sobre ritmo e movimento teve
considerável influência no teatro e especialmente na dança moderna, no fim do século XIX.
Dalcroze fala da unidade física e espiritual que a igreja destruiu, induzindo o homem a desprezar o corpo e a ver a beleza somente no espírito, no abstrato: "é preciso estabelecer comunicações rápidas entre o cérebro que cria e analisa e o corpo que executa. É preciso reforçar a faculdade de concentração, é preciso canalizar as forças vivas do ser humano, disputá-las com as correntes inconscientes e orientá-las para um alvo que é a vida ordenada, inteligente e independente."
Os exercícios desenvolvidos por Dalcroze são embasados na respiração. Com acompanhamento do piano, desenvolve exercícios de flexibilização, rotação, centra os pontos de partida do gesto, exercita os alunos a cantarem em ritmos cada vez mais difíceis e em todas as posições, possibilitando a descoberta do senso ritmo muscular, "que faz de nosso corpo o instrumento em que se representa o ritmo, onde os fenômenos do tempo se transformam em fenômenos do espaço."
Buscar uma disponibilidade corporal e espiritual - este foi o objetivo de Dalcroze. "Ritmo é ordem e movimento - a expressão da necessidade mais íntima, da aspiração mais secreta. Espiritualizar o que é corporal e encarnar o que é espiritual."